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Ela é escritora, desenvolve projetos sociais, pratica esporte e tem 93 anos

Leonardo Costas

Colaboração para o UOL, em Santos (SP)

03/11/2017 04h00

Acordar cedo, cuidar da casa, lavar roupa, fazer comida, praticar esportes quatro vezes por semana e trabalhar são atividades que fazem parte do cotidiano de muitas pessoas. A rotina de Lilia Sampaio de Souza Pinto, uma simpática moradora de Santos (litoral de São Paulo), também é assim. A única diferença é que ela faz tudo isso e muito mais aos 93 anos de idade.

Nascida em 1923 em Araraquara, interior de São Paulo, formada em pedagogia pela Unesp (Universidade Estadual Paulista), dona Lilia é uma mulher independente que vai completar mais um aniversário no próximo sábado (4). Mora sozinha em seu apartamento, embora sempre receba a visita da família de quatro filhos, 11 netos e 8 bisnetos (o nono está a caminho).

Sempre animada, acorda por volta das 7 horas e vai dormir somente às 2 horas da manhã. “É o suficiente pra mim”, afirma. Faz pilates, tai-chi-chuan e alongamento, o que ajuda manter sua saúde. Toma apenas dois remédios, sendo um para pressão e outro diurético, e vai ao médico apenas para acompanhamento de rotina. Em relação à alimentação, diz não ter restrições. “Como de tudo, mas não abuso, por exemplo, nas frituras. Também gosto de beber um vinho, licor e uísque com guaraná de vez em quando”, diz. 

Essa disposição a acompanha desde a juventude e ajudou a vencer as inúmeras dificuldades da vida, inclusive com seu marido, com o qual quase completou bodas de diamante. “Usei todos os recursos para ajudá-lo a vencer o alcoolismo. Comecei a me informar sobre o assunto e entender essa doença. Aliás, eu sempre busquei conhecer tudo sobre o que me interessava ou envolvia. Não gosto do desconhecido”, comenta dona Lilian. Seu companheiro de vida faleceu em 2006, mas ela continuou na ativa com inúmeros projetos, como o de escrever o livro “Aquele Presente de Aniversário”, onde retrata uma viagem à Europa que fez em comemoração aos seus 90 anos. O livro foi publicado em uma edição pequena, de cerca de 100 exemplares, distribuídos entre amigos e familiares.

Atualizada com o que acontece no mundo, arruma tempo para administrar um blog (volilia.blogspot.com.br). Além disso, é membro do conselho administrativo do prédio em que reside, atua junto à Prefeitura de Santos no Conselho Municipal do Idoso e dedica parte da semana a um projeto de sua autoria voltado a moradias compartilhadas e sustentáveis para idosos, o qual ela batizou de Ecovila Sênior.

Sempre tenho muitas coisas para fazer no dia e escolho algumas. Na verdade, eu busco problemas do cotidiano, pois eu vejo o mundo de uma forma e começo a questionar. Isso forma uma cadeia de ideias, faz minha cabeça girar. Procuro desenvolver respostas e caminho desta forma, pois entendo que o remédio da longevidade é o trabalho.”

Foi seguindo esta filosofia que dona Lilia começou a desenvolver a Ecovila Sênior. Ao pesquisar sobre o assunto, observou que as moradias compartilhadas tiveram início nos anos 60, 70 na Dinamarca e hoje estão presentes em mais de 20 países. “A ideia é transportar esse conceito para a necessidade do idoso, fazendo algo sustentável onde ele possa morar e trabalhar de acordo com suas condições e limitações. A vida do idoso começa na aposentadoria e, como nos dias de hoje se vive cada vez mais, ele pode ter autonomia e independência para preparar sua própria velhice”, explica.

Atualmente, ela está levantando dados e fará uma pesquisa, com o apoio do Sesc (Serviço Social do Comércio), com mais de 300 idosos de Santos. Como faz parte do Conselho Municipal do Idoso, também vai visitar os bairros da cidade para conhecer o perfil dos idosos que vivem nesses locais. “Quando tiver esses dados em mãos, vou apresentar o projeto para as empresas. Existem algumas start-ups (empresas emergentes) interessadas”, afirma.

Após concluir a Ecovila Sênior, dona Lilia ainda estuda o que vai fazer, mas garante que vai por em prática o que mais sabe: curtir o agora. “Sempre vi o lado bom das coisas. Para isso, busco filtrar as boas recordações do passado, contribuir com mudanças positivas no futuro e viver o presente. Aliás, essa é minha dica: viva o agora, pois nossa vida é uma sucessão de agoras.”