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Brasileiro vence prêmio internacional com mutirões em comunidades carentes

O arquiteto Rodrigo Alonso, do Instituto Elos, venceu prêmio internacional - Divulgação/Elos
O arquiteto Rodrigo Alonso, do Instituto Elos, venceu prêmio internacional Imagem: Divulgação/Elos

Maíra Teixeira

Colaboração para o UOL, em São Paulo

13/12/2017 04h00

"Eu não preciso ser uma pessoa importante, mas preciso trabalhar em algo importante."

Esta frase, repetida muitas vezes pelo arquiteto Rodrigo Rubido Alonso, 42, pode indicar por que o brasileiro ganhou neste ano o prêmio Eliasson Global Leadership, entregue na Universidade Columbia (EUA) no último dia 29 de novembro.

O prêmio é concedido pela Fundação Tällberg em homenagem a pessoas que promovam a inovação social. A instituição tem a missão de achar lideranças que respondam à pergunta "Como podemos viver juntos no mundo?".

Personalidades como o ex-secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas) Kofi Annan (em 2008) e os empresários Melinda e Bill Gates (em 2012) já foram contemplados pela iniciativa, que acontece desde 2005.

Alonso, que vive em Santos (SP), foi escolhido pela dedicação à liderança participativa, mobilização e construção de comunidades. Ele é diretor-executivo e cofundador do Instituto Elos, organização que faz estratégias de transformação social, em favelas, escolas e bairros.

Um exemplo da atuação do Elos é na instalação de uma empresa em uma comunidade. O instituto cria um apoio e um diálogo entre as pessoas do bairro para construir algo para a sociedade local, como uma praça. 

"Meu trabalho é facilitar as conversas e manter as pessoas juntas. Temos pessoas com ideias fortes e capacidade de realização e nem sempre é tranquilo um ambiente com tantas capacidades. Valorizo o melhor de cada um e tento amenizar as arestas", diz Alonso em entrevista ao UOL.

Escolha inédita premiou 4 personalidades

Pela primeira vez, quatro pessoas dividiram o prêmio, entre 250 indicados de todo o mundo. Segundo a organização, a escolha inédita se deu porque os "finalistas eram incomparáveis".

Além do brasileiro, ganharam Rebecca Heller (pelo trabalho de apoio jurídico aos refugiados que chegam aos Estados Unidos), Fiorenzo Omenetto (pelo pioneirismo ao usar a seda como plataforma material para tecnologia avançada) e Bright Simons (pela capacidade de integrar tecnologia, empreendedorismo e política para o desenvolvimento em Gana, na África).

Só concorrem ao prêmio pessoas indicadas pela sociedade e não é possível inscrever a si mesmo nem saber quem o indicou. O júri é formado por dez pessoas, entre políticos, empresários, cientistas, refugiados e curadores de arte. O prêmio leva o nome do diplomata sueco Jan Eliasson, que já foi vice-secretário-geral da ONU.

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Rodrigo Alonso, durante atividade do Elos em comunidade
Imagem: Paulo Pereira/Elos

O Instituto Elos foi fundado em 2000 e desenvolve trabalhos em 49 países, em mais de 400 comunidades. Chamados de Guerreiros sem Armas, os participantes já são 519 e já ajudaram diretamente estimadas 250 mil pessoas.

"Eles são os responsáveis por levar nosso trabalho tão longe", elogia Alonso. "O programa Guerreiros sem Armas é como se fosse nosso curso profissionalizante. Formamos turmas de até 60 pessoas de diversas partes do mundo. Elas vêm a Santos e participam de uma imersão de 32 dias, mas o aprendizado dura ao menos um ano."

Meu trabalho é facilitar as conversas e manter as pessoas juntas. Valorizo o melhor de cada um e tento amenizar as arestas

Rodrigo Alonso, arquiteto

A rede de "guerreiros" foi criada para fortalecer e apoiar propostas no mundo todo, com ou sem a participação direta do Elos.

Projeto começou com mutirão em Santos

Alonso dedicou o prêmio a todos os que já passaram pelo projeto.

"Nosso começo foi com um grupo de amigos da faculdade que começou a fazer coisas que deram certo. Uma das coisas que mais nos orgulha no Elos é que nascemos de um coletivo. Não foi ideia de uma pessoa, mas de um grupo. Nós nos inspirávamos com o que outras pessoas faziam."

O instituto surgiu após um mutirão liderado pelo grupo de estudantes para a reforma do Museu da Pesca, em Santos.

"Todos nós estávamos na faculdade e nos perguntávamos por que a arquitetura não era usada para as pessoas. Nós fomos para as ruas e mobilizamos vizinhos e colegas para botar a mão na massa e reabrir o prédio, que estava em ruínas", conta ele.

"Pedíamos ajuda e recursos e envolvemos dezenas de pessoas. Nosso trabalho começou ali, conectando pessoas, suas habilidades, criando rede para transformar comunidades."

Daquela primeira mobilização participaram dezenas de pessoas. Mas duas delas têm uma conexão especial: Mariana Gauche Motta e Natasha Mendes Gabriel trabalham na instituição até hoje.

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Atividade dos Guerreiros sem Armas, participantes envolvidos com as comunidades
Imagem: Divulgação/Elos