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Nº de acidentes com passageiros na linha amarela do Metrô de SP cresce 33% em um ano

Interior da estação Fradique Coutinho, da linha 4-amarela do metrô - Adriano Vizoni/Folhapress
Interior da estação Fradique Coutinho, da linha 4-amarela do metrô Imagem: Adriano Vizoni/Folhapress

Caio do Valle

Colaboração para o UOL, em São Paulo

16/01/2017 04h00

Aumentou a quantidade de acidentes envolvendo passageiros na linha 4-amarela do metrô paulistano. O ramal, inaugurado em 2010, é o único do sistema concedido à iniciativa privada. Dados da Secretaria Estadual dos Transportes Metropolitanos, obtidos pelo UOL via Lei de Acesso à Informação, mostram que, entre janeiro e outubro de 2016, houve 195 ocorrências na linha, ante 147 no mesmo período de 2015, ou seja, uma variação de 33%. Nas demais cinco linhas da rede, a tendência foi de redução do número de acidentes.

Por “acidente”, o Metrô e a secretaria consideram “as ocorrências que demandam encaminhamento para atendimento médico”.

Com 40 ocorrências nos dez primeiros meses de 2016, a estação Paulista, que se conecta por meio de um túnel à estação Consolação, na linha 2-verde, é a primeira colocada da lista. No mesmo período do ano retrasado, os acidentes no local chegaram a 26.

Em segundo lugar, aparece a estação Butantã, que somou 38 casos no ano passado --17 a mais do que no período de janeiro a outubro de 2015. Essa parada é a última da linha 4 na zona oeste. Nela, há um terminal de ônibus com partidas para outras cidades da região metropolitana.

A estação Pinheiros, que se integra à linha 9-esmeralda da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), vem em seguida: ali, 34 pessoas se machucaram até outubro de 2016, oito a mais do que no mesmo período do ano anterior.

De acordo com a concessionária ViaQuatro, responsável pela operação da linha 4, os acidentes geralmente são quedas, torções e desequilíbrios nas escadas rolantes ou no interior dos trens. Em 2016, quatro acidentes ocorreram dentro das composições. No ano retrasado, não houve nenhum registro dessa natureza.

Segundo a empresa, "todas as ocorrências são consideradas acidentes, independentemente se atendidas na estação ou se encaminhadas para o hospital". Ou seja, o critério diverge do apresentado pela Secretaria dos Transportes Metropolitanos e pelo Metrô, para o qual "acidentes" só são contabilizados nos casos de "usuários que foram encaminhados para atendimento hospitalar".

Estações apertadas

Quem usa a linha 4-amarela de modo rotineiro reclama que as estações são mais apertadas do que as de outras linhas, como a 1-azul e a 3-vermelha (as primeiras da rede, abertas nos anos 1970 e 1980). Os passageiros ouvidos pela reportagem contam que tais características, em sua opinião, tornam as paradas mais propícias para tumultos e acidentes, em especial nos horários de pico.

“Apesar de a linha 4 ser toda bonita e tecnológica, é precária na fluidez das pessoas”, diz o operador de atendimento Lucas Natale, 18. “Como os passageiros têm que entrar e sair pelas mesmas portas, às vezes não dá tempo de todo mundo entrar, e aí vira uma muvuca.”

República - Almeida Rocha - 15.set.2011/Folhapress - Almeida Rocha - 15.set.2011/Folhapress
Catraca na estação República, que integra as linhas amarela e vermelha do Metrô
Imagem: Almeida Rocha - 15.set.2011/Folhapress
Diferentemente de outras estações, como a Sé e a República da linha 3-vermelha, as paradas da linha 4-amarela não possuem plataformas centrais, usadas para o desembarque, enquanto as laterais se destinam apenas para o embarque. Na avaliação do engenheiro e especialista em transportes Peter Alouche, que trabalhou durante décadas no Metrô de São Paulo, “não resta dúvida” de que o emprego de plataformas centrais ajudaria a distribuir melhor o fluxo dos passageiros.

Entretanto, ele explica que a construção da linha 4-amarela, feita pelo governo do Estado, priorizou outros parâmetros, como a redução de custos financeiros e sociais nas desapropriações de imóveis necessários para os poços de escavação --por onde as paradas, que são subterrâneas, foram erguidas.

“Com a arquitetura das estações tomando como premissa a adoção de um ou dois poços verticais de ataque à obra da estação como base do método construtivo, seria muito, muito difícil construir as estações da linha 4-amarela com plataformas centrais para o desembarque dos passageiros e teria um custo muito grande, porque precisaria, na área das plataformas, de um espaço de escavação muito grande, quase o dobro do atual, e um método construtivo especial. É preciso lembrar que a linha 4 foi construída procurando minimizar os custos. Afinal, tinha um financiamento do Banco Mundial que monitorava os custos da obra.”

Os passageiros acabam sendo obrigados a compartilhar os mesmos espaços exíguos para entrar e sair do trem. “Outro dia, vi a porta da plataforma fechar na perna de um homem que não conseguiu entrar direito no trem. Depois, ela abriu de novo e ele conseguiu sair”, afirma a universitária Beatriz Figueira, 25, que usa a linha 4. Ela não sabe se o passageiro sofreu alguma lesão.

Contudo, a estudante diz que há alguns meses quase caiu em outro equipamento relacionado à linha 4, a esteira rolante que liga a estação Paulista à Consolação. “De repente, acho que teve uma queda na energia e a esteira deu um tranco. Todo o mundo se desequilibrou.”

Para Alex Fernandes, diretor do Sindicato dos Metroviários, estações com plataforma central têm um fluxo melhor de usuários. “Gera menor lotação numa única plataforma, facilitando a movimentação das pessoas. Com o mezanino maior também se evita a sobrecarga das plataformas, evitando possíveis conflitos e acidentes”, acrescenta o sindicalista, em menção aos mezaninos (o piso acima das plataformas) da linha 4.

Em casos sérios, quando há lesões, as vítimas costumam acionar a concessionária judicialmente, em busca de reparações por danos materiais ou morais. “Em todo serviço de transporte público, a responsabilidade objetiva é do transportador. Ou seja, se a pessoa sofre um ferimento ou morre nesse transporte, o transportador é responsável pela reparação do dano”, explica Mauricio Januzzi, da comissão de trânsito da OAB-SP (seccional paulista da Ordem dos Advogados do Brasil). “O que a pessoa precisa comprovar é a lesão naquele local, seja por testemunhas, por filmagens das câmeras de segurança ou qualquer outro meio idôneo de prova.”

Linha azul do metrô - Mateus Bruxel/Folhapress - Mateus Bruxel/Folhapress
Trem da linha 1-azul do metrô na estação Armênia
Imagem: Mateus Bruxel/Folhapress
Demais linhas

Nas demais linhas metroviárias paulistanas, houve queda do número de acidentados. Dados fornecidos também pela Lei de Acesso à Informação mostram que, de janeiro a outubro de 2016, houve no sistema 480 casos, cerca de 10% a menos do que os 536 do mesmo período do ano anterior. A linha 1-azul, que tem 23 estações, registrou 149 acidentes, menos do que a linha 4-amarela, que tem 16 estações a menos.

Na linha 2-verde, houve 54 acidentados, ante 60 nos dez primeiros meses de 2015. Por sua vez, a linha 3-vermelha, que conta com um total de 18 estações, contabilizou 235 acidentes, uma queda diante dos 268 do ano anterior. A linha 5-lilás registrou um aumento, passando de 33 para 41 casos. Já o monotrilho da linha 15-prata, aberto à operação comercial em meados de 2015, teve uma só ocorrência, neste ano.

Outro lado

Por meio de nota, a ViaQuatro informou que “transportou com conforto e segurança 167,7 milhões de passageiros de janeiro a outubro de 2016, uma média de 700 mil pessoas em dias úteis”, e que os acidentes registrados “correspondem a 0,0001% desse universo”.

Além disso, o texto diz que os “atendimentos realizados pela concessionária nesse mesmo período são de pequenos acidentes que ocorrem nas escadas rolantes, como quedas, torções e desequilíbrios no interior do trem”.

A concessionária afirmou ainda que “oferece ampla infraestrutura aos passageiros que necessitem de atendimento” e que “possui salas de atendimento de primeiros socorros nas sete estações, equipadas com aparelhos básicos de pronto atendimento e desfibriladores”, além de ambulâncias.

Os agentes de segurança da linha, conforme a empresa, “são treinados em atendimento de primeiros socorros e combate a incêndio”. Já em “caso de necessidade, o passageiro é encaminhado ao hospital público mais próximo”. A ViaQuatro também revelou fazer “campanhas educativas permanentes que incentivam atitudes cidadãs”.

Já o Metrô e a Secretaria Estadual dos Transportes Metropolitanos informaram, também em nota, que o índice de acidentes “é extremamente baixo, de 0,64 ocorrências por milhão de passageiros transportados” e que, nos últimos anos, “apesar de constante aumento no fluxo de usuários, esse índice vem caindo”.

Sobre as características das estações da linha 4-amarela, a pasta disse ainda que os “projetos de arquitetura das estações de metrô buscam o atendimento às necessidades operacionais do sistema de transporte, com segurança, conforto, qualidade e adequada inserção urbana” e que o “dimensionamento das instalações são definidos em função das estimativas de demanda de usuários de cada estação, estabelecidas a partir das pesquisas de origem e destino”.

Ainda conforme o Metrô e a secretaria, os projetos das estações das linhas metroviárias, inclusive da linha 4, “são feitos segundo as melhores técnicas de engenharia e em obediência às normas técnicas pertinentes ao assunto” e que, “em nenhum momento, há descuido com a fluidez dos usuários”.

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