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Estudante agredido por PM "só lembra de cassetete", diz irmão; cirurgia substituirá osso do crânio

Mateus Silva foi atingido na cabeça por um cassetete na greve geral do dia 28 de abril - Reprodução
Mateus Silva foi atingido na cabeça por um cassetete na greve geral do dia 28 de abril Imagem: Reprodução

Mirthyani Bezerra

Do UOL, em São Paulo

12/05/2017 11h26

O estudante Mateus Ferreira da Silva, 33, deve passar por uma nova cirurgia na próxima quinta-feira (18), exatamente uma semana após ter recebido alta médica do Hugo (Hospital de Urgências de Goiânia). Segundo o hospital, ele receberá uma placa feita de cimento cirúrgico, que vai substituir o osso da frente do crânio, destruído pelo golpe de cassetete desferido por um policial militar durante protesto no centro de Goiânia, no dia 28 de abril. O irmão dele relatou ao UOL o processo de recuperação e as impressões dele após retornar do coma.

A assessoria de imprensa do Hugo informou que se trata de um procedimento simples, sem risco, de cunho estético, e que deve durar no máximo uma hora.

Mateus passou 11 dias internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hugo, com traumatismo craniano e múltiplas fraturas, após ser agredido pelo capitão Augusto Sampaio de Oliveira, durante confronto entre manifestantes e PMs, na praça do Bandeirante, no centro de Goiânia. Mateus protestava contra as reformas da Previdência e Trabalhista propostas pelo governo Michel Temer, no dia da greve geral convocada pelas centrais sindicais. O golpe desferido contra ele foi tão forte que arrancou a capa de borracha que encobria o cassetete do policial.

O irmão de Mateus, o estudante Natan Barbosa Santos, 17, contou ao UOL que, quando ele abriu os olhos pela primeira vez depois da agressão, não lembrava o que tinha acontecido. “Ele estava com o tubo ainda e não estava falando. Ficou assustado por causa do tubo. Depois ele contou que não estava lembrando de muitas coisas. Foi lembrando aos poucos”, disse.

Natan disse que, só depois, Mateus lembrou do momento em que foi agredido. “Ele disse que só lembra do cassetete vindo em sua direção. Mas não lembra quem bateu nele, nem lembra de ter sentido dor”, disse Natan.

Veja o momento da agressão ao estudante

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A família do estudante de Ciências Sociais da UFG (Universidade Federal de Goiás), que é natural de São Paulo, alugou uma casa para instalá-lo em Goiânia. Mateus morava em uma república de estudantes. Ele está sendo cuidado pela família, que se transfere de São Paulo para a capital goiana. “Ele está bem, andando, tomando banho sozinho. Está se recuperando muito rápido”, disse.

Natan falou que a família está aliviada com o progresso de Mateus. “Ficamos apreensivos no começo, mas sempre muito otimistas. É um alívio ver que ele não ficou com nenhuma sequela. Acreditamos que ele vai voltar a estudar logo. Não tem problema de cognição, está conseguindo ler e escrever normalmente. Acho que esse ano mesmo ele vai voltar para a universidade”, disse esperançoso. Falta um ano e meio para que Mateus termine a graduação na UFG.

PM permanece afastado das ruas

O capitão Augusto Sampaio de Oliveira, subcomandante da 37ª Companhia Independente, foi afastado do policiamento ostensivo para se dedicar a atividades administrativas e responde a um Inquérito Policial Militar instaurado, após a divulgação de um vídeo da agressão. A assessoria de imprensa da Polícia Militar disse que o inquérito ainda está em curso e se negou a dar detalhes sobre os prazos para a conclusão da investigação, se restringindo a dizer que está sendo seguido o estipulado pelo Código Penal Militar.

Em nota divulgada um dia após o caso, a Secretaria de Segurança Pública do Estado condenou as agressões, defendeu o "direito constitucional e legítimo" de se manifestar "de forma pacífica e ordeira" e afirmou ter aberto investigação para averiguar a atuação dos policiais.

Essa não seria a primeira vez que o capitão Oliveira Neto se envolveu em agressão. Segundo reportagem da "TV Globo", consta na ficha do PM o envolvimento em ao menos quatro casos de agressão, incluindo a menores de idade em situação de rua, entre 2008 e 2010. Oliveira Neto nunca foi punido por nenhuma delas.