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Após implementação de principal bandeira de Alckmin para segurança, média de roubos sobe

Alerta do sistema é enviado ao Copom (Centro de Operações da Polícia Militar) - Adriano Vizoni/Folhapress
Alerta do sistema é enviado ao Copom (Centro de Operações da Polícia Militar) Imagem: Adriano Vizoni/Folhapress

Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

12/12/2017 04h00Atualizada em 12/12/2017 21h53

Apenas duas polícias do mundo utilizam um sistema de monitoramento da criminalidade que é capaz de identificar uma atitude suspeita e alertar policiais: Nova York e São Paulo. Nos Estados Unidos, a tecnologia foi implantada em 2007. No Brasil, no segundo semestre de 2014, em plena campanha eleitoral.

O sistema, denominado Detecta, foi a principal bandeira de segurança pública do governador Geraldo Alckmin (PSDB) para sua reeleição em 2014. No entanto, entre 2015, quando o sistema terminou de ser implantado, e 2017, os dados indicam que a tecnologia não conseguiu trazer resultados significantes no combate ao crime.

O número geral de roubos registrados no Estado sofreu aumento entre 2014 e 2016. Já a Secretaria de Segurança Pública afirmou que o sistema contribuiu para a redução de roubos e furtos de veículos no mesmo período, além de ajudar em investigações da Polícia Civil. 

Segundo pesquisa Datafolha, divulgada no último dia 3, quem mora em São Paulo analisa que os principais problemas do Estado estão relacionados a saúde (36%) e segurança pública (20%). Ou seja, de acordo com o levantamento, os dois assuntos representariam 56% dos problemas.

Em pré-campanha para a disputa da eleição presidencial do ano que vem, Alckmin assumiu a presidência do PSDB neste sábado (9). O tucano passa a acumular o cargo de governador e de presidente do partido junto com as articulações da pré-campanha à Presidência.

De acordo com o governo do Estado de São Paulo, até novembro deste ano, 5.851 pessoas foram presas em flagrante com a ajuda do Detecta, além de 4.185 carros terem sido interceptados e 375 armas de fogo terem sido apreendidas.

Os presos em flagrante desde o início do programa equivalem a 0,4% do total de roubos, incluindo os de carros, bancos e cargas, no Estado no mesmo período.

Segundo o governo estadual, além da ajuda à PM (Polícia Militar) para prevenir roubos, o Detecta também auxilia as investigações da Polícia Civil.

Detecta foi a principal proposta de Alckmin para segurança pública na eleição de 2014

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Isso ocorreu, por exemplo, nos casos do sequestro da sogra do chefe da Fórmula 1, Bernie Ecclestone, do roubo seguido de morte que vitimou o delegado José Antônio do Nascimento, morto em janeiro deste ano, e na prisão do criminoso que assassinou o dentista Pedro Garcia Neto no mês de março.

Após a publicação da reportagem, a Secretaria de Segurança Pública entrou em contato com o UOL para reafirmar que o sistema de câmeras também colabora com as investigações da Polícia Civil e lembrou da prisão de uma quadrilha de roubo a residências no Morumbi como outro exemplo.

Isso significa que informações obtidas por meio do Detecta resultaram em um número maior de pessoas presas, carros localizados e armas apreendidas do que os registros em flagrante atribuídos diretamente ao sistema pelo governo do Estado.

Mas não é possível mensurar o número exato de investigações que se beneficiaram das informações do Detecta devido à natureza do sistema de registro dos crimes.

Índices de criminalidade

Atualmente, são 5.842 câmeras do Detecta espalhadas em ao menos 2.155 pontos de todo o Estado, sendo que 2.874 estão em 928 locais da capital paulista. O investimento do governo Alckmin com a tecnologia girou em torno de R$ 30 milhões.

Apesar disso, os índices da criminalidade não apresentaram queda no Estado, que, aliás, teve aumento na média de roubos para mais de 1.000 a cada dia.

No segundo semestre de 2014, quando a tecnologia começou a ser implantada, a média de roubos no Estado foi de 1.087 ao dia.

Todo o sistema foi entregue por completo no segundo semestre de 2015. Com o Detecta em ação no primeiro ano, o índice de roubos baixou para 1.057 por dia. No entanto, em 2016, voltou a subir: diariamente, a média foi para 1.099 roubos.

Entre janeiro e outubro de 2017, foram registrados em delegacias do Estado 315.323 roubos --média de 1.040 por dia.

A Secretaria da Segurança Pública afirmou que a reportagem estaria errada ao afirmar que o Detecta não trouxe resultados significativos no combate ao crime. Apesar de não contestar a elevação no número de roubos, a pasta disse que houve uma redução de 14,7% nos casos de roubos e furtos especificamente de veículos -- de cerca de 221 mil casos em 2014 para aproximadamente 188 mil em 2016. 

O índice de presos através do Detecta representa apenas 2,5% do total de presos no Estado que, atualmente, mantém 227.317 pessoas no cárcere. A SAP (Secretaria da Administração Penitenciária), porém, esclarece que nem todos os detidos com auxílio da tecnologia entram na estatística, porque há aqueles levados por PMs a delegacias que são liberados através de audiência de custódia.

"A implantação do Detecta teve início em agosto de 2014 e foi concluída em 2015. Hoje, o sistema integra bancos de dados das polícias paulistas e é o maior big data da América Latina", informou o governo de São Paulo ao UOL.

Para a delegada Raquel Kobashi Gallinati, presidente do sindicato dos delegados do Estado, o sistema é bom. No entanto, o deficit de policiais para manuseá-lo faz com que ele não tenha a eficiência esperada. "Todo tipo de implementação é super bem-vinda. Mas o que eu posso afirmar categoricamente é que não adianta implementação de tecnologia sem implementação de estrutura e de policiais que operem essa tecnologia", afirmou ao UOL.

A Secretaria da Segurança Pública afirmou que o déficit de policiais não compromete a tecnologia, como foi afirmado pelo sindicato. "Pelo contrário, a tecnologia aumenta a eficiência do trabalho policial permitindo a cobertura simultânea de várias áreas", afirmou a pasta em nota. 

"O Sistema Detecta é mais uma ferramenta de inteligência utilizada pelas forças de segurança do Estado no combate à criminalidade. Seu principal objetivo é auxiliar às atividades ostensivas e preventivas contribuindo na investigação e esclarecimentos de crimes, qualificando e modernizando o trabalho policial", afirmou a secretaria. 

A pasta afirmou ainda que São Paulo tem a maior força policial do país, com mais de 118 mil policiais, e disse que mais 2.750 vagas serão abertas na Polícia Civil. Informou também que mais 1.989 policiais militares já foram empossados e ingressaram na Escola Superior de Soldados. Outros 281 novos soldados se formaram e irão reforçar o policiamento no litoral do Estado.

Dois PMs e um investigador em atividade, entrevistados sob anonimato, afirmaram à reportagem que o Detecta não é tão eficiente quanto os trabalhos já feitos de inteligência, patrulha e diligência. "Quando foi prometido, achamos que iria melhorar. Mas está igual. Nem melhor, nem pior. Como se não existisse", disse um policial militar que atua na região central de São Paulo.

Geraldo Alckmin durante campanha eleitoral para governador de SP, em 2014 - Reprodução - Reprodução
Geraldo Alckmin durante campanha eleitoral para governador de SP, em 2014
Imagem: Reprodução

Enquanto isso, em Nova York, com o auxílio da mesma tecnologia e com a interrupção de brigas de gangues locais, a cidade norte-americana registrou no início de 2017 o menor número de crimes em 25 anos.

Na prática, a inovação tecnológica, que foi utilizada como principal proposta na campanha eleitoral de 2014, funciona a partir das câmeras espalhadas pelo Estado que têm a capacidade de identificar atitudes suspeitas e avisar a central da PM, que, assim, pode enviar policiais ao local.

Um exemplo é quando um homem de capacete tenta entrar em uma loja. Ao detectar uma atitude suspeita o rapaz, a câmera envia ao centro de monitoramento da PM, com um alerta, que há uma atitude suspeita. Na sequência, dados da criminalidade da região aparecem para os policiais, em um tablet, para que eles possam saber se o risco da então atitude suspeita é maior ou menor.