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Polícia investiga acidentes com pistolas Taurus na Bahia e no RN

Pistola Taurus modelo 24/7, usada por policiais da Paraíba - Divulgação
Pistola Taurus modelo 24/7, usada por policiais da Paraíba Imagem: Divulgação

Aliny Gama

Colaboração para o UOL, em Maceió

05/05/2017 04h00Atualizada em 05/05/2017 15h01

Dois incidentes ocasionados por disparos de armas de fabricação da Forjas Taurus utilizadas pela PM (Polícia Militar) da Bahia e do Rio Grande do Norte estão sendo investigados pela perícia técnica dos Estados. Uma policial militar da cidade de Macaúbas (BA) foi atingida por um tiro no rosto e está em coma. O outro caso foi de um agricultor que morreu com um tiro na cabeça no município de Pau dos Ferros (RN), no último dia 13. Há suspeita de que as armas tenham entrado em pane e disparado sem acionamento do gatilho. 

Relatos de casos de pane em armas da Taurus já foram registrados em quase todos os Estados brasileiros. Um site chamado "vítimas da Taurus" contabiliza que pelo menos 109 pessoas -- dentre policiais, agentes penitenciários e pessoas que têm porte de arma. Procurada pelo UOL, a empresa não se manifestou sobre os casos recentes da Bahia e do RN.

A PM Jaqueline Ribeiro de Oliveira, 32, trabalha na 4ª CIPM (Companhia Independente da Polícia Militar) de Macaúbas. No último dia 11, ela estava de serviço, mas foi à residência ver como as filhas estavam e a arma disparou atingindo-a no rosto. A policial foi socorrida para o hospital municipal e, devido ao estado de saúde grave, foi transferida para UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do hospital de Barreiras, onde permanece em coma.

“Tudo indica que foi um disparo acidental, pois não havia sinais de suicídio. A arma foi encaminhada para perícia técnica no município de Bom Jesus”, afirmou o tenente Daniel Bras, da 4ª CIPM. A arma da policial é uma PT-100 da Taurus.

No RN, um tiro deflagrado por uma pistola Taurus 24/7 supostamente com problemas matou o agricultor Ubiratan Alves, 23, no município de Pau dos Ferros. Ele estava observando uma ação da PM quando foi atingido por um tiro na cabeça e morreu no local.

O policial militar que usava a arma se apresentou à delegacia depois do ocorrido e alegou que a pistola disparou sem que ele acionasse o gatilho. Ele não teve a identidade divulgada. A arma do policial foi recolhida pela Polícia Civil e encaminhada para ser periciada no Itep (Instituto Técnico-Científico de Polícia) de Mossoró.  

O policial ficará afastado das ruas até que o processo administrativo seja concluído. Ainda não há previsão de quando sairá o laudo da perícia feita na arma.

As polícias Militar da Bahia e do Rio Grande do Norte informaram que aguardam conclusão da perícia nas armas para se pronunciarem sobre o assunto. Não há previsão de quando sairá o resultado.

Falha durante reação a assalto

Em julho de 2015, o policial militar Pablo Nascimento da Cunha estava saindo de um banco na avenida Pedro II, em João Pessoa, quando foi abordado por um ladrão. Ele reagiu ao assalto, mas não esperava que a pistola Taurus que portava travasse no momento do disparo. Com a arma em pane, o policial travou luta corporal com o assaltante e acabou baleado na perna. 

“A arma travou três vezes em menos de 20 segundos. A pistola não efetuou disparo quando puxei o gatilho. As munições foram submetidas a perícia e foi constatada que a marcação da espoleta não foi suficiente para disparar”, contou o policial, destacando que tem 22 anos de experiência e é instrutor de tiro campeão brasileiro desde 1997. A munição usava pelo policial era original, de fabricação da CBC (Companhia Brasileira de Cartuchos), detentora da marca Forjas Taurus.

Cunha ingressou com uma ação civil contra a Forjas Taurus cobrando punição pelos danos morais e materiais. Duas audiências já foram realizadas e ele aguarda julgamento do caso. “Uso prótese na perna e não tenho mais a saúde que tinha. Sinto dores intensas no fêmur e não consigo me locomover como antes”, conta.

Falha no teste

Policial mostra falha de pistola Taurus durante treino na Paraíba

UOL Notícias

Um policial civil da Paraíba, que pediu para não ser identificado, contou ao UOL que a pistola Taurus modelo 24/7 que ele recebeu do governo do Estado quando ingressou na Polícia Civil em 2016, apresentou falhas de disparos ainda no teste. Segundo o policial, dos 20 disparos feitos no teste, nove balas ficaram travadas na arma.

“Tem muitos casos de falha de pistolas Taurus que não disparam ao atirar ou disparam sem acionar o gatilho. Quando recebi a minha arma, de 20 disparos de teste, falhou em nove. As de alguns colegas aqui já falharam em ação. Observei no teste que a minha arma sempre falhava no terceiro ou quarto disparo”, contou o policial.

“Acontece de a arma estar funcionando, porém de uma hora para outra quebra uma peça ou um mecanismo para de funcionar. Não dá para prever que ela vai falhar. Eu sempre mantenho a minha arma limpa e devidamente lubrificada, mas não confio de forma alguma. É tenso trabalhar com um equipamento que pode falhar a qualquer momento. Em caso de falha em ação, o policial corre extremo risco de morte”, destaca o policial.

Mais falhas

Sete agentes penitenciários do Rio Grande do Norte ingressaram com ação judicial pedindo o ressarcimento dos valores pagos na aquisição de pistolas .380, modelo 638 da Taurus, adquiridas para uso pessoal, e pagamento de danos morais pelo risco de morte que eles correm ao usar as armas que podem falhar a qualquer momento.

Segundo o advogado Jorge Ricardo Jales, o grupo decidiu buscar a Justiça depois que as armas apresentaram falhas em treinos e cursos de tiro. Jales afirma que as armas apresentaram o mesmo defeito: travamento no momento do disparo. 

“A bala engancha na câmara de combustão quando o gatilho é acionado. Para efetuar o disparo, precisa-se retirar e recolocar o carregador e a munição. Solicitamos perícia para ser realizada nas armas para comprovar as falhas que estão sendo apresentadas até mesmo com uso de munição original. O pessoal já não confia mais nessas armas”, disse o advogado.

Delegado Renato da Silva Oliveira, titular da delegacia da cidade de Apodi, conta que pistolas da Taurus já falharam nas mãos dele durante treinamento de tiros e, atualmente, por precaução, ele adquiriu armas fabricadas na Tchecoslováquia para proteção pessoal. 

“Cheguei a pegar uma pistola do governo do Estado modelo 24/7 que quando balançava ela disparava. Durante treinos com uma pistola .380 observei  que a arma efetua o disparo e engancha no terceiro tiro. Quando ela trava, temos de tirar o carregador e a munição da câmera que não foi deflagrada para voltar a usá-la. Porém, a sequência de tiros durante ação de combate é fundamental para a vida do policial. Se sua arma não dispara num momento desses, você está morto”, afirma Oliveira.

Outro lado

A Secretaria da Segurança e da Defesa Social da Paraíba informou que tem conhecimento dos acidentes envolvendo a Taurus ocorridos no país, mas afirmou que não existe nenhum registro formal envolvendo a pistola Taurus 24/7 na Gerência Executiva de Armas e Munições. 

“Nesse sentido, desde que detectados problemas, com registros formais, pode-se substituir o equipamento. Contudo, o controle sobre a fabricação de armamentos no país é do Exército Brasileiro”, disse a secretaria, sem justificar o porquê de pistolas Taurus 24/7 continuarem sendo adquiridas pelo governo da Paraíba para policiais do Estado.

A Taurus informou não ter conhecimento e disse não ter sido notificada sobre casos de disparos acidentais ou travamento de pistolas 24/7 envolvendo policiais da Paraíba. A empresa não se manifestou sobre as denúncias ocorridas no Rio Grande do Norte e na Bahia.

A indústria de armas afirmou ser vítima de “ataques inconsistentes, sem respaldo técnico e que sempre que há alegação de disparo acidental e falha no mecanismo de disparo de uma arma”. Para que isso seja detectado, segundo a Taurus, é necessário realizar perícias para verificar a verdadeira causa do incidente.

“Todas as perícias realizadas até hoje dentro das normas aplicáveis comprovam que não há defeito ou falha no projeto ou nos mecanismos de segurança e funcionamento dos produtos Taurus”, afirmou a indústria, destacando que desde 2015 iniciou programa gratuito de revisão e manutenção de armas, oferecido a todos os clientes do Brasil.

O Exército Brasileiro informou ao UOL que instaurou procedimento investigativo em 2016 para verificar a qualificação da Forjas Taurus na fabricação de armas de fogo. O processo está em andamento, sem data para conclusão.