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Comandante da FAB diz que faltam recursos para voos de suprimento a bases militares nas fronteiras

Avião Hercules C-130 da Força Aérea pousa em base aérea - Rafael Andrade/Folha Imagem
Avião Hercules C-130 da Força Aérea pousa em base aérea Imagem: Rafael Andrade/Folha Imagem

Luis Kawaguti

Do UOL, em São Paulo

18/10/2017 13h39Atualizada em 18/10/2017 17h18

O comandante da FAB (Força Aérea Brasileira), tenente-brigadeiro do ar Nivaldo Luiz Rossato, afirmou que estão faltando recursos para a realização de voos frequentes de abastecimento destinados a pelotões especiais de fronteira do Exército, isolados em áreas remotas do Brasil. 

Os voos de apoio da FAB para bases do Exército na fronteira servem para levar comida, gás de cozinha, combustível, munições e outros itens básicos para guarnições isoladas na selva amazônica. Quando esses voos não são frequentes, o suprimento dos militares depende de pequenos comboios que seguem em pequenos barcos ou a pé pela selva em viagens que duram vários dias.

"Nós estamos voando 120 mil horas [por ano] e já voamos 200 mil horas. Temos uma grande quantidade de pilotos fora do voo por falta de recursos”, disse Rossato em entrevista ao UOL durante o Segundo Encontro Internacional Sobre Financiamento de Projetos de Defesa, em São Paulo.

Tenente-Brigadeiro do Ar Nivaldo Luís Rossato assume o Comando da Aeronáutica - Alan Marques/Folhapress - Alan Marques/Folhapress
O Tenente-Brigadeiro do Ar Nivaldo Luiz Rossato trabalha para reestruturar a FAB
Imagem: Alan Marques/Folhapress

Nos últimos cinco anos, as Forças Armadas sofreram com cortes de mais de 40% em seus orçamentos.

Segundo o comandante da FAB, além de não conseguir voar semanalmente para os 24 pelotões de fronteira do Exército na região amazônica, ainda haveria falta de recursos para levar suprimentos para bases militares em Porto Velho (RO), Boa Vista (RR), Manaus (AM), Belém (PA).

"Aquele militar que está a 2 mil quilômetros, a 3 mil quilômetros [dos centros urbanos], se ele tivesse toda a semana um avião pequeno o atendendo, ele ficaria feliz da vida. Se rareia isso é preciso ir de barco, o que dificulta o trabalho. Queríamos atendê-los com muito mais frequência", disse.

Os pelotões de fronteira são muitas vezes a única representação do Estado brasileiro em regiões remotas de selva. A função deles é proteger a fronteira de ameaças externas e combater o tráfico de armas de drogas.

Voos de apoio para a reconstrução da base da Marinha no continente Antártico também estariam sendo afetados.

03.mar.2008 - Capitão do Exército no Pelotão Especial de Fronteira de Cucuí - Luis Kawaguti/Folha Imagem - Luis Kawaguti/Folha Imagem
Capitão do Exército no Pelotão Especial de Fronteira de Cucuí
Imagem: Luis Kawaguti/Folha Imagem

O comandante afirmou que a FAB vai propor ao Ministério da Defesa que antecipe a disponibilização de recursos para atender o Exército e a Marinha. A FAB afirmou que a proposta ainda não foi formalizada e a pasta deve se manifestar sobre a ideia após analisá-la.

Reestruturação

Rossato também disse que a FAB está apostando em recursos de tecnologia da informação e na contratação de militares temporários para tentar fechar até 25 mil vagas nos próximos 20 anos. Hoje a Força Aérea tem cerca de 70 mil militares.

Ele afirmou, porém, que o processo de reestruturação da Aeronáutica não está relacionado aos cortes de orçamento nas Forças Armadas.

A redução de tamanho da FAB, que começou em 2015, está relacionada às novas características da aviação, que necessitaria mais de alta tecnologia do que de pessoal.

Bases aéreas antigamente necessárias para proteger todo o território nacional estão sendo fechadas. Isso porque os aviões modernos têm velocidade e autonomia de voo para para atingir regiões distantes sem bases de apoio.

"Mas nós não vamos demitir ninguém, nós deixamos de ingressar gente nova na Força Aérea e colocamos pessoal temporário”, disse o comandante. As escolas de formação da Aeronáutica estão tentando reduzir pela metade o número de alunos.

Segundo ele, enquanto isso os oficiais de carreira vão se aposentando naturalmente. Muitos postos vão então sendo substituídos por vagas de oficiais temporários.

"Temos engenheiros, médicos, dentistas, comunicadores, todo o tipo de especialização. Esse pessoal entra e permanece por até oito anos. Eles já vêm prontos do mercado e crescem profissionalmente”. Outro fator de redução de custos é que a FAB não precisa pagar pensões aos temporários.

Questionado se isso não reduz a capacidade da Força Aérea, Rossato disse que não. Segundo ele, a economia de recursos poderia ser usada para outros destinos, se isso for autorizado pelo Legislativo.