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"De Castigo": Agentes penitenciários são investigados após paródia de "Despacito"

Agentes penitenciários fazem paródia de Despacito. E a letra causou muita polêmica - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Imagem: Reprodução/Facebook

Eduardo Carneiro

Colaboração para o UOL

17/08/2017 12h18

Um vídeo de uma paródia do hit "Despacito" (de Luis Fonsi em parceria com Daddy Yankee) cantada durante um curso de formação de agentes penitenciários do Distrito Federal vazou nas redes sociais na última terça-feira e gerou polêmica pelo conteúdo da letra. A Subsecretaria do Sistema Penitenciário (Sesipe), vinculada à Secretaria da Segurança Pública e da Paz Social (SSP-DF), condenou o episódio e abriu investigação interna.

Na versão, cantada por uma servidora e acompanhada aos risos por colegas e formandos do curso, Despacito vira “De Castigo” e registra ameaças quanto à forma que os presos seriam tratados. “De castigo. Preso que não obedece eu ponho no castigo (...) Tá no sal comigo, suspendo o parlatório e as visitas tudo”, diz parte do refrão.

Insinuações de um tratamento violento aos detentos também aparecem em outros trechos da letra: “Toca a sirene e vou pronto para intervenção: tiro, gás pimenta e extração. Tu não mexe comigo sou operacional, a bala é de borracha mas tenho letal. Se vier para cima vai sair perdendo”, diz parte dela.

Frases do tipo “preso é muito burro e gosta de correr perigo, tira toda a paciência fazendo tudo proibido” e “vou dar geral daquele jeito que você sabe, vou ver quanto gás na cela cabe" também compõem a canção.

Em nota enviada ao UOL, a Sesipe disse que vai apurar internamente e “de antemão condena as circunstâncias em que alunos do curso de formação fizeram, em tom de brincadeira, a encenação de uma paródia musical, por iniciativa própria". Além disso, o vídeo que vazou nas redes sociais será usado para “identificar eventuais infrações cometidas por parte dos agentes que presenciaram a encenação de mau gosto”.

A subsecretaria informa ainda que “esse tipo de atitude não condiz com o trabalho regular que os agentes de atividades penitenciárias realizam cotidianamente”. “Os agentes do sistema prisional do DF, seja no controle interno, seja na escolta de presos, são treinados, desde a formação, para agirem de acordo com a legislação vigente, respeitando os direitos daqueles que estão sob sua guarda”, completa o comunicado.

"Ato criminoso"

O Conselho Distrital de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos (CDPDDH) também condenou o conteúdo da paródia e cobrou investigação. “Foi um desrespeito. Um ato criminoso. Este grupo promoveu uma cultura de violência e ódio que desrespeitou uma série de princípios do serviço público”, disse Michel Platini, presidente do conselho, ao UOL.

Platini enfatizou que o sistema prisional do Distrito Federal está lotado (segundo ele, são mais de 15 mil detidos, quando a capacidade é de 7 mil) e que seu grupo lutou para que o curso de agentes penitenciários fosse criado – antes o monitoramento dos encarcerados era feito por policiais civis. “Não somos inimigos deles, como muitos pensam. Pelo contrário. Lutamos por muito tempo para criar esta carreira no Distrito Federal e melhorar a internação”, pontuou.

O presidente do CDPDDH disse ainda que enviou documentos sobre o episódio para o Conselho Nacional de Direitos Humanos, ao Conselho Nacional de Justiça, ao Ministério Público e ao juizado local para que acompanhem as investigações e disse esperar que os envolvidos no vídeo sejam punidos. “Foi um comportamento totalmente incompatível com a função. E não havia só formandos, mas também servidores monitorando”, concluiu.