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Cerco militar à Rocinha tem 21 presos, 23 fuzis apreendidos e 59 suspeitos identificados

24.set.2017 - Militares patrulham a favela da Rocinha, na zona sul carioca - MARCOS ARCOVERDE/ESTADÃO CONTEÚDO
24.set.2017 - Militares patrulham a favela da Rocinha, na zona sul carioca Imagem: MARCOS ARCOVERDE/ESTADÃO CONTEÚDO

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

27/09/2017 15h13

Em cinco dias de cerco militar à Rocinha, as forças de segurança prenderam 21 suspeitos, até esta quarta-feira (27), durante as ações pela favela da zona sul carioca, que tem sido palco de uma sangrenta disputa entre grupos rivais pelo controle do tráfico de drogas.

Com o apoio das Forças Armadas, as polícias Civil e Militar apreenderam 23 fuzis, 8 granadas e sete bombas de fabricação caseira, segundo informou a Secretaria de Estado de Segurança Pública.

Além disso, desde a última sexta-feira (22), quando tropas do Exército subiram a comunidade com tanques de guerra e outros recursos, a delegacia da Rocinha (11ª DP) já teria identificado, de acordo com a secretaria, 59 suspeitos de participação nos confrontos que ocorreram durante uma tentativa de invasão por parte de criminosos leais a Antônio Bonfim Lopes, o Nem, em 17 de setembro.

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Preso em Rondônia, onde cumpre pena, Nem teria ordenado o ataque com objetivo de derrubar o antigo aliado e hoje desafeto, Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157, que atualmente dita as ordens na favela. Em apenas dois dias de confrontos, ao menos quatro pessoas morreram e mais de 3.000 alunos ficaram sem aula.

A Rocinha tem nesta quarta o terceiro dia de trégua após as operações do fim de semana. A maioria das escolas retomou as atividades durante a manhã. Dos 3.344 alunos afetados desde segunda (25), 2.527 voltaram a frequentar as aulas nesta quarta. No entanto, dois colégios, totalizando 817 estudantes, ainda continuam fechados.

Já a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) da Rocinha, localizada entre as ruas 1 e 2 --a unidade de saúde mais próxima para os moradores--, continua fechada por medida de segurança. O atendimento foi redirecionado para a Clínica da Família Rinaldo de Lamare (plantão diurno), na estrada da Gávea, e para o Hospital Municipal Rocha Maia (plantão noturno), em Botafogo, a mais de 10 km da favela.

Moradores reclamam de transtornos

Para moradores, a presença do Exército nas principais ruas, bloqueando em especial parte do trânsito na estrada da Gávea, não se justifica. Com os tanques, ônibus e vans não conseguem manobrar na via; há ainda um bloqueio próximo à passarela, obrigando os moradores a darem uma volta maior para acessarem a favela. Desde a semana passada, ônibus e transporte escolar não passam por dentro da comunidade.

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Presidente da associação de moradores, Carlos Eduardo Barbosa lembrou ontem, durante reunião na comunidade, a possível instauração de medida judicial para inspecionar casas coletivamente. Para ele, a autorização da Justiça não se faz necessária, porque casas já foram invadidas. Moradores denunciaram no fim de semana que policiais em busca de traficantes arrombaram suas casas.

"Recebemos relatos de comerciantes que tiveram mercadorias roubadas, de moradores com as casas invadidas... A Rocinha não está em guerra, esse cerco, o que estão fazendo com a gente é covardia."

Durante o fim de semana, o secretário de Segurança, Roberto Sá, disse que um mandado de busca coletivo estava em elaboração e seria apresentado no momento oportuno.

O comandante da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Rocinha, major Cunha Neves, defendeu a ação da polícia e dos militares e disse que é preciso levar em conta que há dois grupos de traficantes em guerra. "Não cobro que tomem partido contra o tráfico, sei que é difícil para quem mora aqui. Mas não venham defendê-los. Esses que queimam pessoas em pneus não são os bonzinhos."