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Quantidade de dinamite roubado em SP é 12 vezes maior que a usada para implodir Carandiru

Três pavilhões do Complexo do Carandiru, em São Paulo, foram implodidos em 2002. A implosão durou sete segundos e ocorreu dez anos após o massacre no qual morreram 111 presos. O maior presídio da América Latina tinha mais de 7 mil presos. Em seu lugar, foi construído o Parque da Juventude - Angelo Perosa/Pool - Angelo Perosa/Pool
Implosão de três pavilhões do antigo Carandiru, em 2002
Imagem: Angelo Perosa/Pool

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

17/11/2017 22h57Atualizada em 18/11/2017 11h41

O Exército determinou a abertura de um inquérito administrativo para apurar as condições em que estavam estocadas as três toneladas de dinamite roubadas na noite dessa quinta-feira (16) de uma mineradora em Salto de Pirapora (124 km de São Paulo). A quantidade levada pelos criminosos corresponde, por exemplo, a 12 vezes o total de dinamite utilizado (250 kg) para implodir três pavilhões da antiga Casa de Detenção do Estado, o Carandiru, na zona norte de São Paulo, em dezembro de 2002, segundo especialista ouvido pela reportagem.

“Em 2002, para três pavilhões do Carandiru, usamos 250 quilos de dinamite. Três toneladas equivalem a 12 vezes uma implosão desse porte”, afirmou o engenheiro de mineração Manoel Jorge Diniz Dias, que foi o responsável técnico pelas implosões de quatro pavilhões do Carandiru –três em dezembro de 2002, e um, em julho de 2005.

O assalto à mineradora aconteceu por volta das 23h de quinta, quando ao menos cinco criminosos encapuzados, segundo a Polícia Civil, renderam quatro funcionários da empresa, localizada no bairro Piraporinha, os obrigaram a transferir 124 caixas de bananas de dinamite para um caminhão baú e fugiram.

De acordo com o chefe da Comunicação Social do Comando Militar do Sudeste, coronel Igor Boechat, o inquérito vai apurar se houve falhas de segurança por parte da mineradora nos critérios de armazenamento do material determinados pelo Exército, bem como se há aspectos a serem aprimorados sobre isso.

Segundo o coronel, este ano a empresa passou por duas inspeções do Exército, sem que nada de anormal tivesse sido constatado no acondicionamento do material explosivo.

“Nas duas inspeções, as condições de armazenamento e segurança mostraram que a mineradora seguia habilitada para estocar e transportar os explosivos. Agora, com o roubo de um material muito expressivo como esse, precisamos apurar se a empresa deixou de observar alguma coisa, ou de tomar algum cuidado – se sim, poderá ser penalizada”, disse. Entre as penalidades, estão desde multas e advertência à perda da autorização para estocar o material.

Boechat disse acreditar que roubos do tipo abasteçam o mercado negro de assaltantes de caixas eletrônicos, principalmente, a contar por experiências anteriores.

A hipótese de roubo para venda no mercado negro é compartilhada pelo engenheiro de mineração que foi responsável técnico pelas implosões do Carandiru.

“Esse volume roubado ontem à noite é muito grande, até em vista do que se usa, em geral, nesses atentados contra caixas eletrônicos”, afirmou Dias.

Na Polícia Civil de Salto, a informação no final desta tarde é a de que os quatro funcionários rendidos e aprisionados pelos assaltantes prestaram depoimento durante o dia. Outros funcionários devem ser ouvidos nos próximos dias. Imagens de segurança da mineradora também foram disponibilizadas às equipes de investigação. Até as 18h, ninguém havia ainda sido preso.