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Para tia de homem que matou camelô, crime foi resultado de desilusão e álcool

A vila de casas onde um dos presos pela morte do ambulante morava, no Cambuci, área central de SP - Janaina Garcia/UOL
A vila de casas onde um dos presos pela morte do ambulante morava, no Cambuci, área central de SP Imagem: Janaina Garcia/UOL

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

29/12/2016 19h22

A brutalidade que as câmeras do metrô registraram na noite do último domingo (25), quando Alípio Rogério dos Santos, 26, espancou até a morte o ambulante Luiz Carlos Ruas, 54, na estação Pedro II, foi uma surpresa para a família do rapaz de 26 anos. Segundo uma tia de “Rogério”, como ela se refere, o crime da noite de Natal foi resultado de uma desilusão amorosa tratada com vodca e cachaça.

O ataque ao vendedor de doces aconteceu na estação de metrô Pedro II, região central de São Paulo, com apoio do primo de Santos, Ricardo do Nascimento, 21. Ambos estão presos e responderão pelos crimes de homicídio qualificado e lesão corporal. De acordo com a Polícia Civil, eles agrediram Ruas depois de ele tentar defender uma travesti do ataque dos dois rapazes. A defesa dos presos alega que eles agiram sob efeito de bebida alcoólica e diante de uma suposta garrafada desferida pelo vendedor em Santos.

O UOL conversou com a tia dos dois jovens na vila de casas onde Santos morava, no Cambuci, região central da capital paulista. Além dela, que preferiu não se identificar, vivem lá a mãe, o irmão e os avós do rapaz, que o criaram. O pai, segundo a tia, morreu assassinado em uma briga na rua do Lava-pés, no mesmo bairro, quando Santos tinha seis meses de vida. À exceção do jovem, do irmão e dos primos, o restante da família migrou do Rio Grande do Norte.

“O Rogério nunca foi criminoso, nunca teve esse tipo de comportamento ruim, ele sempre trabalhou. O Ricardo também, mesmo porque, eles eram como irmãos. O Rogério estava junto com uma moça de quem ele gostava, mas ela se separou dele em julho deste ano, e, desde então, ele vinha chateado, bebendo. Tanto que, pelo que a gente soube, ele e o Ricardo, que era muito próximo dele, beberam uns 5 litros de [cachaça] 51 e duas garrafas de vodca no dia de Natal”, afirmou.

Apesar de defender o bom comportamento do sobrinho, ela admitiu que ele destruiu a porta de uma vizinha da vila, também no domingo, depois de a mulher tê-lo lembrado de que a ex-namorada já estava com outro homem. “Ele destruiu a porta dela – porta, aliás, pela qual já pagamos uma nova. Rogério é do tipo que só iria para cima se mexessem com ele”, ressalvou.

Nesta semana, o delegado Osvaldo Nico disse que Santos teria saído nervoso de casa, no domingo, ao se descobrir “vítima de infidelidade” por parte da mulher. Segundo a tia, porém, a namorada terminou o relacionamento com o jovem.

“Eles dois estão presos, mas acabamos ficando meio presos também, porque estamos todos assustados. É complicado”, lamentou. O que a família espera, em termos de ação da justiça, para a situação dos dois jovens e para a família do ambulante? “Não tenho resposta para essa pergunta, moça. Mas espero que um dia a gente tenha paz”, concluiu.

Na vizinhança, moradores não quiseram falar sobre o caso. Alguns comerciantes alegaram receio de represálias.

Comerciante que empregou acusado relata "agressividade sem necessidade"

No bairro da Liberdade, próximo à casa onde Santos vivia, um comerciante com quem o rapaz trabalhou como segurança durante um ano, até três meses atrás, falou que ele se mostrava agressivo com jovens que ele achasse suspeitos. Sob a condição de anonimato, o comerciante afirmou tê-lo contratado porque “perdi as contas de quantas vezes fui assaltado”.

“Eu pagava a ele R$ 400 por semana para ficar aqui das 19 às 23h, mas ele arrumou outro emprego na cidade e começou a faltar muito. Vinha dia sim, dia não, aí não vingou. Às vezes, ele ficava agressivo, meio que fazendo tempestade em copo d’água, sem necessidade, com uns moleques que achava que representavam algum risco. Ameaçava bater neles sem motivo”, relatou. “Mas ele sempre nos tratou, no comércio, sempre muito bem”, completou.

Como reagiu ao saber que o ex-funcionário havia sido identificado como autor de um homicídio? “Fiquei muito atordoado. Tenho um filho com duas criancinhas e fiquei imaginando: 'E se isso [o espancamento que matou Ruas] acontecesse com meu filho?' Foi um choque”, desabafou.

Santos e Nascimento serão indiciados por lesão corporal e homicídio qualificado. Eles estão presos no 77 DP, na Santa Cecília, até serem transferidos para um presídio. A prisão temporária deles, determinada pela Justiça na última terça, tem prazo de 30 dias prorrogável por mais 30. A Polícia Civil, porém, já informou que pedirá prisão preventiva –de prazo indefinido –deles.