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Após chacina em MT, Brasil já tem ao menos 19 mortes no campo em 2017

Nove corpos foram encontrados em assentamento a cerca de 150 quilômetros de Colniza - Divulgação/Secretaria de Segurança-MT
Nove corpos foram encontrados em assentamento a cerca de 150 quilômetros de Colniza Imagem: Divulgação/Secretaria de Segurança-MT

Bernardo Barbosa*

Do UOL, em São Paulo

22/04/2017 16h42Atualizada em 22/04/2017 21h01

A chacina na zona rural do município de Colniza (MT), que deixou nove mortos na quarta (19), elevou para 19 o número de assassinatos decorrentes de conflitos no campo registrados pela CPT (Comissão Pastoral da Terra), órgão ligado à CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) neste ano.

Segundo informações da CPT, os assassinatos ocorreram em mais cinco Estados, além do Mato Grosso: Alagoas, Maranhão, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Rondônia. Nos quatro primeiros, houve uma morte em cada. Já em Rondônia, foram registradas seis mortes.

Rondônia foi justamente o Estado em que os conflitos agrários foram mais sangrentos em 2016, de acordo com pesquisa da CPT divulgada este mês. No ano passado, a unidade da federação foi palco de 21 dos 61 assassinatos registrados pela entidade em todo o país. No Mato Grosso, houve duas mortes.

A chacina acontece na semana que marca 21 anos do massacre de Eldorado dos Carajás (PA),quando 19 sem-terra foram mortos e mais de 70 ficaram feridos em uma operação truculenta e atabalhoada, ordenada pelo governo do Pará e executada pela Polícia Militar.

Mais de 6 mil famílias em áreas de conflito no MT

Ainda segundo o levantamento da CPT correspondente a 2016, 6.601 famílias do Mato Grosso viviam em 41 áreas de conflito agrário. O Estado era o sexto no ranking nacional de conflitos, atrás de Rondônia (7.039 famílias), Amazonas (8.167), Bahia (14.918), Pará (18.167) e Maranhão (18.167). No Brasil, eram 121.552 famílias em áreas de conflito por terra.

Com área de 27 mil km² --aproximadamente a mesma do Estado de Alagoas-- a cidade de Colniza fica a 1.065 quilômetros de Cuiabá, a capital mato-grossense. É marcada por conflitos fundiários, como toda a região do noroeste do Mato Grosso. Pequenos e grandes agricultores, extrativistas, madeireiras, grileiros e indígenas disputam o espaço. A zona rural do município é de difícil acesso, com infraestrutura precária de transportes.

Em 2015, segundo monitoramento do Instituto Imazon, Colniza liderou o ranking de desmatamento de toda a Amazônia Legal, área que abrange a região Norte, o Mato Grosso e parte do Maranhão. No último levantamento do Imazon, com dados de fevereiro e março deste ano, a cidade era a décima onde mais se desmatava.

Segundo a CPT, em 2007, dez trabalhadores foram torturados e sequestrados por um grupo de fazendeiros da região. Eles atuariam em conjunto com uma organização envolvida na extração de madeira ilegal justamente na área de Taquaruçu do Norte.

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O que se sabe sobre a chacina

Segundo a Polícia Civil, ao menos nove pessoas foram assassinadas na quarta (19) na região de Taquaraçu do Norte, em Colniza, em disputa por terra. A suspeita é de que os autores do crime sejam capangas de fazendeiros da região. Dois sobreviventes contaram a policiais que os atiradores estavam encapuzados.

Segundo a Secretaria de Segurança do Estado, todas as vítimas são homens e adultos. Eles foram mortos por tiros ou facadas.

Cerca de cem famílias moram no local, que é de difícil acesso. As estradas estão alagadas e em alguns pontos só é possível atravessar de barco. Não há sinal de telefone. Nessa sexta-feira (21), três peritos foram enviados de helicóptero para a região.

De acordo com a CPT, em 2004, 185 famílias foram expulsas de um assentamento em Taquaruçu do Norte por homens fortemente armados, que teriam destruído suas plantações. O suspeito pela expulsão dizia ter comprado as terras. A Justiça concedeu reintegração de posse em benefício de uma cooperativa agrícola.

(Com Estadão Conteúdo)