Polícia reduz gasto com materiais em 57%, e delegacias do Rio ficam em situação precária
Com o agravamento da crise financeira do Estado, a Polícia Civil do Rio de Janeiro reduziu em 56,7% os gastos com materiais de consumo entre 2014 (último ano da gestão Cabral) e 2016. Os gastos incluem a aquisição de papel, artigos para limpeza e higiene, combustível para os carros e produtos químicos usados em perícias. Os dados são do Portal da Transparência.
Em 2014, a corporação usou R$ 8.731.991,72 na aquisição de materiais de consumo, no período entre janeiro e outubro. Neste ano, no mesmo período, os valores pagos nesses produtos caiu para R$ 4.956.739,88.
O corte desses gastos é percebido nas delegacias de polícia, que sofreram com a falta de itens básicos no decorrer deste ano.
Na 19ª Delegacia de Polícia (Tijuca), na zona norte do Rio, por exemplo, um agente contou que os policiais têm economizado papel usado nos boletins de ocorrências para imprimir pelo menos a via dos usuários.
“O problema não é só o papel A4. Tem também a falta de papel higiênico, e o banheiro fede mais que de rodoviária. Isso é humilhante para a gente e para a população”, afirmou o agente, que pediu para não ser identificado. O banheiro da 19ª DP não tinha papel higiênico, sabonete e papel toalha na última semana, quando a reportagem do UOL esteve no local.
Diante da situação de penúria, o governo do Rio fez na última terça-feira um chamamento público para convocar empresas interessadas em fazer doações e prestar serviços para a Polícia Civil sem qualquer contrapartida da corporação.
O documento, publicado no Diário Oficial, apela para a "responsabilidade social das empresas privadas" e argumenta que a segurança pública é "tratada constitucionalmente como responsabilidade do Estado, mas é dever de todos".
Este tipo de iniciativa não é novidade no Rio. Em março deste ano, os moradores da zona sul da capital fluminense passaram a fazer doações para a 9ª Delegacia de Polícia (Catete). A vizinhança ofereceu donativos de canetas, clipes, tinta de impressora e papel higiênico.
“A gente chegou a um ponto em que não dava para registrar os boletins de ocorrência. Sem a ajuda da população a situação estaria muito pior”, contou um escrivão da 9ª DP.
O diretor financeiro do Sindicato dos Policiais Civis do Estado do Rio, Fernando Bandeira, lembra que, no interior do Estado, é comum a ajuda dos comerciantes às delegacias.
“O ideal é que o governo desse todas as condições para a Polícia Civil fazer seu trabalho, mas a realidade é que a carência de recursos resulta em menos qualidade nas investigações, baixa taxa de resolução dos casos”, criticou.
Nem mesmo as delegacias especializadas escaparam dos cortes. O presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia Civil do Rio, Rafael Barcia, lembrou que faltou até luminol (produto químico usado em perícias) para as equipes no primeiro semestre deste ano.
“Luminol é um produto barato e básico para atividade policial, que é de investigação. É inadmissível que dentro de um orçamento milionário a Polícia Civil sofra com falta de itens como esse”, afirmou.
De janeiro a outubro de 2014, a Polícia Civil gastou R$ 1.116.468.845,17 (equivalente a R$ 1.330.689.853,43 em valores corrigidos pelo IPCA). Neste ano, no mesmo período, foram gastos R$ 1.122.212.289,46.
A Polícia Civil informou, em nota, que não tem autonomia financeira para determinar os cortes, mas admitiu que houve redução orçamentária. A corporação não fez comentários sobre o impacto na qualidade do serviço prestado à população.
Austeridade e invasão
O Governo do Estado anunciou, na última semana, um pacote de medidas de austeridade com iniciativas impopulares como a elevação da contribuição previdenciária de servidores ativos, inativos e pensionistas para 30% dos salários. O objetivo, segundo o governo, é reequilibrar as contas públicas e superar o estado de calamidade, decretado em junho.
Com isso, milhares de servidores das forças de segurança pública, reunidos sob sol forte em um protesto que durou mais de sete horas, fizeram do ato um recado aos deputados estaduais da Alerj (Assembleia Legislativa do Estado) invadindo o prédio por duas horas.
Isso porque, segundo o presidente da Casa, Jorge Picciani (PMDB), os parlamentares fluminenses vão iniciar no próximo dia 16 as discussões sobre o pacote de medidas de austeridade enviado pelo Governo do Estado ao Legislativo estadual na última sexta (4).
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