Polícia vai indiciar agência de turismo e guia contratadas por espanhola morta na Rocinha
A delegada titular da Deat (Delegacia Especial de Apoio ao Turista), Valéria Aragão, afirmou nesta quarta-feira (25) que serão indiciados os sócios da agência de turismo responsável pelo passeio que terminou com a morte da turista espanhola Maria Esperanza Ruiz Jimenez, 67, baleada por um policial militar na favela da Rocinha, na zona sul do Rio de Janeiro, na última segunda (25).
Um dos proprietários da empresa foi identificado como Gian Luca Fabris. Ele vai responder, caso seja denunciado à Justiça, por omissão de informações de segurança ao consumidor.
Rosângela Cunha, a guia turística que acompanhava Maria Esperanza no passeio, também será indiciada, de acordo com a delegada.
Para a titular da Deat, nem ela nem os donos da agência alertaram a espanhola sobre o cenário de violência na Rocinha, que tem sido palco de tiroteios por conta de uma disputa entre grupos rivais pelo controle do tráfico de drogas. Os confrontos têm ocorrido há mais de um mês.
"A questão é que os turistas não foram informados sobre a realidade da Rocinha. A favela foi sugerida ao grupo. Eles ficaram animados. Afinal, a Rocinha é uma comunidade conhecida no mundo. Eles não sabiam que o passeio estava se encaminhando para uma tragédia", afirmou a delegada.
Maria Esperanza foi morta com um tiro no pescoço quando descia a favela, após o passeio turístico. Segundo a polícia, o disparo teria saído da arma do tenente da Polícia Militar Davi dos Santos Ribeiro, 30, que achou que se tratava de um veículo suspeito.
No carro, estavam Maria Esperanza, o irmão, a cunhada, a guia e o motorista (apenas a espanhola foi atingida). A tragédia ocorreu por volta das 10h30 em uma localidade conhecida como largo do Boiadeiro. Cerca de duas horas antes, segundo a DH (Divisão de Homicídios da Polícia Civil), houve um confronto armado entre policiais e traficantes na região.
Os sócios da agência e a guia turística também podem ser indiciados pelo crime de homicídio, segundo a polícia, mas isso ainda depende de um estudo penal por parte da Deat. "Vai ter que ser feito um estudo jurídico sobre essa possibilidade de imputação criminal. Existe também a possibilidade de imputação cível por parte dos familiares da vítima. Isso tudo vai ser estudado", afirmou Valéria, na segunda-feira (23).
O motorista, um italiano radicado no Brasil que prestava serviço para a empresa de turismo, também poderá ser responsabilizado. “Estou vendo a possibilidade de incluir o motorista também neste processo", disse a policial.
Em depoimento, Rosângela afirmou à Deat que havia consultado um outro guia, morador da Rocinha, sobre as condições de segurança na região. O profissional, identificado como Leonardo Soares Leopoldino, foi posteriormente chamado para depor e acabou negando essa informação.
Por conta da contradição, Valéria estuda a possibilidade de pedir uma acareação. “O guia local disse que não recomendou o passeio. Que como morador não se sentia seguro na região e a Rosângela disse que ele havia dito apenas que a região estava tensa, porém tranquila."
A guia que acompanhava a vítima também disse à polícia que já esteve mais de 150 vezes na comunidade. "Isso é mais um indicativo de que ela tinha conhecimento sobre os problemas na região. Confirmou que notou a presença forte da polícia na favela. Isso no Brasil indica operação policial, não que a região está mais segura. Ela parece não ter buscado informações sobre o local antes de levar o grupo."
A reportagem do UOL procura os guias para que eles se manifestem sobre o caso, mas eles não foram localizados.
Prisões
Foram detidos em flagrante, horas após o crime, o tenente Davi dos Santos Ribeiro e um outro policial que participou da ação, o soldado Luís Eduardo de Noronha Rangel. Os dois atiraram, mas somente o tenente alvejou veículo --o colega teria atirado para cima, de acordo com a DH.
Por esse motivo, apenas Ribeiro foi indiciado pelo crime de homicídio qualificado no âmbito da Justiça comum. Na esfera militar, por sua vez, ambos são investigados.
Na terça-feira (30), o juiz Juarez Costa de Andrade concedeu liberdade provisória ao tenente apontado como autor do disparo fatal. O alvará de soltura expedido em audiência de custódia, no entanto, vale apenas para a Justiça comum. Como o oficial também é investigado na esfera militar e está preso em flagrante por determinação da Corregedoria da PM, ele continuará detido na unidade prisional da corporação, em Niterói, na região metropolitana do Estado.
Na decisão, o magistrado rejeitou o pedido do Ministério Público do Estado, que, com base na investigação da Polícia Civil, havia solicitado a conversão da prisão em flagrante para preventiva. De acordo com o delegado responsável pelo caso, Fábio Cardoso, não há dúvida de que a turista espanhola foi vítima de um homicídio qualificado.
"Foi um tiro de fuzil, que acertou o pescoço da vítima por trás. Ele tangenciou pelo pescoço, foi um tiro de alta energia e que causou uma lesão muito grande."
A reportagem não localizou a defesa do tenente suspeito de ter atirado contra o carro dos turistas.
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