Desempregado, carioca abre negócio, é assaltado duas vezes em 10 dias e 'vira' Uber
Demitido no fim do ano passado, Luis Fernando Dias de Souza usou a rescisão para abrir, com três sócios, uma hamburgueria no Méier, na zona norte do Rio de Janeiro. Dez dias e dois assaltos à mão armada após a inauguração, desistiu do negócio. "Fiquei traumatizado", diz.
Sem Luis, a hamburgueria fechou as portas e passou a funcionar apenas para entrega em domicílio. Em busca de melhor sorte, ele decidiu trabalhar como motorista da Uber. Logo na primeira semana, foi abordado por seis homens armados ao passar pelo "lugar errado", nas proximidades da estação de metrô Triagem, também na zona norte.
"Colocaram uma arma de fogo na minha cabeça, revistaram todo o carro para saber se eu era policial ou de outra facção”, conta. Luis tinha dinheiro na carteira, mas os criminosos não levaram um centavo.
Segurança não é algo que faz mais parte do nosso vocabulário aqui no Rio de Janeiro
Até o último dia 10 de janeiro, o carioca de 40 anos nunca havia sido assaltado. Era o primeiro dia de funcionamento da hamburgueria, e Luis estava com a mulher, a filha de 12 anos, um dos sócios e três clientes. Preparava-se para fechar o estabelecimento, quando dois homens chegaram em um moto, por volta da meia-noite.
"Eles estavam armados e mandaram todo mundo deitar no chão. Levaram os nossos celulares e a minha carteira com todos os meus documentos. O mais traumatizante foi ver minha filha passar por aquilo", lembra.
O espaço onde instalaram a hamburgueria fica a 550 metros de um batalhão da Polícia Militar e a menos de um quilômetro da 23ª DP (Méier). Quando registrava a ocorrência na delegacia da vizinhança, Luis se impressionou com o comentário de um inspetor: "Ali vocês vão ser assaltados toda hora". Em 2016, o número de registros de roubos a estabelecimentos comerciais no bairro subiu 47,5% em relação ao ano anterior -- 118 contra 80 ocorrências.
Através do serviço de geolocalização de um dos celulares roubados, Luis conseguiu identificar o paradeiro do aparelho e avisou a polícia. "Me arrisquei indo no carro de polícia com eles e quando chegamos na frente do local [no Engenho Novo, zona norte], eles disseram que não poderiam entrar por se tratar de uma área vermelha, de risco".
O segundo assalto, na quinta-feira da semana seguinte, dez dias depois da inauguração, foi ainda mais agressivo que o primeiro, segundo Luis. "Era uma quantidade maior de assaltantes, quatro armados. Chegaram e colocaram a gente dentro do banheiro, ficaram ameaçando atirar na gente, levaram pertences pessoais, dinheiro. Nunca mais abrimos."
Dessa vez, ele não conseguiu registrar ocorrência na 23ª DP. Dois dias antes, a Polícia Civil do Rio de Janeiro havia deflagrado greve, que ainda não terminou. "Disseram que só estavam fazendo o registro em caso de morte, estupro ou roubo de veículos."
Procurada pela reportagem do UOL, a polícia informou, em nota, que os registros de ocorrência alcançados pela paralisação continuam podendo ser feitos normalmente pela população através da "Delegacia on line". Já as "emergências e casos complexos" estão sendo atendidos nas delegacias.
Demissão
Luis trabalhou durante quase três anos como supervisor administrativo de logística em uma empresa que prestava serviços para o Governo do Rio. Desde junho do ano passado, o Estado se encontra em estado de calamidade financeira, e tem atrasado pagamentos para terceirizadas.
No dia 1º de dezembro do ano passado, Luis passou a fazer parte do número cada vez maior de desempregados no Rio. "Fui demitido por conta da crise no Estado", diz.
Divulgada pelo IBGE no mês passado, a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) apontou que a taxa de desemprego no Rio chegou a 13,4%, com aproximadamente 960 mil pessoas à procura de emprego. Em 2015, o índice era de 8,5%.
Para pagar as contas, ele trabalha na Uber cerca de oito horas por dia e tem contado com a ajuda da mãe.
*Colaborou Vinicius Konchinski
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