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Mais de 6h após rebelião em Bauru (SP), governo diz que 152 presos fugiram

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Presos colocaram fogo em colchões e fizeram agentes penitenciários de reféns
Imagem: Repórter na Rua

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

24/01/2017 14h46Atualizada em 24/01/2017 19h07

Mais de seis horas após o início de uma rebelião no Centro de Progressão Penitenciária (CPP3) "Prof. Noé Azevedo", em Bauru (349 km de São Paulo), a SAP (Secretaria da Administração Penitenciária) confirmou ao UOL, por meio de nota enviada às 14h30, que 152 presos fugiram durante o motim. Mais tarde, às 18h50, a SAP informou que 100 já haviam sido recapturados. A unidade, segundo o Sindasp (Sindicato dos Agentes Penitenciários do Estado de São Paulo), é dominada pelo PCC (Primeiro Comando da Capital). Destinada a detentos do regime semiaberto, ela tem capacidade para 1.124 presos, mas abrigava 1.427 até hoje.

O número oficial ficou abaixo da estimativa inicial de cerca de 200 foragidos fornecida mais cedo pelo Copom (Centro de Operações da Polícia Militar). De acordo com a SAP, a confusão teve início às 8h durante uma revista de rotina na qual um agente penitenciário teria surpreendido um preso usando um celular.

"A situação foi rapidamente controlada pelo Grupo de Intervenção Rápida, enquanto que a Polícia Militar atua na recaptura dos evadidos. Não houve reféns. Todos os presos envolvidos no episódio e os apreendidos regredirão ao regime fechado”, informou a secretaria, segundo a qual a situação foi contida às 11h30.

"Ressalvamos que as unidades de regime semiaberto, conforme determina a legislação brasileira, não dispõem de muralhas nem segurança armada, sendo cercada por alambrados. A permanência do preso nesse regime se dá mais pelo senso de autodisciplina do preso do que a mecanismos de contenção. Os presos que cumprem a pena em regime semiaberto podem obter permissão para trabalhar e estudar fora da unidade penal e pela Lei de Execução Penal poderão visitar os familiares em cinco ocasiões do ano”, diz trecho da nota.

A unidade prisional é o antigo Instituto Penal Agrícola de Bauru e está localizada em uma área rural, do tipo fazenda, de 240 alqueires. De acordo com a SAP, atualmente, 208 presos trabalham fora da unidade, em atividades externas, outros 65 atuam em empresas dentro da unidade, e 358 trabalham em atividades de manutenção do próprio presídio.

Tensão nos presídios não é de hoje

Conforme o presidente do Sindasp, Daniel Grandolfo, o presídio é dominado pela facção criminosa PCC. "A princípio, os presos teriam se rebelado contra as regras impostas pelo diretor de disciplina da unidade, que retornou de férias hoje. Eles reclamam que ele é muito rígido", explicou.

Para o diretor de Formação Sindical do Sifuspesp (Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional do Estado de São Paulo) e diretor de comunicação da Fenaspen (Federação Nacional dos Agentes Penitenciários), Fábio Jabá, a tensão nos presídios paulistas, sobretudo os da região do Vale do Paraíba, não é de hoje.

"Os servidores estão, a cada cinco dias, sendo agredidos. Já tivemos quatro servidores agredidos por presos este ano", disse Jabá. Ele ressaltou que a superlotação dos presídios e a falta de funcionários têm prejudicado a segurança nos centros de detenção.

Em função das precárias condições de trabalho, a Fenaspen estuda realizar uma paralisação nacional e entrar em estado de greve, de acordo com Jabá. O tema será decidido no dia 9 de fevereiro.

Rebelião teve fogo em colchões

Mais cedo, a PM de Bauru informou que presos colocaram fogo em colchões para facilitar a fuga e que o primeiro alerta sobre a fuga havia sido dado por motoristas dos ônibus que fazem o transporte desses presos --eles perceberam algo estranho ao serem informados que os detentos não iriam para o trabalho hoje.

A unidade prisional fica a cerca de cinco quilômetros da cidade, às margens da rodovia João Ribeiro de Barros, conhecida como Bauru-Marília (SP-294). Está localizada próxima ao Distrito Industrial 3. A PM de Bauru solicitou apoio de outras cidades e do helicóptero Águia para o patrulhamento aéreo.

Conforme a PM, detentos armados com facas, revólveres e machado teriam abordando motoristas que passavam de manhã pela rodovia para roubar o carro e facilitar a fuga. A avenida Nações Unidas, uma das principais vias de acesso à cidade, também teria sido utilizada pelos detentos como rota de fuga.

* Com informações de Nathan Lopes, em São Paulo, e Wagner Carvalho, em Bauru (SP)