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Crivella faz discurso de austeridade em evento da Cultura, e plateia esbraveja

Crivella brinca com criança durante apresentação de sambistas em evento no Rio - Hanrrikson de Andrade/UOL
Crivella brinca com criança durante apresentação de sambistas em evento no Rio Imagem: Hanrrikson de Andrade/UOL

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

05/01/2017 16h39

O prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB), esteve nesta quinta-feira (5) na apresentação da nova secretária municipal de Cultura, Nilcemar Nogueira, em um evento que lotou o teatro Carlos Gomes, na praça Tiradentes. Em discurso, Crivella afirmou que o momento econômico da cidade pede que os setores ligados à cultura façam "mais com menos".

"Mas eu queria lembrar a vocês de que está no momento de a gente fazer uma cultura de realizar mais com menos. Cultura é troca. Um poeta, um cantor, um escultor, um dançarino, um apresentador... Ele troca a sua arte por um olhar, um sentimento, um aplauso", afirmou.

No entanto, a plateia, formada em sua maioria por artistas, ativistas, sambistas e representantes de movimentos étnicos e culturais, entre outros grupos, não aprovou o tom austero das palavras do prefeito. "Cultura é trabalho!", gritou uma pessoa, seguida de mais intervenções. "Queremos edital", exclamou um homem.

Crivella retomou a palavra e tentou contemporizar: "Cultura é trabalho, esporte, tudo isso."

O político buscou exemplificar o seu raciocínio com uma menção ao próprio evento de apresentação da nova secretária. "Hoje estamos fazendo um espetáculo extraordinário e de valor imensurável, não estamos perdendo em nada para os maiores espetáculos protagonizados na Europa e nos Estados Unidos, e o custo completo desse nosso momento é de: 12 mil reais. O que é extraordinário para nós."

O prefeito também usou a Petrobras e a descoberta do pré-sal como um exemplo negativo de uso da verba pública. E terminou "pedindo a Deus" para que Nilcemar Nogueira possa "guiar" a cultura municipal de modo a "fazer mais com menos".

"Vamos olhar para a nossa cidade para dois polos distintos. A nossa maior riqueza, a Petrobras, que, na descoberta do pré-sal, fez tão pouco com tanto. Vamos olhar para as nossas comunidades diferentes, que, em sua luta diária, faz tanto com tão pouco. A Petrobras precisa aprender com eles, e eles precisam dos recursos que vêm de lá. Essa cultura de a gente fazer mais com menos é o que eu peço a Deus que a Nilcemar possa nos guiar."

Chamada a discursar, a secretária ouviu novas intervenções da plateia, que gritava palavras de ordem em favor de editais e programas de fomento para o setor. "É o início de um governo. O orçamento só vem em março. Eu também sou produtora cultural e nós vamos falar a mesma língua", declarou ela. O público gostou e aplaudiu.

Preconceito

Para Crivella, o encontro promovido nesta quinta também foi "significativo" por representar uma integração entre culturas. Nilcemar é neta de Cartola e dona Zica, o casal mais famoso da história da Estação Primeira de Mangueira, tem uma carreira ligada à defesa do samba e da cultura popular. Por esse motivo, a plateia que compareceu ao teatro Carlos Gomes era um "símbolo de diversidade", como definiu a própria secretária. Compareceram também várias pessoas que atuam contra o racismo, o machismo e a homofobia.

"Estamos fazendo nesse momento um encontro subjetivo, mas muito significativo de culturas que se encontram acima de preconceitos, discriminações e falta de conhecimento e proximidade uns dos outros. O que não deixa de causar tristezas e violências", disse o prefeito.

Polêmica

Questionado sobre a situação do coronel do Corpo de Bombeiros Cláudio Rosa da Fonseca, dispensado dois dias após ser nomeado chefe da Defesa Civil municipal, Crivella afirmou que "esse momento da vida pública" exige medidas radicais em relação ao cumprimento da Lei da Ficha Limpa.

O militar foi condenado, em março do ano passado, por uso irregular de recursos públicos.

"Não faço aqui nenhum juízo de mérito porque é preciso que as pessoas tenham o direito de se defender. O amplo direito de defesa, do contraditório, enfim, são os princípios constitucionais. Mas até que fique isso esclarecido, na vida pública, só ficha limpa e sem processo."

Calero é chamado de golpista

Antes do discurso de Crivella, Marcelo Calero foi chamado ao microfone e apresentado pela atriz Adriana Lessa, mestre de cerimônias do evento, como o "ministro da Cultura". A situação gerou certo constrangimento, pois Calero pediu demissão do cargo em novembro do ano passado, depois de afirmar que havia sido pressionado pelo ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB) a produzir um parecer técnico para favorecer seus interesses pessoais. O caso teve grande repercussão e gerou um escândalo institucional para o presidente Michel Temer (PMDB).

Depois que Calero começou a falar, ouviram-se de parte da plateia gritos de "golpista". O ex-ministro chegou a interromper a palavra em alguns momentos, mas conseguiu finalizar o discurso.

Antes de assumir uma pasta no governo federal, Marcelo Calero foi secretário municipal da Cultura na gestão de Eduardo Paes (PMDB-RJ). Atualmente, ele não ocupa nenhum cargo público.