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Filmagem de estupro coletivo no PI foi 'brincadeira', dizem acusados à polícia

Aliny Gama

Colaboração para o UOL, em Maceió

17/06/2016 18h35

Uma "brincadeira" para exibir para os amigos. Essa foi a justificativa que os acusados de estupro coletivo no Piauí deram a policiais civis em um primeiro depoimento. Quatro homens foram presos nesta semana por suspeita de terem participado de abuso sexual contra uma jovem de 21 anos na cidade de Sigefredo Pacheco, região norte do Estado. Um suspeito está foragido.

Segundo o delegado regional de Campo Maior, Laércio Evangelista, que investiga o caso, os acusados contaram que filmaram o crime para exibir a “brincadeira” para alguns amigos.

As imagens de um dos vídeos mostram a mulher deitada no banco de um carro, desacordada, enquanto um grupo de homens a tocava na região da cintura. O crime ocorreu no último dia 3 e as prisões, quinta-feira (16).

As imagens foram parar em grupos do aplicativo WhatsApp no último sábado (11). Este é o terceiro caso de abuso sexual e estupro coletivo ocorrido no Estado em menos de um mês.

A jovem estava em uma festa no assentamento Santo Antônio de Campo Verde, zona rural, quando tomou bebida alcoólica oferecida por um dos acusados. Segundo ela, depois de beber, ela ficou tonta e ela não se lembrou do que aconteceu em seguida. A vítima contou à polícia que acordou já em casa.

O delegado Evangelista informa que acusados presos admitiram que tocaram nas partes íntimas da vítima mesmo sem o consentimento dela e que sabiam que ela estava desacordada.

"Confessaram o crime e se mostraram arrependidos. Filmaram porque estavam brincando e na algazarra começaram a tocar nas partes íntimas da vítima. Apesar de perceberem que a jovem estava desacordada - porque estava completamente embriagada -  eles continuam os atos libidinosos”, disse o delegado.

O estupro coletivo foi presenciado por uma amiga da vítima, segundo a polícia, e a jovem nada fez para impedir o crime. “Essa amiga da vítima manteve relação sexual com um dos rapazes dentro de uma casa no assentamento, enquanto a vítima estava desacordada numa cama. Depois eles a colocaram em um carro e a levaram para casa. Antes disso, porém, cometeram o abuso e amiga ficou olhando”, afirmou Evangelista.

A amiga da vítima, que não teve o nome informado, prestou depoimento e poderá ser indiciada por coautoria no estupro coletivo. O delegado afirmou que os depoimentos dos acusados, da vítima e da amiga dela indicam que realmente houve um crime, e que a participação de cada um está caracterizada.

Os acusados deverão ser indiciados por estupro coletivo e difamação. Caso sejam condenados, eles podem pegar penas que variam de 8 a 15 anos de reclusão em regime fechado.

A polícia informou que ainda está colhendo depoimento de algumas testemunhas para concluir o inquérito. O prazo para conclusão das investigações é de 30 dias.

 

 

 

Terceiro caso em menos de um mês

No dia 7 de junho, uma garota de 14 anos foi estuprada por quatro homens em um banheiro de uma quadra de esportes na cidade de Pajeú do Piauí, região sul do Estado.

No dia 20 de maio, uma garota de 17 anos foi encontrada desacordada dentro de uma construção abandonada na cidade de Bom Jesus, região sul do Estado.

A vítima estava com a calcinha amarrada à boca.  Quatro pessoas são acusadas do crime, sendo três adolescentes e um jovem de 18 anos. Apenas o maior de idade está preso. Os três adolescentes foram apreendidos, mas uma decisão judicial determinou a libertação.

Histórico de barbárie

Um caso mais grave e violento ocorreu em 27 de maio de 2015, na cidade de Castelo do Piauí, região norte do Estado. Quatro adolescentes com idades entre 14 e 17 anos foram atacadas quando estavam subindo o Morro do Garroto, ponto turístico da cidade, para tirar fotos.

Segundo a polícia, elas foram dominadas, estupradas, arrastadas e jogadas de cima de um penhasco da altura de um prédio de três andares. Caídas, ainda foram apedrejadas. Uma delas morreu.

Os quatro adolescentes e um adulto, Adão de Sousa Silva, de 41 anos, foram apontados como autores do crime. Todos negaram ter participado do estupro coletivo. 

Os adolescentes foram julgados e condenados à reclusão em regime fechado para cumprimento de medidas socioeducativas. Um deles, de 17 anos, foi assassinado dentro do alojamento logo depois de receber a condenação.

No último dia 3, o Tribunal de Justiça do Piauí julgou o pedido de apelação da defesa dos menores, que alegou inocência do grupo no crime. A condenação foi mantida -- os menores ficarão no máximo três anos em regime de internato, conforme determina o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente). Caso a Justiça avalie que eles não foram ressocializados durante esse período, eles podem ficar internados até atingirem a idade de 21 anos.

Preso há um ano na penitenciária de Altos, Adão José de Sousa Silva ainda não foi julgado. O Ministério Público pediu a pena máxima de 151 anos e dez meses de prisão em regime fechado. Ele negou o crime, mas exames de DNA apontaram que havia a presença de sêmen de Silva nas amostras colhidas nos corpos das vítimas, segundo o Ministério Público do Piauí.