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Prefeitura de SP lança programa para atender parentes de usuários da cracolândia

A equipe do "Mães da Luz" com o coordenador, Miguel Tortorelli (o segundo, da direita para a esquerda) - Janaina Garcia/UOL
A equipe do "Mães da Luz" com o coordenador, Miguel Tortorelli (o segundo, da direita para a esquerda) Imagem: Janaina Garcia/UOL

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

27/06/2017 23h16

A Prefeitura de São Paulo inaugurou nesta terça-feira (27) o programa "Mães da Luz", voltado a familiares de dependentes químicos, em especial, usuários da cracolândia. A iniciativa é vinculada à Secretaria de Direitos Humanos e tem objetivo, segundo a administração municipal, de "oferecer informações e orientações aos familiares dos dependentes, conscientizando sobre a importância do tratamento e acompanhamento de seus parentes".

Com atendimento em um prédio da prefeitura na rua Líbero Badaró, região central de São Paulo, o projeto tinha salas vazias na manhã desta terça, quando o UOL visitou o local. No primeiro dia, segundo a coordenação do programa, ninguém foi atendido.

O "Mães da Luz" foi anunciado um dia antes de seu início pela secretária de Direitos Humanos, Eloisa Arruda. Em evento ao lado do prefeito João Doria (PSDB), pelo balanço das ações das administrações municipal e estadual na região da Cracolândia, ela afirmou que o programa buscará dar suporte a quem lida com a dependência do próprio familiar, sem saber que o vício, na realidade, é doença.

Questionado sobre a ausência de atendimentos no primeiro dia, o coordenador do programa, Miguel Tortorelli, 69, disse que "será feita uma grande divulgação" do "Mães da Luz", sobretudo por panfletos em serviços públicos de saúde, educação e assistência social.

Outro passo posterior ao lançamento, segundo ele, será a "parte da capacitação dos órgãos relacionados à dependência química", uma vez que a proposta é não apenas atender o familiar para fazê-lo compreender que a dependência química de quem se tenta resgatar é uma doença, como encaminhá-lo à rede municipal.

"Precisamos da divulgação porque as famílias são das que mais sofrem e não havia esse tipo de atendimento a elas. Acolher essa família, informá-la e orientá-la que a dependência é uma doença, incurável e progressiva, e que, desse modo, precisa ser tratada, é importante, pois muito poucas são as pessoas que sabem que isso é uma doença", explicou.

"Encaminhar essas pessoas à rede pública para serem atendidas por psicólogos e médicos --e as que estão desempregadas, capacitá-las a um serviço para ter renda ou incrementar a renda –é algo que também está previsto no programa, vamos interligar isso tudo. O que não adianta é dizer que se trata de um caso perdido, porque passar por esse atendimento e acolhida vai facilitar tirar esse dependente da cracolândia", complementou.

Um primeiro passo no programa depende das informações do familiar sobre o dependente químico –informações que demandam, por exemplo, dados pessoais e uma fotografia da pessoa. A partir desse material, os assistentes do “Mães da Luz” repassarão as informações a funcionários que atuam na assistência e na saúde pelos programas Redenção, do Município, e Recomeço, do governo do Estado, a fim de se localizar onde está, de fato, o usuário.

Entre os integrantes do "Mães da Luz" estão funcionários que atuam voluntariamente também em grupos de apoio sobre dependência química, como o “Amor Exigente”, que existe há mais de 30 anos pelo Brasil. No caso desse grupo, por exemplo, os voluntários têm dependentes químicos na própria família –fator que pode facilitar a criação de vínculo, definem os membros do “Mães da Luz”, com quem busca ajuda.

“Vamos tentar fazer com que as famílias voltem a ter laços com seus entes adoentados pelo vício na droga. A mãe, em geral, é quem tem mais facilidade para isso –e ideia é que ela consiga que o filho ou o pai, ou marido, se interne nos serviços públicos de saúde”, definiu o coordenador.

Indagado se ele acredita na internação compulsória do dependente, ainda que por intermédio de um parente, Tortorelli respondeu: “Acreditamos, sim, nisso. Estou há 20 anos em grupos de apoio, e uma internação compulsória às vezes é necessária, pois o dependente não sabe mais o que está fazendo", disse.

"Com certeza a mãe estando mais equilibrada, ela conseguirá saber como conversar com esse ente querido também sobre a internação --muitas vezes o dependente sai de casa ou retorna porque essa desestrutura é permanente. E outra: não adianta querer mudar a vida da pessoa se o próprio familiar não está disposto a mudar a si", complementou um dos assistentes técnicos do "Mães da Luz", o terapeuta Fábio Antunes, 41.

O atendimento na rua Líbero Badaró, número 119, será de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. Segundo a prefeitura, também está prevista a utilização de espaços das prefeituras regionais e dos Centros de Referência mantidos pela secretaria para palestras de orientação.