Após morte de Fat Family, tráfico fecha comércio em ruas da zona sul do Rio
Aos pés do morro Santo Amaro, no Catete, zona sul do Rio de Janeiro, os estabelecimentos comerciais começaram a fechar as portas por volta das 12h desta segunda-feira (26). A cena incomum surpreendeu os moradores. Quando procuravam saber o motivo, eram informados, discretamente, que a ordem partiu de traficantes da favela vizinha, cujo "chefe", conhecido como Fat Family, foi morto por policiais civis nesta manhã, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio.
O fechamento do comércio atingiu ruas como a do Catete, Pedro Américo e Bento Lisboa, no Catete, e a Benjamin Constant e Santo Amaro, na Glória. A região, onde está situada a 9ª Delegacia de Polícia (Catete), teve o policiamento reforçado pelo 2º BPM. A comunidade é patrulhada desde maio de 2012 pela Força Nacional, em operação denominada "Pacificação 2".
O aposentado Paulo Júnior, 70, mora na rua Santo Amaro, por onde é possível entrar na comunidade, há pouco mais de duas décadas. "Antigamente tinha muito crime por aqui, mas já tem tempo que não acontecia de fecharem o comércio", lembra o morador, que não soube citar a última vez que presenciou um episódio com o de hoje na região. "Isso é coisa da década de 90."
Morando há um ano e meio da rua Pedro Américo, que também dá acesso ao morro, a psicóloga Daniela Machado, 36, conta nunca ter visto o comércio fechado a mando do tráfico na área. Por volta das 14h, ela saiu para fazer compras e se deparou com as lojas fechadas. "Até ouvi alguns tiros hoje de manhã, mas pensei que era por causa da chega de drogas, como dizem que acontece", contou.
A reportagem tentou conversar com comerciantes que cumpriram as ordens dos traficantes, mas nenhum deles quis se identificar, por temer represálias. Sob anonimato, um deles afirmou que recebeu o aviso por telefone. "É um prejuízo para gente, mas não tem como não obedecer", declarou, a poucos metros de onde estavam dois policiais militares armados. "Ordem é ordem, né?", comentou outro, que disse temer ser alvo de depredações.
Um funcionário de um restaurante que se manteve aberto na rua do Catete, a algumas quadras da rua Pedro Américo, contou, por volta das 14h30, que ainda não havia recebido o recado sobre o toque de recolher. "Se mandarem, fecho na hora. Soube de um hortifruti mais perto da entrada do morro que se negou a fechar e vieram uns homens armados para reforçar", disse.
Para um jornalista israelense, que mora na rua Santo Amaro desde o ano passado e pediu para não ser identificado, foi difícil entender o que estava acontecendo a poucos metros de casa. "Que estranho. Mas foi a polícia que mandou?", questionou, confuso.
Quando voltava da faculdade para casa, na Glória, o estudante Vinicius Melo, 26, foi alertado por telefone pela mãe sobre a repercussão da morte de Fat Family no bairro em que mora desde que nasceu. "Só vi aqui isso no começo dos anos 2000."
Morte de Fat Family
O traficante Nicolas Labre Pereira de Jesus, 28, mais conhecido como Fat Family, foi morto por agentes da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais) da Polícia Civil do Rio na manhã desta segunda-feira, pouco mais de três meses depois de ser resgatado por 25 bandidos armados com fuzis e pistolas que invadiram o hospital municipal Souza Aguiar, no centro da capital fluminense, no último dia 19 de junho.
Fat Family estava escondido na localidade conhecida como Itaóca, no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo. Segundo a Polícia Civil, as informações preliminares são de que outros dois criminosos também morreram na operação, mas até as 11h20, ainda não se sabia a identidade deles. As investigações indicaram que o traficante estava em uma favela do município dominada pela facção criminosa Comando Vermelho. Há pelo menos duas semanas, policiais vinham realizando operações na região.
O traficante era líder da facção na comunidade do Santo Amaro, no Catete, na zona sul do Rio. Na ação criminosa que resultou no seu resgate, houve troca de tiros e um paciente morreu. Outros dois homens ficaram feridos. Mesmo ferido com um tiro no rosto e com o peso estimado em cerca de 150 quilos, conseguiu fugir. Logo após o episódio, a prisão de Fat Family foi classificada como uma "questão de honra" pelo delegado Rivaldo Barbosa, diretor da Divisão de Homicídios da Polícia Civil.
Fat Family era irmão de Marcos Antônio Firmino da Silva, o My Thor, 46, um dos líderes do CV, conhecido por usar um machado para decapitar suas vítimas. Preso na penitenciária de segurança máxima de Catanduvas (PR), ele deve cumprir 19 anos de prisão. Fat Family era acusado de chefiar o tráfico no lugar de My Thor.
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