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Militares dos EUA e do Brasil aprofundam relações em exercício militar na Amazônia, diz general

Militares simulam recepção e triagem de refugiados em Tabatinga (AM) - Agência Brasil - Agência Brasil
Militares simulam recepção e triagem de refugiados em Tabatinga (AM)
Imagem: Agência Brasil

Luis Kawaguti

Do UOL, em São Paulo

11/11/2017 04h00

O general do Exército Antônio Manoel de Barros afirmou que o contato diário durante a coordenação de um exercício militar no Amazonas está aprofundando relações entre oficiais do Brasil e dos Estados Unidos.

Militares dos dois países, forças da Colômbia e do Peru e observadores de mais de 20 nações estão participando do exercício Amazonlog 17. Ele simula a criação de uma base militar multinacional humanitária em Tabatinga (AM), cidade situada em região de selva na fronteira com a Colômbia e com o Peru. A ideia é que em uma situação real, a base seria montada de forma temporária para fornecer ajuda para vítimas de catástrofes ou ondas de imigrantes.

“É interessante essa troca de experiências. Dentro desse contato no Estado Maior [órgão que coordena o exercício], a relação entre os oficiais [do Brasil e dos EUA] começou bem formal, mas foi se aprofundando”, disse Barros, que é o chefe do Estado Maior Combinado do Amazonlog.

Ele disse que esse processo de integração também está acontecendo de forma equivalente em relação à Colômbia e ao Peru.

Oficiais do Brasil, Estados Unidos, Colômbia e Peru coordenam exercício militar no Amazonas - Agência Brasil - Agência Brasil
Oficiais do Brasil, Estados Unidos, Colômbia e Peru coordenam exercício militar no Amazonas
Imagem: Agência Brasil

A participação americana no exercício brasileiro gerou polêmica no Brasil. Parlamentares de partidos de esquerda questionaram o motivo da presença americana na região amazônica alegando questões de soberania.

O Exército afirmou que não deve haver preocupação com questões de soberania porque os norte-americanos foram convidados para participar. A ideia é que eles compartilhem com o Brasil sua experiência logística no socorro a catástrofes. 

Além disso, críticos do exercício disseram que o evento sinalizaria uma aproximação militar do Brasil em relação aos Estados Unidos e, como consequência, um suposto afastamento do Conselho de Defesa da Unasul (União de Nações Sul-Americanas).

Apoiadores do treinamento disseram, por sua vez, que uma eventual aproximação militar com os Estados Unidos não enfraquece a Unasul e pode gerar oportunidades comerciais.

Para realizar o exercício, as Forças Armadas transportaram 500 toneladas de equipamentos de diversos pontos do país para Tabatinga, além de cerca de 500 kg de medicamentos para atender a população da região. O custo da manobra é de cerca de R$ 15 milhões (recursos das Forças Armadas)

Refugiados  

Um dos objetivos do exercício é fornecer ajuda humanitária a possíveis ondas de refugiados ou imigrantes.

Cerca de cem moradores da região de fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru atuaram como “figurantes” nesta semana. Eles participaram de um cenário hipotético no qual ondas de refugiados cruzam a fronteira brasileira.

Na representação no exercício, esses refugiados estavam deixando suas casas e indo para a cidade de Tabatinga para obter ajuda devido a um período de seca, segundo informações da "Agência Brasil".

Mas, na prática, os militares treinam tendo em mente que podem ser acionados para oferecer ajuda humanitária para imigrantes na hipótese de um agravamento da crise na Venezuela ou no caso de eventuais movimentos migratórios provocados pelo processo de paz com guerrilhas na Colômbia. O fluxo de imigrantes desses países para o Brasil não é considerado atualmente situação emergencial. 

Outras possibilidades de acionamento dos militares são casos de catástrofes naturais nas Américas, como terremotos, maremotos, secas e enchentes.

No exercício, segundo Barros, foram simuladas diversas etapas de atendimento aos refugiados: cadastramento, tradução do idioma, triagem, inspeção sanitária, fornecimento de alimentos, roupas e alojamento, além de criação de opções de lazer e de atendimento religioso.

A etapa seguinte, no caso de uma crise real, seria o encaminhamento dos imigrantes para outras regiões do país, em uma segunda fase do processo de apoio.

“Mas não há uma fórmula única, na prática cada situação é diferente”, disse o general.

Cerca de 2.000 pessoas estão participando do exercício --cerca de 1.500 militares do Brasil, 150 da Colômbia, 120 do Peru e 30 dos Estados Unidos. Também participam membros da Defesa Civil do Brasil e dos países vizinhos e representantes de agências civis e universidades.

O exercício começou no último dia 6 e deve terminar na segunda-feira (13).