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Bala perdida pegou crânio de bebê de raspão; cresce otimismo sobre recuperação de movimentos

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Imagem: Reprodução

Giovani Lettiere

Colaboração para o UOL, em Duque de Caxias

07/07/2017 11h25

Continua em estado grave o recém-nascido Arthur, baleado enquanto ainda estava na barriga da mãe, Claudineia dos Santos Melo, na última sexta-feira (30), vítima de uma bala perdida na favela do Lixão, em Duque de Caxias, Baixada Fluminense. Contudo, no dia em que o bebê completa uma semana de vida, os médicos do Hospital Estadual Adão Pereira Nunes, também em Caxias, manifestaram otimismo quanto à recuperação dos movimentos das pernas da criança após a realização de uma cirurgia nesta semana.

"Foi feita uma lamectomia, que é uma cirurgia para retirar as lâminas das vértebras. Fizemos uma descompressão da medula. Arhur teve a terceira e quarta vértebras explodidas pelo projétil, que entrou pelo crânio, dilacerou a orelha direita, atingiu as vértebras e saiu pelo tórax", informou Vinícius Mansur Zogbi, coordenador médico da neurocirurgia do hospital. "A chance de ele voltar a mexer as pernas continua igual", completou Vinicius.

Segundo Zogni, o disparo pegou o crânio de raspão e não provocou danos cerebrais. Ele detalhou a trajetória da bala.

O projétil passou de raspão pelo crânio direito, dilacerou a orelha direita, atingiu a clavícula fraturando-a, explodiu a terceira e quarta vértebras, o pulmão e saiu pelo tórax.

Vinícius Mansur Zogbi, coordenador da neurocirurgia do hospital

Sobre sequelas neurológicas, além da motora já identificada, "é precoce dizer. Tem que acompanhar a evolução do quadro", disse Eduardo de Macedo Soares, coordenador médico da UTI neonatal. A lesão na medula é pequena, sem repercussão, segundo os médicos. 

A medula estava inchada por conta do edema, com isso, a cirurgia removeu lâminas (parte) do osso da vértebra para abrir espaço para a medula.

Em entrevista coletiva na manhã desta sexta-feira (7) no hospital, Soares deu detalhes sobre o estado de saúde da criança.

"É um caso extremamente raro. Ainda é cedo para fazer um prognóstico, já que se faz necessário um acompanhamento o tempo todo. Hoje, Arthur tem quadro de paraplegia, mas só o tempo dirá. Bebês surpreendem muito. Existe a chance de recuperar os movimentos nas pernas. É muito precoce qualquer prognóstico", disse o médico.

Soares informou ainda que o menino respira por conta própria, sem ajuda de aparelhos, e se alimenta por sonda, ainda sem previsão de ser amamentado pela mãe, Claudineia, que tem visitado o filho desde quinta-feira (6) ao lado do marido, Klebson da Silva.

Arthur está tendo uma evolução esperada e bem satisfatória no seu quadro de saúde. É um bebê forte. Nasceu em circunstâncias raras. Já é um campeão, um guerreiro.

Eduardo de Macedo Soares, coordenador da UTI neonatal

O secretário de Saúde do Estado do Rio de Janeiro, Luiz Antonio Teixeira Jr. disse no encontro com a equipe médica que trata de Arthur que já fez contato com a Rede Sarah para um possível tratamento de reabilitação do menino no hospital de referência no Rio de Janeiro. "É uma decisão da família, mas fizemos o contato para Arthur ter o melhor tratamento do país", afirmou o secretário.

O caso

O recém-nascido Arthur foi baleado no último dia 30 enquanto ainda estava na barriga da mãe. Claudineia dos Santos Melo teve alta nesta quinta-feira (6).

Claudineia estava internada desde a sexta passada no Hospital Municipal Moacir do Carmo, em Caxias. Ela deixou o local em uma cadeira de rodas e seguiu para o Hospital Estadual Adão Pereira Nunes, onde a criança está internada desde que passou por uma cesárea de emergência.

Ela estava na Favela do Lixão, no centro de Duque de Caxias, quando foi atingida pela bala perdida. Os médicos fizeram uma cesariana de emergência e, durante o procedimento, descobriram que o bebê também havia sido atingido pela bala. O tiro atravessou o quadril de Claudineia, perfurou os pulmões e lesionou a coluna de Arthur.

Há chances da criança ter ficado paraplégica. Entretanto, o quadro não é irreversível.

O caso está sendo investigado pela 59ª DP, em Caxias. Na tarde da última terça-feira (4), ela prestou depoimento à polícia no hospital.