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"Pegaram meu coração e torceram", diz viúva de ambulante espancado até a morte

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

28/12/2016 15h54

"Estou muito triste. Pegaram meu coração e torceram. Você não pode avaliar o que estou sentindo."

O desabafo é de Maria Souza Santos, 54, que perdeu o marido na noite de Natal por conta de um ataque com socos e chutes que ele sofreu de dois jovens, de 21 e 26 anos, na estação de metrô Pedro II. Vendedor de doces no local havia 20 anos, Luiz Carlos Ruas, 54, foi agredido quando tentava defender uma travesti, moradora de rua, dos dois rapazes.

"Por que fizeram aquilo? O que eles fizeram para um senhor de 54 anos, de cabelo branco, gordo? O que ficou gravado na minha cabeça foi o tombo que ele levou -- já tinham derrubado ele no chão, por que pisaram nele? Não tive coragem nem de ver o rosto do meu marido, porque ficou todo deformado", afirmou a viúva ao UOL.

Maria foi até a Delpom (Delegacia do Metropolitano), onde o principal agressor do marido, Alípio Rogério dos Santos, 26, foi apresentado no começo da tarde desta quarta-feira (28). Ele foi preso em Itaquera (zona leste). Ontem à noite, outro agressor e primo dele, Ricardo Martins do Nascimento, 21, foi preso no interior paulista.

Os dois responderão pelo crime de homicídio qualificado. Uma multidão aguarda os dois presos na área externa da Delpom aos gritos de "assassino" e "justiça". Policiais do GOE e do Garra foram chamados a reforçar a segurança no local para evitar tumultos na saída da dupla ao CDP de Pinheiros.

Colega de Ruas quer falar com agressor

Mais cedo, a companheira de venda de doces de Ruas, Maria Aparecida Cavalcanti, também foi à delegacia --mas ao DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) --tentar falar com Nascimento.

28.dez.2016 - Maria Aparecida Cavalcanti, parceira de trabalho de Luiz Carlos Ruas, fala sobre o colega, ambulante, que foi espancado até a morte na noite do último domingo (25) - NEWTON MENEZES/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO - NEWTON MENEZES/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Maria Aparecida Cavalcanti, parceira de trabalho de Luiz Carlos Ruas, fala sobre o colega
Imagem: NEWTON MENEZES/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
"Ele amava o trabalho dele e não ficava um dia sem trabalhar --e das 6 da manhã às 11 e meia da noite, todo dia. Vou dar continuidade ao que ele gostava de fazer", afirmou.

"Quero falar com ele [Nascimento] e perguntar por que ele fez isso com um trabalhador que não tinha nada a ver [com a discussão entre os rapazes e a travesti, moradora de rua]. Ele se envolveu para defender uma pessoa --não se bate nem agride essas pessoas. Uma delas não tinha nem como reagir, porque é doente", comentou.