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Governo do RN transfere presos de facção e coloca detentos "neutros" em Alcaçuz

Fabiana Maranhão e Carlos Madeiro

Do UOL, em São Paulo e Colaboração para o UOL, em Nísia Floresta (RN)

18/01/2017 19h33Atualizada em 18/01/2017 21h57

O governo do Rio Grande do Norte realizou uma espécie de 'intercâmbio' de detentos entre unidades prisionais nesta quarta-feira (18) em meio à atual crise carcerária.

Ao menos 220 presos foram retirados na tarde de hoje da Penitenciária Estadual de Alcaçuz, em Nísia Floresta, na Grande Natal, e levados para a Penitenciária Estadual de Parnamirim, também na região metropolitana da capital.

Segundo o secretário de Segurança Pública do Estado, Caio Bezerra, os internos ocupavam os pavilhões 1 e 2 e eram ligados principalmente à facção Sindicato do Crime.

"A operação foi muito bem-sucedida. Não houve resistência por parte dos presos. Fizemos revista em todos os pavilhões e localizamos armas de fogo, colete à prova de bala e grande quantidade de armas brancas", detalhou.

Em contrapartida, 230 presos de outros presídios foram levados para Alcaçuz. "[Fizemos isso por causa da] dificuldade de vagas que nós temos dentro do sistema", explicou Bezerra.

De acordo com ele, esses detentos não pertencem a nenhum grupo criminoso. "Trouxemos para Alcaçuz presos de posição neutra e acreditamos que, com isso, a unidade poderá ficar mais tranquila", declarou.

Por volta das 18h30 (horário local), saíram do presídio os seis ônibus sob um forte aparato de segurança. Os veículos foram muito aplaudidos pelas famílias que os aguardavam do lado de fora.

"A retirada dos presos foi absolutamente tranquila, não houve um disparo só de arma de fogo. Os presos não fizeram nenhuma resistência, tudo na maior tranquilidade. Ninguém ficou ferido", disse o major Eduardo Franco, que supervisionou a retirada dos detentos.

"O Sindicato [do Crime] sai enfraquecido porque deixaram o PCC em maioria agora. O que o governador dez hoje foi uma negligência", disse uma esposa de preso.

Segundo apurou o UOL com  presos e com um agente, o sindicato teria entre 500 e 700 presos ligados à facção. "Não retiraram todos, deixaram muitos agora expostos", completou outra mulher de detento.

Governo nega acordo com PCC

O secretário de Segurança Pública negou que tenha havido acordo com o PCC (Primeiro Comando da Capital) em relação à transferência dos presos.   

"Foi uma decisão estratégica. O pavilhão 5 [onde ficam os presos ligados ao PCC] fica no final de Alcaçuz, o que dificultaria a logística da operação. Optamos por retirar os presos dos pavilhões 1 e 2 [ligados ao Sindicato do Crime], mais próximos da saída", explicou.

Ainda segundo Bezerra, havia informações, "de uma retaliação que estava sendo preparada de forma avançada pelos presos dos pavilhões 1 e 2 contra o pavilhão 5".

No último fim de semana, uma rebelião em Alcaçuz, a maior unidade prisional do Estado, terminou com ao menos 26 internos mortos. Eles eram ligados à facção Sindicato do Crime.

Tropa de Choque da PM entra no presídio de Alcaçuz

AFP

Protesto

Parentes dos presos que foram transferidos de Alcaçuz protestaram na tarde de hoje na rua de dá acesso à penitenciária.

Cerca de 15 mulheres, com os rostos cobertos, incendiaram sofás, pneus e pedaços de madeira e bloquearam a via. A polícia dispersou o grupo com tiros de bala de borracha e spray de pimenta.

Após a ação da PM, uma mulher chegou a desmaiar e foi amparada por parentes de detentos. Grávida, ela começou a ter convulsões e foi socorrida pelo Samu.

Identificação


O Itep-RN (Instituto Técnico-Científico de Perícia) identificou 16 corpos - dentre os 26 retirados da penitenciária de Alcaçuz - com a realização de exames papiloscópicos. O trabalho de identificação dos corpos iniciou na última segunda-feira (16).

Os corpos dos presos assassinados estão mantidos em um caminhão frigorífico que está estacionado no batalhão da Polícia Militar. O veículo foi alugado pelo governo do Estado porque o Itep não possui câmeras frigoríficas para manter a quantidade de corpos dos presos até a realização da necropsia e liberação dos corpos para enterro.

Os presos foram identificados como: Eduardo Reis; Charmon Chagas da Silva; Diego Felipe Pereira; Lenílson de Oliveira Pereira da Silva; Marlon Pietro do Nascimento; Cícero Israel de Santana; Felipe René Silva de Oliveira; Willian Andrei Santos de Lima; Tarcisio Bernardino da Silva; Antonio Barbosa do Nascimento Neto; Jefferson Souza dos Santos; Jefferson Pedroza Cardoso; Anderson Barbalho da Silva; George Santos de Lima; Diego de Melo Ferreira e Luiz Carlos da Costa. (*Colaborou Aliny Gama, de Maceió)