Topo

Entidades lamentam assassinato de juíza por marido delegado e afirmam que "machismo mata"

Claudia Zerati, 46, era juíza do trabalho em Franco da Rocha e deixa uma filha de 6 anos - Reprodução/Anamatra
Claudia Zerati, 46, era juíza do trabalho em Franco da Rocha e deixa uma filha de 6 anos Imagem: Reprodução/Anamatra

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

21/08/2017 14h57

Duas associações de juízes divulgaram uma nota em que lamentam o assassinato da juíza do trabalho Claudia Zerati, 46, e afirmam que “o machismo mata” e “as campanhas publicitárias de ocasião não bastam para contê-lo”. De acordo com a polícia de São Paulo, a magistrada foi morta na madrugada desse domingo (20) com um tiro disparado pelo marido, o delegado de polícia Cristian Sant'Ana Lanfredi, 42, que se matou em seguida.

O crime aconteceu no apartamento em que o casal morava com a filha de seis anos, em um edifício de alto padrão na Pompeia, área nobre da zona oeste de São Paulo. Segundo familiares, o delegado, cedido à Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo), estava de licença médica para se tratar de depressão.

Na nota, a Anamatra (Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho) e a Amatra 2 (Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da 2ª Região) expressaram “indignação e pesar” pela morte da juíza, que era titular da 2ª Vara de Franco da Rocha (Grande São Paulo).

As associações ponderaram que, “se confirmar o quadro de violência doméstica” descrito pelo boletim de ocorrência do caso, as entidades também repudiam “os gritantes números de feminicídios que ainda grassam no Brasil, evidenciando uma realidade trágica que, agora, colhe a vida de uma juíza do Trabalho.”

O casal Claudia Zerati e Cristian Sant'Ana Lanfredi - Divulgação - Divulgação
O casal Claudia Zerati e Cristian Sant'Ana Lanfredi
Imagem: Divulgação

“Em 2016, contabilizávamos 4,8 assassinatos a cada 100 mil mulheres, ocupando o 5º lugar no ranking mundial de países, quanto ao feminicídio. Pelos dados do Mapa da Violência 2015, dos 4.762 assassinatos de mulheres registrados no Brasil em 2013, 50,3% foram cometidos por familiares (33,2% pelo parceiro).  O machismo mata. E as campanhas publicitárias de ocasião não bastam para contê-lo”, diz a nota.

As duas entidades ainda cobraram que das autoridades policiais “uma rigorosa e pronta apuração dos fatos, para o rápido esclarecimento de todos os aspectos eventualmente nebulosos que ainda cerquem esse trágico episódio.”

Questionada sobre a origem da arma do delegado –se era dele, como pessoa física, ou do Estado, uma vez que Lanfredi, ainda que em licença médica, era policial --, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo ainda não se pronunciou.

Delegado deixou a filha com padrinhos

Segundo o boletim de ocorrência, Lanfredi deixou a filha de seis anos do casal no apartamento de padrinhos da criança, no mesmo condomínio, antes do crime, alegando que a mulher teria saído de casa após eles se desentenderem. A menina contou aos padrinhos, entretanto, que os pais haviam brigado porque o delegado se recusara a tomar a medicação.

O caso foi registrado no 91º Distrito Policial como homicídio qualificado, no caso da juíza, e suicídio, no caso do marido.

O TRT-2 (Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região) divulgou ontem nota de pesar pela morte da magistrada e suspendeu o expediente no Fórum de Franco da Rocha nesta segunda.