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Venezuelana deixa filhos para fugir de violência e recomeça vida no Brasil: "Está muito, muito feio lá"

Yimerlis - Bruna Prado/UOL - Bruna Prado/UOL
A venezuelana Yimerlis Yacely Rodríguez pediu refúgio no Brasil
Imagem: Bruna Prado/UOL

Carolina Farias

Colaboração para o UOL, no Rio

24/12/2017 04h00

A crise pela qual passa a Venezuela faz milhares de pessoas emigrarem diariamente para o Brasil. Há dez meses, Yimerlis Yacely Rodríguez era uma delas.

"Vim sozinha porque não sabia se ia dar certo, se encontraria trabalho ou onde morar."

Depois de quatro dias de viagem, pegando carona de carro em carro e terminando a travessia em um ônibus, a contadora de 37 anos conseguiu alcançar a fronteira de seu país com o Brasil e chegar a Boa Vista, capital de Roraima.

A decisão veio depois de ver o filho de 15 anos ser sequestrado, durante algumas horas, após um jogo de futebol. "A gente não podia viver daquele jeito."

Ela escolheu vir para o Brasil, mesmo sem os filhos. Deixou para trás a filha Yirgelis, de 19 anos, e o menor, Jorge, alvo do crime, para tentar trabalhar e enviar dinheiro para a família.

"É uma decisão que nunca se esquece", diz a venezuelana, que depois de seis meses conseguiu trazer o filho para o Brasil. Já a filha foi para a Colômbia. "Ela está gostando", conta.

Yimerlis fugiu do país diante da situação de violência generalizada nas ruas, falta de comida, medicamentos e inflação altíssima em seu país. "Está muito, muito feio lá."

Diante da atual conjuntura da Venezuela, mais de 2 milhões de pessoas já emigraram do país. Um dos destinos mais procurados é o Brasil, país fronteiriço que até o meio do ano já havia recebido mais de 52 mil solicitações de refúgio.

Acompanhando o filho de Yimerlis, chegou a amiga Zuleima Jackeline Rojas Vargas, 31, que também deixou para trás uma filha de 7 anos para tentar sustentar a família enviando dinheiro de longe.

As duas trabalham em uma empresa de telemarketing espanhola. Mas, antes de encontrar algum trabalho sem o entrave do idioma, Yimerlis chegou a trabalhar mais de 12 horas por dia e sem qualquer direito trabalhista.

"Tinha de trabalhar de alguma maneira. Não sabia falar [em português] e ainda não tinha toda a documentação", contou a venezuelana, que mesmo hoje ainda mescla palavras em português e espanhol, mas já tem CPF e carteira de trabalho e solicitou o visto de refugiada.

Empregada, não se arrepende da escolha pelo Brasil nem pensa em voltar. "Eu não tenho coisa ruim para falar. Desde que cheguei, me trataram muito bem", diz. Mas sente saudades: "É meu primeiro Natal longe. Não sei se vou dormir ou chorar".

Este foi o último de uma série de quatro depoimentos em que personagens relataram histórias que foram marcantes para eles em 2017.

No primeiro, publicado na quinta-feira (21), Marcelly de Souza Francisco conta como, finalmente, trocou de nome: "É como se você tivesse nascido de novo, mas, desta vez, feliz".

Já no segundo, uma jovem advogada fala sobre sua busca durante o ano de 2017 todo por uma vaga de emprego: "Não sei o que falta".

O terceiro trazia um triste relato de racismo: "Antes de me ver, ela viu a minha cor", afirmou uma funcionária pública.