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Protesto contra aumento da tarifa em SP termina em choque com a PM; MPL promete novo ato

Daniela Garcia e Leonardo Martins

Do UOL, em São Paulo

11/01/2018 19h04Atualizada em 12/01/2018 12h16

Após pouco mais de três horas de ação pacífica, um ato convocado pelo MPL (Movimento Passe Livre) para protestar contra o aumento do preço das passagens de ônibus, metrô e trem em São Paulo terminou em confusão e enfrentamento entre manifestantes e policiais miliares nesta quinta-feira (11).

As tarifas subiram de R$ 3,80 para R$ 4 no último domingo (7). O reajuste, de 5,26%, foi anunciado de forma conjunta pelas gestões do prefeito da capital, João Doria, e do governador Geraldo Alckmin, ambos do PSDB, ainda em dezembro de 2017.

Segundo os organizadores, 10 mil pessoas participaram do ato. Para a PM (Polícia Militar), a estimativa é de 1.500 manifestantes. O major Guimarães, comandante da operação, afirmou que 400 policiais acompanharam o protesto durante o percurso. Além do MPL, a manifestação também contou com representantes do PSTU, PCB (Partido Comunista Brasileiro), UNE (União Nacional dos Estudantes), PSOL e da Frente Povo Sem Medo.

O ato teve início por volta das 17h na praça Ramos de Azevedo, em frente ao Theatro Municipal, no centro de São Paulo. O local fica a poucos metros da sede da prefeitura.

Cerca de uma hora depois, os manifestantes partiram em direção ao Largo da Concórdia, no Brás, zona leste de São Paulo. Diversas ruas foram interditadas para a passagem dos participantes do ato, e o comércio chegou a ser fechado na altura do terminal Parque Dom Pedro, na região central.

Por volta das 20h40, os manifestantes começaram a dispersar. Um grupo, porém, tentou entrar na estação Brás do trem e metrô e, segundo os organizadores, foi impedido pela PM. Alguns conseguiram furar o bloqueio e chegaram a pular as catracas.

Acionada pelos seguranças da estação, a PM tentou repreender os manifestantes. De acordo com a Polícia, eles atiraram um coquetel molotov em direção aos policiais, que passaram a responder com bombas de efeito moral e tiros de balas de borracha.

Após a ação policial, o ato dispersou completamente. A PM informou que um policial ficou ferido. Não houve registro de detenções, afirmou também a corporação.

Segundo organizadores do ato, alguns manifestantes tentaram ir embora pela estação Bresser-Mooca do metrô, mas foram encurralados e agredidos por policiais. Pelo menos um deles ficou ferido.

Durante todo o ato, manifestantes mascarados formaram a linha de frente do protesto, mas sem cometer ações de vandalismo.

Promessa de novos protestos

"Esses 20 centavos servem apenas para aumentar o lucro dos empresários", disse Francisco Bueno, um dos organizadores do MPL. Segundo ele, a exigência do movimento, o passe livre, isto é, gratuito, se justifica porque o transporte deve ser efetivamente público.

Bueno afirmou que o protesto de hoje será apenas o primeiro de uma série. O segundo, de acordo com o MPL, será no dia 17, em frente à casa do prefeito João Doria. "Não vai ter paz em São Paulo enquanto a tarifa não for revogada", disse Bueno.

"Transporte não é mercadoria"

Lolita Sala, 56, economista, foi uma das participantes do ato e apontou a importância do transporte público para a população para criticar o aumento. 

"Em São Paulo, uma parte enorme da população utiliza o transporte público. E o transporte público não é uma mercadoria, é um direito que a balconista consiga chegar na farmácia para trabalhar, que a dona de casa consiga visitar sua prima que mora longe, são políticas públicas", opinou. 

O professor de história Felipe Oliveira, 28, concordou e ressaltou que "os mais pobres utilizam o transporte público todos os dias e o prefeito tem que saber que eles não podem arcar com esses custos".

Felipe Oliveira (28) e Lolita Sala (56) participam de ato do MPL em São Paulo - Leonardo Martins/UOL - Leonardo Martins/UOL
Felipe Oliveira (28) e Lolita Sala (56) participam de ato do MPL em São Paulo
Imagem: Leonardo Martins/UOL

Tarifa congelada em 2017

Em 2017, o valor unitário do ônibus, metrô e trem ficou congelado em R$ 3,80, após promessa de campanha feita por Doria. Em compensação, o valor da tarifa integrada entre ônibus e trilhos (metrô ou trem) teve reajuste de 14,8%, chegando a R$ 6,80. A medida, que chegou a ser suspensa por três meses pela Justiça, motivou uma série de protestos na capital, que não surtiram efeito.

O MPL foi criado em 2005 com a bandeira da "tarifa zero", defendendo gratuidade total do transporte coletivo. O movimento, porém, só ganhou expressão em 2013, quando organizou os atos contra o aumento de R$ 0,20 no valor da tarifa em São Paulo (de R$ 3 para R$ 3,20 na ocasião), que acabaram se espalhando por todo o país depois do aumento da repressão policial aos protestos.