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Segurança fazia tratamento desde 2014 e premeditou crime em creche de MG, diz polícia

Janauba -  -

Do UOL, em São Paulo

05/10/2017 19h41Atualizada em 06/10/2017 13h59

O segurança Damião Soares dos Santos, 50, foi o único responsável pelo incêndio na creche municipal em Janaúba (547km de Belo Horizonte), segundo investigações da Polícia Civil da região. Ele morreu na tarde desta quinta-feira (5), no Hospital Regional de Janaúba, em decorrência das queimaduras. 

O delegado Bruno Barbosa Fernandes afirmou na noite desta quinta-feira (5) que Santos premeditou o crime que provocou a morte de cinco crianças, todas com 4 anos, e uma professora.

05.out.2017 - Equipes do Samu fazem atendimento às vítimas de creche no Hospital Regional de Janaúba (MG) - Divulgação/Samu - 05.out.2017 - Divulgação/Samu - 05.out.2017
Equipes do Samu no Hospital Regional de Janaúba
Imagem: Divulgação/Samu - 05.out.2017
Familiares do segurança disseram, de acordo com a polícia, que Santos planejava se matar. "Ele disse na última terça-feira (3), que daria um presente a todos, se matando em breve", informou o delegado. Segundo a investigação, o segurança cometeu o crime na creche numa data simbólica para ele, quando a morte do pai completaria três anos.

A Polícia Civil também apurou que o segurança tinha problemas mentais.

Questionado sobre o que teria causado o ataque à creche, o delegado resumiu: "loucura". "Conseguimos um relatório do Caps [Centro de Apoio Psicossocial] indicando que ele estava em tratamento psiquiátrico desde 2014; ele sofria de muitas manias de perseguição", disse. Ainda conforme o policial, a tendência é que, com a morte do segurança, o inquérito seja arquivado.

Às 16h30, o delegado que chefia o inquérito confirmou a morte do segurança --que estava internado em estado grave no mesmo hospital para onde foi levada parte das vítimas.

"Ele nunca precisou ser afastado do trabalho, nem tinha contato com crianças, já que era segurança noturno. O que ele fez foi algo bestial, covarde, mas nunca tinha manifestado nada disso no ambiente de trabalho, nem tinha orientação de ser segregado do convívio pelo que pudemos apurar junto ao Caps", afirmou o delegado.

Ao menos quatro crianças de quatro anos morreram no ataque a uma creche registrado em Janaúba (MG) nesta quinta-feira (5) - PM-MG/Divulgação - PM-MG/Divulgação
Creche incendiada em Janaúba (MG) ficou com salas destruídas
Imagem: PM-MG/Divulgação
Segurança guardava galões com álcool em casa

De manhã, equipes da Polícia Civil estiveram na casa do segurança e na de familiares dele. "Fomos até a casa do suspeito e encontramos vários galões com álcool", afirmou o delegado do caso. De acordo com o policial, três irmãs e a mãe do suspeito também foram ouvidas.

Santos trabalhava como segurança noturno da unidade, na condição de funcionário efetivo, desde 2008. De acordo com testemunhas, ele teria ateado fogo ao próprio corpo e ido em direção às crianças durante o ataque.

Imagem da sala onde estavam vítimas de incêndio em creche de Janaúba, no Norte de Minas - PM-MG/Divulgação - PM-MG/Divulgação
Imagem da sala onde estavam vítimas de incêndio em creche de Janaúba
Imagem: PM-MG/Divulgação

Suspeito voltaria de férias hoje

Em entrevista ao UOL, o prefeito de Janaúba, Carlos Isaildon Mendes (PSDB), afirmou que o segurança retornaria de férias hoje à creche, que funciona em período integral. A instituição tinha capacidade para 82 crianças e estava cheia na manhã desta quinta-feira.

"Ele tinha acabado de chegar de férias e entrou na escola dizendo que ia entregar um atestado médico, alegando que não passava bem. Mas estava com um balde, e, em um gesto completamente insuspeito, jogou o que seria álcool, que estava nesse balde, no próprio corpo, e no corpo das crianças", afirmou.

05.out.2017 - Damião Soares dos Santos, 50, conhecido como "Damião Picolé", é o segurança suspeito de atear fogo em creche no norte de Minas Gerais - Divulgação/PM - Divulgação/PM
O vigia Damião Soares dos Santos
Imagem: Divulgação/PM

Indagado sobre as condições mentais do funcionário, Mendes negou que ele tivesse apresentado algum indício de problemas. "O que me relataram lá é que ele chegou normal e tranquilamente até a diretora para supostamente entregar um atestado médico. Estamos mesmo muito surpresos com o que aconteceu", disse.

Por outro lado, o prefeito disse que o ataque "poderia ter sido pior", já que a sala em que o segurança entrou com o material inflamável era a do segundo período, com crianças de até cinco anos de idade. "Infelizmente, poderia ter sido algo até pior, porque a sala ao lado era o berçário, e evacuar crianças dali seria muito mais difícil. Onde ele atacou, as vítimas são maiorzinhas e muitas conseguiram escapar", afirmou.

Prefeitura pede doações de remédios, água e roupas

A Prefeitura de Janaúba informou nesta quinta-feira (5) que deslocou todos os médicos da cidade para os hospitais Fundajan e Regional para atendimento às vítimas do incêndio, mas não informou quantos profissionais foram mobilizados. A administração decretou luto oficial de sete dias em função da tragédia.

Segundo o Corpo de Bombeiros, o incêndio começou às 9h40 e foi controlado depois por volta das 11h. Apesar de ambulâncias e medicamentos de municípios vizinhos terem sido enviados para o local, a administração, por meio de nota, pediu doações de pomada contra queimaduras, soro fisiológico e itens como metoclopramida e dipirona injetável, além de água mineral, roupas para crianças e roupas de cama.

Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Janaúba tem uma população estimada em pouco mais de 71 mil habitantes. Além da unidade atingida pelo incêndio, a cidade conta com outros nove centros municipais de educação infantil, além de sete escolas municipais.