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Ex-primeira-dama do tráfico, mulher de Nem da Rocinha é presa no Rio

Paula Bianchi

Do UOL, no Rio

10/10/2017 18h07Atualizada em 11/10/2017 11h47

Danúbia de Souza Rangel, 33, mulher do traficante Antônio Bonfim Lopes, o Nem, ex-chefe do tráfico na Rocinha, foi presa no Rio de Janeiro, na tarde desta terça-feira (10), por policiais da 39ª (Pavuna) e 52ª (Nova Iguaçu) delegacias de polícia, segundo confirmou a Polícia Civil.

Em março do ano passado, ela foi condenada a 28 anos de prisão pelos crimes de tráfico de drogas, associação para o tráfico e corrupção ativa. Ela estava foragida após ser solta por decisão judicial.

"A polícia conseguiu interromper uma importante fonte de distribuição de informações de uma determinada facção do tráfico", disse o delegado Marco Aurélio Ribeiro, da 52ª DP.

10.out.2017 -  Danúbia Rangel, mulher do traficante Antônio Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha, foi presa nesta terça-feira (10) na Ilha do Governador, Zona Norte do Rio. A prisão foi feita por agentes da 39ª DP (Pavuna) e 52ª DP (Nova Iguaçu). Ela foi levada no fim de tarde para a Cidade da Polícia, também na Zona Norte do Rio - ROMMEL PINTO/AGÊNCIA O DIA/AGÊNCIA O DIA/ESTADÃO CONTEÚDO - ROMMEL PINTO/AGÊNCIA O DIA/AGÊNCIA O DIA/ESTADÃO CONTEÚDO
Danúbia Rangel é presa no Rio
Imagem: ROMMEL PINTO/AGÊNCIA O DIA/AGÊNCIA O DIA/ESTADÃO CONTEÚDO
A ex-primeira-dama do tráfico foi detida por volta das 16h quando saía de carro, sozinha, do apartamento de uma amiga, próximo ao Morro do Dendê, na Ilha do Governador, zona norte. Danúbia foi levada à Cidade da Polícia, também na zona norte carioca, para o cumprimento de mandado de prisão. Ela ficará detida no Complexo de Gericinó, em Bangu, zona oeste.

Danubia deixou a delegacia por volta das 20h chorando e escondendo o rosto. Ao ser questionada se tinha sido expulsa da Rocinha e se recebeu algum tipo de ordem de Nem, ela negou e disse apenas ter "medo".

Segundo a polícia, ela estava sendo monitorada havia um mês. Há duas semanas, ela quase foi presa em uma operação da Vila dos Pinheiros, no Complexo da Maré.

Após o racha entre o atual chefe do tráfico na comunidade, Rogério 157, e Nem em razão de desentendimentos relacionados ao comando da favela, o que desencadeou a recente crise de segurança, a favela se tornou um lugar perigoso para Danúbia, que foi detida fora da Rocinha.

A "xerifa" da Rocinha, como é conhecida, foi expulsa da favela no mês passado por Rogério 157, ex-guarda-costas de Nem que assumiu o tráfico local após a prisão dele em 2011. Atualmente, Nem se encontra detido em um presídio de segurança máxima em Porto Velho (RO). Com a aliança de 157 com o CV (Comando Vermelho), a mulher de Nem teria sido obrigada a deixar a comunidade definitivamente.

De acordo com investigações, a ordem de expulsão de Danúbia foi o estopim para desencadear a guerra entre os traficantes rivais. No dia 17 de setembro, a Rocinha foi invadida por homens do grupo de Nem, ligados à ADA, que tentaram retomar o controle das bocas de fumo.

O governo do Rio de Janeiro acionou militares das Forças Armadas no dia 22 de setembro, após um tiroteio levar pânico a moradores na entrada da favela. Os militares, que fizeram um cerco à favela em apoio às polícias do Rio, deixaram a Rocinha uma semana depois. Entretanto, tiroteios continuam na comunidade.

Nesta terça-feira, mais de 2.400 estudantes voltaram a ser afetados pelo fechamento de escolas na Rocinha. As Forças Armadas voltaram à favela hoje em apoio a operação da polícia, que faz buscas por armas e drogas.

Danúbia - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução
Ficha Criminal

Em 2011, a "xerifa" da Rocinha foi encontrada pela polícia num salão de beleza da Rocinha. Acusada de associação ao tráfico, ela foi levada para a Delegacia da Gávea, zona sul, por policiais do Bope (Batalhão de Operações Especiais) para prestar depoimento.

Na ocasião, o delegado Carlos Augusto Nogueira explicou que Danúbia recebia presentes de Nem, andava com carro fornecido por ele e não comprovava ter emprego fixo, o que indicava a relação dela com o tráfico. No entanto, Rangel foi liberada tempos depois.

No mesmo ano, Nem foi preso dentro do porta-malas de um carro na Lagoa, bairro nobre vizinho à Rocinha, tentando deixar a favela. A partir daí, ela passou a se dividir entre o Rio e Campo Grande (MS), para onde o marido foi levado. Lá, a loira chegou a abrir um salão de beleza.

Três anos após a prisão de Nem, Danúbia foi presa. Em março de 2014, ela foi encontrada com dez telefones celulares e três tablets com conexão à internet e acusada de enviar recados de Nem para traficantes aliados.

Em 2016, ela foi, contudo, absolvida de uma das acusações de associação para o tráfico e acabou solta. Menos de um mês depois, a Justiça a condenou a 28 anos de prisão. Desde então, Danúbia Rangel é procurada pela polícia. O serviço Disque-Denúncia oferecia R$ 1.000 de recompensa por informações sobre seu paradeiro.

Perfis ativos em redes sociais

No período em que esteve foragida, Danúbia teria respondido por perfis ativos nas redes sociais. Na semana passada, a loira teria supostamente atualizado duas vezes perfil no Facebook com as frases: "Amigo disfarçado, inimigo dobrado" e "Nunca saberemos o quão forte somos até que ser forte seja a única escolha".

Também na semana passada, em uma foto de biquíni, ela teria postado: "Quem nasceu pra ser rainha nunca perde a majestade!"

Com mais de 30 perfis em redes sociais em seu nome (alguns deles claramente falsos), a ex-primeira-dama do tráfico reúne admiradores. Apenas no Instagram, a loira conta com cerca de 20 mil seguidores.

Nem agredia Danúbia em crise de ciúme

Nascida no Complexo da Maré, conjunto de favelas da zona norte carioca, a loira tem outros dois chefões do tráfico no currículo amoroso: Luiz Fernando da Silva, o Mandioca (pai de Beatriz) e o substituto dele, Marcélio de Souza Andrade. Ambos morreram em confrontos com a polícia, o que lhe rendeu o apelido de Viúva Negra.

Foi em 2006 que Danúbia conheceu Nem em uma festa e se mudou para a Rocinha. Tempo depois, nasceu Yasmin, filha do casal.

Desde que conheceu Nem, ela mergulhou num mundo de luxo. Ele a presenteava com passeios de lancha, helicóptero e joias, entre elas, um pingente com a letra "n" em referência a ele próprio.

Em 2008, o traficante chegou a organizar para a mulher um show do rapper americano Ja Rule na favela.

No entanto, nem tudo eram flores na relação: escutas telefônicas revelaram que Nem agredia a mulher por ciúme. Em mais de um áudio obtido pela polícia, Danúbia relata a uma amiga que tinha sido agredida. Apesar disso, desde a prisão de Nem, Danúbia defende e faz juras de amor e fidelidade ao traficante nas redes sociais.

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AFP