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Vítimas pediram para motorista "maneirar" velocidade, diz sobrevivente de tragédia na BA

Ônibus que tombou em estrada e deixou 5 mortos em Piritiba (BA) - Divulgação
Ônibus que tombou em estrada e deixou 5 mortos em Piritiba (BA) Imagem: Divulgação

Alexandre Santos

Colaboração para o UOL, em Salvador

14/10/2017 18h13

“Vi quando o ônibus ficou derrapando no asfalto. Foi uma tragédia terrível.” Sobrevivente do acidente que deixou ao menos cinco mortos e 27 feridos após um ônibus tombar em Piritiba (BA), na manhã de quinta-feira (12), o comerciante Edimilson Pimentel, 50, disse que o motorista não atendeu a pedidos de passageiros para “maneirar” na velocidade. O temor, segundo ele, eram as curvas sinuosas da estrada palco da tragédia --a BA 421, na região da Chapada Diamantina.

“Pela experiência que tenho em 30 anos como motorista, o ônibus ia a uns 70 km, 80 km. Algumas pessoas dormiam, mas vi outras pedindo para que ele [o condutor] maneirasse, mas ele continuou correndo demais. Aliás, desde o começo do passeio, ele tinha saído em alta velocidade”, acrescenta Edimilson, que seguia com familiares numa excursão em comemoração ao Dia das Crianças. O veículo transportava 46 passageiros.

O destino do passeio, que teve início em Itaberaba, seria um parque aquático na cidade de Jacobina. Se chegasse ao fim, o trajeto entre um município e outro duraria cerca de duas horas. Na altura do km 17 da rodovia, próximo à fazenda Santa Luzia, o ônibus tombou na pista.

O ônibus começou a inclinar pro lado direito até virar de vez. Quando parou de se arrastar no asfalto, só foi braço, perna, muito sangue e muita gritaria. Pessoas feridas, desesperadas, pedindo socorro

Edimilson Pimentel, comerciante que sobreviveu à tragédia

Edimilson conta que viajava na companhia da esposa, Joisa Pimentel, 45, três primas, uma irmã e duas sobrinhas pequenas. Uma das meninas, Penélope Pimentel Lopes, 2, morreu antes mesmo de receber os primeiros socorros. O corpo dela foi velado na residência onde ela morava, em Itaberaba, e enterrado no cemitério local, na manhã de sexta-feira (13). Sua irmã gêmea, Pedrita Pimentel Lopes, não corre risco de morte.

Penélope Pimentel Lopes, 2, que morreu no acidente - Reprodução - Reprodução
Penélope Pimentel Lopes, 2, que morreu no acidente
Imagem: Reprodução

Prima do comerciante, a dona de casa Ana Carla Pimentel Santos, 35, teve o braço decepado. Ainda assim, em meio aos destroços e ferros retorcidos, fez de tudo para ajudar quem podia. "Fiquei acordada o tempo inteiro. Apesar de meu braço ter sido decepado, eu não fiquei desacordada. Eu ainda prestei socorro a outras pessoas", disse ela em entrevista à TV Subaé.

Antes de sair do veículo para buscar ajuda, o comerciante chegou a pensar que a companheira havia morrido. “Minha esposa ficou desmaiada por um tempo. Achei que ela tinha morrido. Com muita dificuldade, saí atrás de socorro. Lembro que o sinal do celular também não pegava. O socorro só começou a vir depois de 15, 20 minutos. Era ambulância atrás ambulância.”

O comerciante diz acreditar que os passageiros mais prejudicados foram aqueles que se sentaram na fileira à direita --lado para o qual o coletivo pendeu. Edimilson e Joisa estavam nas poltronas à esquerda.

“Eu fui na janela, e minha esposa, no corredor. Sofri arranhões e fiquei com uns estilhaços de vidro no pé. Isso deve ter sido na hora em que tentei ajudar as outras pessoas. Fui medicado, mas não tenho nada de mais grave”, afirma. A mulher dele, contudo, precisou ficar internada.

“Como ela teve o pulmão perfurado, ela perdeu muito sangue e teve que ser operada. A previsão é que na próxima segunda (16) ou terça (17) minha esposa receba alta”, diz Edimilson.

"Tive um mau pressentimento"

O comerciante diz ter sentido um “mau presságio” antes mesmo de sair de casa. No decorrer do trajeto, apesar da presença de duas palhaças contratadas para animar a criançada, ele afirma ter notado semblantes “tristes” e “desanimados” nos demais passageiros.

“Parecia que todo mundo estava adivinhando que aconteceria uma tragédia. Mesmo sendo um dia de festa, com umas pessoas cantando e gritando, tentando animar as crianças, o clima não estava bom.”

“Graças a Deus, não foi uma tragédia ainda maior. Fico sentido por minha sobrinha e pelas outras famílias, que também perderam seus entes queridos”, diz Edimilson.

Negligência, imprudência ou imperícia

O delegado Eduardo Brito, titular da 16 ª Coorpin (Coordenadoria Regional de Polícia do Interior) de Jacobina, afirmou ao UOL neste sábado (14) que o motorista alegou ter perdido o controle da direção do ônibus. Em depoimento, o condutor disse ser “acostumado a dirigir naquela pista”, por onde transitava há pelo menos dois anos.

À Polícia Civil, o rodoviário ainda justificou que o coletivo pode ter tombado após uma peça na barra de direção quebrar.

Brito, contudo, afirma que só o laudo pericial definitivo apontará com precisão as causas do acidente.

“Essa é a alegação do motorista. Creio que, até a semana que vem, a perícia vai precisar se a peça quebrou antes ou depois do acidente. Independentemente de ter sido falha mecânica ou falha humana, os responsáveis poderão responder por homicídio culposo. Seja por negligência, imprudência ou imperícia”, diz o delegado.

A reportagem não conseguiu falar com a Entram (Empresa de Transportes Macaubense), dona do veículo.