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Rio registra 6 tiroteios em favelas com UPP em 24 h; média é de 1,3 por dia

9.abr.2015 - Crianças brincam perto de policiais em rua no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro - Fábio Teixeira/UOL
9.abr.2015 - Crianças brincam perto de policiais em rua no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro Imagem: Fábio Teixeira/UOL

Paula Bianchi

Do UOL, no Rio

10/03/2017 17h33Atualizada em 10/03/2017 17h33

Ao menos 6 das 38 favelas do Rio de Janeiro que contam com UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) tiveram registros de tiroteios nas últimas 24 horas. De acordo com o aplicativo Fogo Cruzado, da ONG Anistia Internacional, em janeiro e fevereiro ocorreram ao menos 80 tiroteios em áreas ocupadas pela polícia -- média de 1,3 tiroteio por dia na cidade --, deixando 20 mortos, entre eles quatro PMs, e 27 feridos. 

Em Manguinhos, na zona norte da cidade, um homem morreu durante um confronto entre policiais e criminosos. Ainda foram registrados tiroteios no Complexo do Alemão, também na zona norte, no Pavão-Pavãozinho, na zona sul, no Fallet-Fogueteiro, no centro, e na Vila Kennedy e Cidade de Deus, ambas na zona oeste da cidade.

Segundo o comando das UPPs, policiais da UPP Arará/Mandela foram atacados por criminosos quando patrulhavam um local conhecido como “beco do Mãozinha”, em Manguinhos. Os agentes trocaram tiros com os criminosos e um homem foi baleado. Levado para o hospital, ele não resistiu aos ferimentos.

Nas outras comunidades não há registro de feridos, prisões ou apreensões até o momento. A Coordenadoria de Polícia Pacificadora informou, em nota, que “está trabalhando - através do Setor de Inteligência - para identificar e prender criminosos responsáveis pelos confrontos na comunidade”.

Para o sociólogo e professor do Departamento de Segurança Pública da UFF (Universidade Federal Fluminense) Daniel Misse, o tráfico tem recrudescido e voltaram a ser comuns confrontos entre policiais e criminosos em áreas ocupadas. "A UPP tem se distanciado muito dos moradores, gerando uma ocupação do espaço por antigos traficantes, ainda de forma pulverizada. Os tiroteios retornaram às favelas, mesmo as tidas como modelo", afirma Misse.

Como revelou reportagem do UOL, após passar por uma queda drástica a partir de 2007, ano anterior à implantação da primeira UPP, o número de mortos pela polícia no Estado do Rio de Janeiro voltou a crescer. Nos últimos cinco anos, o número de homicídios decorrentes de oposição à intervenção policial aumentou 120%, e já beira os tempos pré-Polícia Pacificadora.

Em 2016, 920 pessoas foram mortas pela polícia contra 645 em 2015 e 416 em 2013, quando atingiu o patamar mais baixo nos últimos dez anos. Em 2007, 1.330 pessoas foram mortas pela polícia no Estado. No ano seguinte, o governo inaugurou a primeira das 38 UPPs do Rio, no morro Santa Marta, em Botafogo, na zona sul da cidade.

Misse, no entanto, pondera que é difícil precisar se a queda no número de mortes e o seu posterior aumento estão diretamente relacionados às UPPs ou a políticas de metas e bônus adotados pelo Estado e hoje deixados de lado por conta da grave crise econômica enfrentada pelo Estado.

As mortes cometidas pela polícia fluminense em 2016 representam, segundo dados do ISP (Instituto de Segurança Pública), 15% do total das 6.248 mortes violentas registradas no Estado em todo ano passado.

Em janeiro desse ano, último mês com estatísticas disponíveis, foram registrados 98 homicídios decorrentes de intervenções policiais, quase o dobro que o do mesmo período do ano passado (53). Foi a maior marca para o mês de janeiro desde 2008 --quando foram registradas 109 ocorrências.