Inspirado em programa de TV, empresário baiano doa casa para pessoas carentes
Tarde de outubro de 2014 num casebre no Xixá, um bairro classe baixa de Ibotirama, cidade de 27 mil habitantes localizada no oeste da Bahia, a mais de 800 km de Salvador. A dona de casa Poliana da Conceição, prestes a ter o quarto filho, recebe uma das melhores notícias da vida: ganharia uma casa.
Ao contrário do que está acostumado a se ver, a informação de que a mulher de 26 anos realizaria o sonho da casa própria não partiu da produção de algum programa televisivo de auditório que doa móveis e imóveis, sob o patrocínio de grandes marcas.
Um empresário da cidade, inspirado num desses programas, é que foi pessoalmente dizer a Poliana que realizaria o sonho dela, uma prática que ele realiza há dez anos.
Edilson Leite, 47, que atua no ramo de materiais de construção, doa casas a pessoas carentes em Ibotirama e região, após selecionar os candidatos a partir da carta que eles enviam, relatando por que merecem ganhar um imóvel.
Ao longo desse tempo já foram mais de mil cartas recebidas (alguns escreveram mais de uma vez) e 31 imóveis construídos (de dois e três quartos), tendo o valor deles variado entre R$ 45 mil e R$ 50 mil --o investimento total chega quase aos R$ 1,4 milhão. Algumas das casas foram doadas com mobília nova, devido às condições da pessoa.
“A carta ficou guardada por um ano, tinha vergonha de expor minha história: fui abandonada por minha mãe quando eu tinha 15 dias, uma família me criou e me maltratou demais. Fui violentada e explorada dentro de casa. Nunca tive infância. Fugi quando cresci mais e me casei”, contou Poliana.
Sobre a casa de dois quartos, sala, cozinha e banheiro, onde hoje vive sem ter mais com que se preocupar quando chove, Poliana comenta: “É um presente que jamais vou esquecer na minha vida, uma benção de Deus”.
“A outra casa que a gente tinha, de barro e taipa, foi levantada por mim e por meu marido, nem banheiro tinha. Minha preocupação, hoje, é com os estudos dos meus filhos, que estão indo bem na escola. O mais velho, de 13 anos, por exemplo, está na 8ª série e gosta de estudar”, completa.
Casa na primeira carta
A carta da dona de casa foi uma das poucas aceitas de primeira por Leite, que conta com a ajuda de uma gerente da empresa dele e da esposa Simone, 37, para selecionar quem vai receber as casas.
Por ano, diz o empresário, são escolhidas três pessoas. A campanha de divulgação na mídia local e em carros de som tem início em junho de cada ano e os contemplados são anunciados ao público em outubro --antes do anúncio, ele visita os futuros felizardos.
“Nós escolhemos dez cartas e vamos ver se o que é descrito bate com a realidade. Já teve casos de a gente ir ao local e a pessoa estar com um carro na porta”, contou o empresário, que gera 150 empregos em sua loja de materiais de construção em Ibotirama.
E a escolha para anunciar em outubro quem vai ganhar a casa, diz Leite, é estratégica: “Levamos no máximo 50 dias para construir o imóvel; então, antes do Natal a pessoa já recebe a casa e pode passar o final de ano na nova residência, tendo já uma nova vida”.
O empresário conta que não segue um padrão na construção dos imóveis. Já teve casos de serem de dois e três quartos, na zona rural e na zona urbana.
Antes de doar as casas, Leite faz uma avaliação da atual moradia da pessoa para saber se vale a pena reformar, o que, segundo ele, aconteceu poucas vezes. Na maioria dos casos, diz o empresário, a casa tem de ser derrubada e reconstruída. Ele arca com todos os custos da construção, incluindo a mão de obra.
Casas adaptadas para famílias com pessoas com deficiência também já foram entregues, e, até o momento, não houve o registro de venda do imóvel doado.
“Para algumas famílias que vemos que têm mais necessidade, conseguimos mobília com outros amigos também empresários. É uma corrente que eu gostaria que fosse maior para crescer o projeto e atender a mais pessoas e construir mais casas por ano”, declarou Leite.
Inspiração no "Caldeirão do Huck"
O projeto do empresário nasceu de uma conversa com a esposa Simone, numa tarde de sábado, quando ele chegou em casa do trabalho e ela assistia ao programa "Caldeirão do Huck", apresentado na TV Globo por Luciano Huck.
No momento, passava um quadro em que as pessoas recebiam uma casa nova, depois de enviarem uma carta ao programa.
“Eu comentei que a gente poderia fazer algo parecido aqui em Ibotirama e no mesmo ano já começamos a campanha. No primeiro ano, foi uma casa, depois ampliamos”, diz Simone.
“Para nós tem sido um prazer muito grande estar fazendo estas ações. A crise econômica por qual passa o país nunca nos desanimou. Nos enche de felicidade poder ver uma casa que foi transformada, o antes e o depois, e ver uma família feliz.”
Com o gesto solidário, o casal diz acreditar estar plantando uma semente do bem numa região carente de investimentos públicos.
A Prefeitura de Ibotirama foi procurada pelo UOL para obter informações sobre o deficit habitacional local e sobre um possível apoio ao projeto comandado por Leite, mas não obteve resposta.
Entre outros contemplados com as casas, o sentimento de gratidão: “Estou muito feliz pela casa nova, aqui quando chovia molhava bastante. Agora melhorou, estou muito bem com meus filhos. Colocaram até o piso de cerâmica, antes era barro”, declarou Evandeide Santos.
Fabiana de Oliveira afirmou que “Edilson comprovou a situação da casa, que estava para cair e nem porta da rua tinha. Essa foi a oportunidade que Deus me deu, hoje posso dizer que tenho uma casa”.
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