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Sozinho, PM salva 20 pessoas de incêndio antes da chegada de bombeiros no DF

O cabo Heitor Theodoro, de Brasília, agiu rápido para salvar 20 pessoas - Reprodução/Youtube
O cabo Heitor Theodoro, de Brasília, agiu rápido para salvar 20 pessoas Imagem: Reprodução/Youtube

Eduardo Carneiro

Colaboração para o UOL

12/05/2017 15h14

O que era uma patrulha de rotina se tornou uma verdadeira operação de resgate para o cabo Heitor Theodoro, do 11° Batalhão da Polícia Militar de Brasília, na madrugada da última quinta-feira. Ele se deparou com um edíficio em chamas na Quadra 316 da região de Samambaia e conseguiu, sozinho, salvar 20 pessoas do incêndio, muitas delas crianças.

Em entrevista ao UOL, o policial conta que a primeira impressão era de que o prédio era comercial, já que sedia uma clínica de Pilates. No entanto, ele logo avistou uma criança olhando a movimentação de uma janela interna. “Nós chamamos os bombeiros e isolamos o local, mas nos demos conta de que na sobreloja haviam residências. Eu não sabia se os bombeiros demorariam 2 ou 20 minutos, e o fogo estava aumentando...”.

Theodoro então decidiu agir e correu para a porta que dava acesso ao prédio. “Percebi que ela abria para o lado interno, o que poderia dificultar a saída dos moradores, rapidamente ela começaria a derreter. Felizmente, consegui o arrombamento na segunda tentativa. Havia pouca visibilidade, pouco mais de um palmo à frente, e muita fumaça”.

Dentro do prédio, o policial foi batendo de porta em porta, gritando “polícia”, “fogo” e retirando os moradores. “Todos eles já estavam dormindo, já era mais de 1h (da madrugada). O risco maior era de intoxicação. Fui retirando as pessoas da parte de baixo e depois mais acima, e tive o cuidado para saber se havia algum portador de deficiência ou idoso. Consegui me manter calmo e tranquilo”.

 

Caso dramático e ferimentos

Dentre as pessoas resgatadas, um caso em especial teve um tom ainda mais dramático: “me deparei no último andar com uma mãe com uma criança do colo. Ela estava apavorada, muito trêmula, e não conseguia abrir um portão que dava acesso a uma área privativa da quitinete dela. Consegui pegar o molho de chaves da mão dela e graças a Deus consegui abrir o cadeado na primeira tentativa. Daí peguei a menina no colo, cobri seu nariz e conseguimos nos deslocar pelas escadas”.

O cabo sofreu apenas queimaduras superficiais no braço, além de ardência no rosto e na garganta pelo contato com a fumaça. Para escapar praticamente ileso, ele usou o conhecimento absorvido no curso de formação de policiais. “A gente passa por vários módulos, e dentre eles tem o gerenciamento de crise. Foi exatamente isso que eu tive que fazer: identificar, analisar e reagir. Também usei a técnica de respiração curta, treinada em distúrbios civis com gás, para minimizar os efeitos”.

Depois de salvar 20 pessoas, o cabo foi considerado um herói pelos moradores. Mas ele discorda do rótulo. “Herói usa capa. Nós usamos fardas. Não me considero um herói. Fui abençoado por estar no lugar certo e na hora certa. Fico feliz também por terem filmado. Isso mostra as ações que não só eu, mas que todos os policiais fariam. Nosso juramento é defender a sociedade mesmo que ponha risco à nossa vida. Tenho orgulho do que faço”.

Reconhecimento

Theodoro se encontrou na última quinta com o governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg (PSB). “Ele me parabenizou. Ficou muito contente com a minha atitude e a dos outros policiais”, explica o cabo. Rollemberg inclusive solicitou a promoção do policial a terceiro-sargento – uma comissão analisará o pedido.

O capitão Ronaldo Reis, do Corpo de Bombeiros de Brasília, também exaltou o comportamento do policial. “Nós o vemos como um herói. Os riscos que ele se colocou foram imensos, foi uma atitude de coragem, desprendimento, vontade de servir, muito amor ao próximo. Mesmo sem equipamento de proteção individual a ação dele é louvável e merece todo reconhecimento”.

Para o comandante-geral da Polícia Militar do Distrito Federal, coronel Nunes, o cabo Theodoro “demonstrou a garra de um verdadeiro policial". "Em nome de toda a polícia e daquelas pessoas salvas eu quero agradecer e parabenizá-lo. Ele nos representa muito bem”, completou. 

A Polícia Civil de Brasília fez a perícia do local do incêndio e agora trabalha para identificar as causas.