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Ciclista que fazia expedição ao Alasca morre atropelada em Natal

Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal

Aliny Gama

Colaboração para o UOL, em Maceió

20/06/2017 11h18Atualizada em 20/06/2017 11h18

A ciclista baiana Alexia Suelen Alves dos Santos Van Petten's, 24, que fazia uma expedição de bicicleta com amigos com destino ao Alasca, morreu vítima de atropelamento em Natal. Um veículo não identificado invadiu a ciclofaixa da ponte Newton Navarro, na capital do Rio Grande do Norte. 

O acidente ocorreu no dia 14 deste mês e a morte cerebral da jovem foi constatada no último sábado (17) por exames realizados no hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, onde ela estava internada. Até agora, nenhum suspeito do atropelamento foi identificado pela polícia.
 
A família da jovem liberou a doação de órgãos e a captação foi feita no domingo (18). Nesta segunda-feira (19), o corpo da jovem foi liberado pelo necrotério do Itep-RN (Instituto Técnico-Científico de Polícia) para ser trasladado para Salvador.
 
A família decidiu cremar o corpo de Alexia, o que deve ocorrer nesta terça-feira (20), no crematório do cemitério Jardim da Saudade, em Salvador.
 
Alexia anunciou no dia 20 de maio que se juntaria à expedição --o grupo já havia passado pela Bahia. No dia 5 de junho, ela chegou à Paraíba, onde se juntou ao grupo, na praia de Tambaba, município do Conde, de onde seguiram para o Rio Grande do Norte.
 
No momento do acidente, ela estava de passagem por Natal com mais cinco amigos, de onde seguiriam para a região Norte do país e de lá seguiriam para outros países da América do Sul, América Central e Estados Unidos. O atropelamento aconteceu quando o grupo descia pela ciclovia da ponte Newton Navarro, que liga as zonas oeste e leste da capital, em direção à praia da Redinha.
 
Segundo Marcelo Normande, amigo de Alexia, ela era a última do grupo na ciclofaixa e os amigos não viram quando ela foi atropelada. Um ciclista que vinha atrás dela avisou ao grupo sobre o acidente e eles voltaram para socorrer a amiga. Ele contou que o ciclista não quis ser testemunha do acidente e não soube informar qual era a placa da moto que atropelou Alexia.
 
"O ciclista que vinha atrás dela disse que um motociclista invadiu a ciclofaixa para fugir do radar de 50 km, bateu na bicicleta dela e a derrubou. Descemos em fila pela ciclofaixa. As câmeras não pegaram, as testemunhas não quiseram falar oficialmente", contou Normande, que foi a Salvador acompanhar o velório de Alexia.
 
Após saberem do acidente, os pais de Alexia estiveram em Natal para acompanhar a filha. Eles disseram que não querem saber a identidade do autor do atropelamento porque não querem dar espaço para revolta.
 

"Por mim está perdoado", diz o pai

"Eu não quero saber [a identidade do atropelador] para sentir raiva dele porque minha filha era pura e não sentia raiva de ninguém. Não vou manchar a memória dela sujando meu coração com raiva de alguém. Por mim está perdoado", disse Luciano Luka Van Pettens.
 
"A gente não cria os filhos para a gente, cria para o mundo. Eu não podia deixar ela debaixo das minhas asas, eu tinha que deixá-la livre. Ela precisava fazer essa busca e ela fez. Ela morreu feliz", destacou Solange Alves.
 
As câmeras da Semob (Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana) de Natal não registraram o acidente. A Semob informou que a baixa resolução da filmagem não conseguiu capturar o momento em que o acidente ocorreu. A Polícia Civil informou que está investigando o caso, mas até agora nenhum suspeito do atropelamento foi identificado.
 
"Não deu para ver nada do acidente nas câmeras. Só seis bicicletas passando juntas que acham que somos nós. Hoje fizeram monitoramento por 30 minutos e foram registradas cem invasões de carros e motos na ciclofaixa. Parece ser algo cultural invadir a área exclusiva de ciclistas na ponte Newton Navarro", contou Normande.
 
Alexia relatava em publicações no Facebook que estava feliz e que havia decidido viajar até o Alasca para "construir novos valores e crenças, trilhar novos caminhos". A cada parada do grupo, ela publicava fotos mostrando o carinho que tinha com os amigos.
 
"2017 chegou com a abertura de um novo ciclo. O ciclo em que poderei ser eu novamente, me descobrir, me encontrar, me conhecer. O ciclo em que conhecerei o mundo, conhecerei pessoas e poderei me doar para a causa que norteia minha vida atual: a cura, tanto a minha como a das pessoas que cruzarem o meu caminho. Um ciclo de aprendizados e ensinamentos, de trocas, de amor", disse a jovem em uma publicação no dia 20 de maio anunciando a viagem.
 
Os cinco integrantes da expedição retornarão a Natal de carro assim que o corpo de Alexia for cremado. O grupo pretende continuar a viagem até o Alasca e, agora, além da mensagem de paz, os integrantes querem alertar as pessoas sobre o respeito aos ciclistas.
 
"Nossa jornada é missionária. E uma das principais mensagens é ir atrás dos sonhos, fazer o que se ama e sem medo no coração. E ser missionário é entregar a vida a um propósito maior. Estar preparado para tudo que vier e acreditar que cada um tem sua hora. Mais importante do que se manter vivo é viver feliz", afirmou Normande.