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Rio: roubos em região onde comandante de batalhão da PM foi morto aumentaram 38% no ano

26.out.2017 - Carro onde tenente coronel estava foi atingido por ao menos 17 tiros - Reprodução
26.out.2017 - Carro onde tenente coronel estava foi atingido por ao menos 17 tiros Imagem: Reprodução

Marina Lang

Colaboração para o UOL, no Rio

27/10/2017 04h00

A região onde atua o 3º Batalhão da Polícia Militar do Rio de Janeiro, cujo comandante foi assassinado na quinta-feira (26), registrou neste ano um aumento de 38,5% do número de roubos. Foram 10.351 ocorrências nos primeiros oito meses deste ano contra 7.476 no mesmo período do ano passado. A área abrange 22 bairros da zona norte carioca, entre eles, Méier, Abolição, Engenho de Dentro, Pilares, Jacarezinho e Inhaúma.

A polícia investiga se o tenente-coronel Luiz Gustavo de Lima Teixeira, 48, foi assassinado a tiros após reagir a uma tentativa de assalto --a hipótese de homicídio planejado não é descartada.

O crime ocorreu na rua Hermengarda, no Méier, zona norte. O oficial, que será sepultado na tarde desta quinta-feira (27), estava em um carro descaracterizado, mas usava farda de policial. Ao menos 17 tiros atingiram o veículo.

comandante batalhão Rio - Divulgação/PMERJ - Divulgação/PMERJ
O comandante do 3º BPM, Luiz Gustavo de Lima Teixeira
Imagem: Divulgação/PMERJ

De janeiro a agosto, foram contabilizados 303 assaltos a comércios da região, 29 roubos a residência, 2.229 roubos de veículos, 415 assaltos em transporte público e 978 roubos de celular. Os assaltos a transeuntes cresceram 8%, para 3.658 casos até agosto ante o mesmo intervalo do ano passado. Outros tipos de roubo, como bancos e cargas, somaram 6387 no período.

Após o assassinato do oficial, a Polícia Militar colocou em curso ação ostensiva para identificar, localizar e prender os envolvidos no crime. Foram mobilizados cinco batalhões e 300 PMs em operações na região do Méier e favelas do Complexo do Lins, na zona norte da capital fluminense.

Teixeira foi o 111º policial militar morto no Estado do Rio de Janeiro. De acordo com levantamento do UOL, feito em agosto, quatro em cada dez policiais assassinados reagiram ou foram vítimas de assalto no Rio.

Na tarde de quinta (26), um PM que estava de folga morreu ao reagir a um assalto a uma joalheria em um shopping de Guadalupe, zona norte. Com isso, o total de policiais militares mortos subiu para 112.

Ainda segundo o ISP, nos primeiros oito meses do ano, a região do 3º BPM contabilizou 80 homicídios dolosos, 34 mortes por intervenção policial e 175 tentativas de assassinato.

O UOL procurou a Secretaria de Segurança sobre o aumento da criminalidade na área, mas a pasta ainda não se manifestou.

“Rio de Janeiro está fora de controle”

Para João Trajano de Lima Semto-Sé, cientista político e pesquisador do laboratório da análise da violência da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), os dados levantados pela reportagem são apenas um sintoma de um problema muito maior.

“O que temos de fato é: o Rio de Janeiro está fora de controle em função da crise política que afeta o Estado. Isso certamente tem um reflexo na segurança pública", opina ele. "A crise é uma crise sobre as políticas que vêm sendo adotadas, da falta de recursos a serem investidos. O Estado em geral e a região metropolitana do Rio estão refletindo um cenário de crise sem proporções, sem igual na nossa história.”

O especialista observa, também, um padrão entre as mortes de oficiais da polícia. “Há um grande volume de policiais sendo mortos, sobretudo fora do serviço. Em geral são pessoas que andam armadas e que, em situação de assalto ou tentativa de assalto, reagem ou são identificadas. E aí acabam sendo vitimadas pela violência letal. Realmente, você tem um quadro, um cenário geral ruim e desfavorável que se sobrepõe a qualquer cenário pontual.”

Ele avalia o atual momento do Rio de Janeiro como “muito delicado”. “De recrudescimento da violência em geral, de muitos conflitos em torno da disputa por pontos do tráfico. Estamos sofrendo muito, também, em função do volume de armas de fogo que estão na rua e pelo recrudescimento da força da polícia. Isso tudo converge para a construção de um cenário muito ruim, muito negativo”, afirma.

“Tanto esse episódio quanto outros envolvendo homicídios de policiais tinham que ser esclarecidos e investigados porque a gente está vendo esses números crescerem, a mídia trata como um número enorme, mas a gente sabe pouco das circunstâncias desses homicídios. São tentativas de assalto? São latrocínios? São ajustes de contas? Quase não sabemos", conclui Semto-Sé.