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Irmã de ambulante morto critica falta de ajuda ao irmão e o exalta: "é um herói"

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

28/12/2016 20h10

A irmã do ambulante Luiz Carlos Ruas, 54, morto no último domingo após ser brutalmente espancado na estação Pedro II do Metrô de São Paulo, acompanhou nesta quarta-feira (28) a prisão dos dois suspeitos, Alipio Rogério dos Santos e Ricardo do Nascimento. Para Maria de Fátima Ruas, o irmão apenas fez "o que ninguém hoje é capaz de fazer no Brasil".

“O que aconteceu com ele é um retrato do país: ele defendeu uma pessoa independente da orientação sexual dela, foi agredido e ninguém foi capaz de apartar a crueldade dos homens que o atacaram”, lamentou Maria de Fátima Ruas, 53, ao UOL.

 O crime aconteceu na noite de Natal. Ruas não resistiu aos golpes e à demora para ser atendido e morreu no local do ataque, a área interna da estação. Em nota, ontem, a Companhia do Metropolitano admitiu que não havia agentes de segurança no local, no momento do crime, porque eles atendiam em outras duas estações vizinhas. Por outro lado, a empresa considerou ser suficiente a quantidade desses profissionais no quadro atual de funcionários.

Maria de Fátima foi com familiares hoje à Delpom (Delegacia do Metropolitano), na Barra Funda (zona oeste de SP), acompanhar a chegada dos primos Alípio dos Santos, 26, e Ricardo do Nascimento, 21. Eles são apontados pela investigação policial –a partir da identificação por câmeras de segurança do metrô e do reconhecimento por 14 testemunhas, além de seus próprios depoimentos --como autores da agressão que matou Ruas. O ambulante vendia doces, água e refrigerantes na estação havia pelo menos 20 anos.

 A irmã de Ruas se disse inconformada com a atitude dos dois rapazes presos e com a inércia das pessoas que não intervieram na briga. “Ninguém apartou. Como alguém vê uma coisa dessas, e, com tanta gente que viu, não pôde apartar? Bastava segurar os agressores, não precisava bater neles. Minha filha, mesmo, foi assaltada esses dias no Jabaquara e ninguém a ajudou. Meu irmão, não: ele ajudou uma pessoa. É um herói, merecia ser homenageado”, defendeu, ela que passava o Natal com o irmão todos os anos, mas, nesse, havia viajado com a filha.

Uma sobrinha de Ruas que não quis se identificar desabafou: “Meu tio pagou pela bondade dele. Aliás, a atitude dele deveria ser a de qualquer pessoa: não ver a orientação sexual de quem precisa de socorro”, concluiu. Que lembrança ficará do tio? “A da pessoa boa que ele era. Não só nesse caso, mas sempre –nesse Natal, por exemplo, ele distribuiu marmitas a moradores de rua ali de onde ele trabalhava. Quem faz o que fez com ele não posso dizer nem que é uma pessoa: é uma coisa, talvez. Porque nem animal age assim”, definiu.

Os agressores foram transferidos para o 77º DP, no bairro de Santa Cecília, no final desta tarde, e responderão pelos crimes de homicídio qualificado e lesão corporal. Segundo a Polícia Civil, eles alegaram legítima defesa ao agredir o ambulante, uma vez que Ruas teria dado uma garrafada em um deles, Santos. O primo dele, de manhã, no DHPP, defendeu-se ao dizer que não era “uma má pessoa”, mas se referiu à vítima como “trabalhador, pessoa de bem”.