1 ano após desastre, turismo ainda vive crise em Mariana (MG) e Linhares (ES)
O rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), considerado o pior desastre ambiental do país, ainda afeta o turismo na cidade histórica mineira e na praia de Regência, distrito de Linhares (ES), passados 12 meses da tragédia que deixou 19 mortos.
Desde o acidente, no dia 5 de novembro de 2015, a administração de Mariana diz vir trabalhando para acabar com boatos de que o centro histórico da cidade tenha sido afetado pela lama. "A principal estratégia se deu no sentido de reverter a imagem negativa de que a cidade havia sido destruída. Continuamos nos esforçando nesse sentido. Percebemos que, após um ano, esse trabalho vem surtindo efeito."
Além dos impactos ambientais dos rejeitos de minério de ferro, o cenário econômico desfavorável é outro fator que atrapalha a volta à normalidade para quem vive às custas dos viajantes.
"O fluxo turístico da cidade caiu, o que pode ser comprovado pela baixa ocupação registrada pelos meios de hospedagem. No entanto, essa queda é refletida também por outros fatores, como a crise econômica brasileira", afirma o secretário de Turismo de Mariana, José Luiz Papa.
O presidente da Associação do Circuito Turístico do Ouro em Minas Gerais Ubiraney de Figueiredo Silva, por sua vez, lembra outros fatores para explicar a evasão de turistas de Mariana e a queda de faturamento. "Essa tragédia veio no pior momento, porque a queda de arrecadação do município já vinha sendo afetada pela baixa do preço do minério de ferro no exterior", diz.
Segundo o executivo, o desaquecimento do turismo também atrapalha outras cidades próximas. "Para a região, é muito importante que o turismo se restabeleça em Mariana, porque, apesar de Ouro Preto ter mantido o fluxo de turistas, não interessa para nós somente o turismo em Ouro Preto. Interessa que o turista visite as demais cidades da região."
Para o presidente do Circuito do Ouro de Minas Gerais da ABIH (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis), Antonino Tavares dos Santos, a crise econômica brasileira afetou o segmento mais do que qualquer outra questão. Santos, no entanto, disse acreditar que o pior da crise já tenha passado.
"O impacto é agora na questão da crise econômica brasileira. A rede hoteleira foi prejudicada. Por outro lado, temos que incentivar as pessoas a voltarem a viajar. O segmento está, aos poucos se recuperando, já parou de cair tanto, mas precisa ser mais acelerado esse processo de recuperação."
Mudança de perfil
Impacto semelhante aconteceu em Regência, famosa por ser destino turístico sobretudo de surfistas. Para o secretário de Turismo do Espírito Santo, José Sales Filho, com as informações negativas do impacto do desastre sobre o litoral capixaba, houve um reflexo imediato no turismo.
"Logo no início do verão de 2015/2016, com as notícias de que mais de 400 quilômetros de praias capixabas haviam sido contaminados, houve um refluxo do número de turistas. Tanto é que iniciamos imediatamente a campanha 'Tá Dando Praia', para explicar que o litoral do Estado não havia sido atingido dessa forma", afirma o executivo.
Sales Filho explica que essa situação foi contornada em parte por uma mudança no perfil de turistas no verão. "O problema maior causado pela lama foi em Regência. A lama impediu a continuação da prática do surfe. Mas o município está dando a volta por cima. A alternativa foi mudar", diz.
Ele explica que moradores e visitantes habituais de Regência, apoiados por organizações não governamentais e órgãos públicos, alteraram o calendário de atividades no distrito, incorporando música, gastronomia e celebrações históricas, o que tem movimentado o turismo em Linhares. O visitante ampliou seus gastos médios em cerca de 40%, e o tempo de permanência do viajante passou de nove dias, também em média, para 11 dias.
"Como Regência é um point de surfistas e artistas, conhecido internacionalmente, houve muita solidariedade, sobretudo por causa das questões ambientais. A necessidade de melhorar a autoestima fez ainda com que a população ficasse muito unida nessa situação. Isso acabou fazendo com que as coisas acontecessem", afirma. "Qualquer retração no turismo está relacionada à retração econômica do país, mais do que qualquer outra coisa."
O vice-presidente da Fecomércio (Federação do Comércio, Serviços e Turismo) do Espírito Santo, João Elvécio Faé, avalia que como "as duas tragédias vieram juntas", o desastre de Fundão e a recessão na economia brasileira, é difícil apontar as causas da retração no turismo do Estado.
"As notícias ruins do desastre e a recessão vieram e, concomitantemente, tiveram impactos no verão de 2015/2016. Houve um recuo no número de turistas, que esperamos que não se repita neste verão", afirma o executivo.
Para Faé, como a lama de rejeitos de minério atingiu pontualmente o Estado, sobretudo no município de Linhares, a expectativa é que os possíveis estragos da tragédia de Mariana exclusivamente em relação ao turismo capixaba já tenham sido eliminados.
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