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Após 10 mortos em briga de facções, governo do CE transfere 44 presos de cadeia pública

Dez presos foram mortos na manhã desta segunda-feira, 29, durante rebelião na Cadeia Pública de Itapajé, a 125 km de Fortaleza - Wellington Macedo / Estadão Conteúdo
Dez presos foram mortos na manhã desta segunda-feira, 29, durante rebelião na Cadeia Pública de Itapajé, a 125 km de Fortaleza Imagem: Wellington Macedo / Estadão Conteúdo

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

30/01/2018 14h03Atualizada em 30/01/2018 16h25

O governo do Ceará confirmou nesta terça-feira (30) a transferência de 44 presos que estavam na cadeia pública de Itapajé (125 km de Fortaleza). Ontem de manhã, o local foi palco de uma chacina de dez homens durante uma briga entre facções rivais.

Segundo a Secretaria de Justiça e Cidadania do Ceará, os presos foram encaminhados a unidades na região metropolitana de Fortaleza. Por motivos de segurança, não foram especificados os locais de destino dos presos.

Ontem, o Conselho Penitenciário do Estado do Ceará (Copen), vinculado à secretaria, informou que o conflito havia sido registrado em meio à não repartição de facções em unidades prisionais menores do Estado –nas grandes unidades a separação já vem sendo feita –e supostamente como retaliação à chacina ocorrida em Fortaleza na madrugada do último sábado (27). Na ocasião, 14 pessoas foram assassinadas e outras 18 ficaram feridas por conta de uma suposta briga por pontos de tráfico.

As facções envolvidas, apontou o Copen, são a Guardiães do Estado (GDE), ligada ao PCC (Primeiro Comando da Capital), e o Comando Vermelho, com origem no Rio.
No momento da chacina, a cadeia pública em Itapajé estava com 113 presos em uma capacidade para 25 custodiados. Com a transferência de 44 deles, a unidade continua acima da capacidade.

Medida é "gambiarra", analisa Copen

Segundo o presidente do Copen, Claudio Justa, a transferência realizada em Itapajé encaminhou presos das duas facções a unidades prisionais em que esses grupos são exclusivos. Na cadeia, segundo Justa, ficaram apenas custodiados do Comando Vermelho.

Mesmo assim, ele enfatizou: a medida do Estado, ainda que urgente, “é paliativa, serve apenas como gambiarra”.

“Essa transferência se impõe em razão da incapacidade de uma custódia adequada à preservação vida dos detentos. Além disso, o remanejamento acontece a unidades maiores --em que as mesmas facções já são dominantes --e que já estão superlotadas”, disse Justa, que completou:  “Se esse tipo de medida for transitório, ok, o Estado não poderia ficar inerte diante do conflito aberto. Mas não se pode recorrer a essas gambiarras, esses jeitinhos, essas soluções paliativas: há que se pensar em soluções pelo menos de médio prazo à situação desses detentos”, defendeu.

Governador se reúne com Temer

Também nesta terça, o governador do Ceará, Camilo Santana (PT), viajou a Brasília para uma reunião com o presidente Michel Temer (PMDB) sobre a crise de segurança pública no Estado.

O encontro, que não figura na agenda oficial de Temer para o dia de hoje, foi confirmada pela assessoria de imprensa do gabinete de Santana, que não entrou em detalhes sobre o que seria levado, mais especificamente, à discussão.

Ontem, o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, rebateu as críticas do governador do Ceará sobre a responsabilidade do governo federal perante a chacina ocorrida no fim de semana.

“Nós lamentamos muito, mas entendemos que é uma questão de segurança pública mais focada neste momento no Estado do Ceará. [...] Transferir isso para o governo federal é um absurdo, então, com todo o respeito, quem não tem competência, que não se estabeleça”, declarou Marun. 

Nesse domingo (28), Santana cobrou ações mais efetivas da União para o combate ao tráfico de drogas, ao crime organizado e para a proteção das fronteiras brasileiras.

Dez presos foram mortos na manhã desta segunda-feira (29) durante rebelião na Cadeia Pública de Itapajé, a 125 km de Fortaleza - Wellington Macedo/Estadão Conteúdo - Wellington Macedo/Estadão Conteúdo
Rebelião ocorreu ontem de manhã e foi contida pelo Batalhão de Choque da PM
Imagem: Wellington Macedo/Estadão Conteúdo

Revólveres e celulares apreendidos em cadeia

Em nota, a Sejus informou que a Delegacia Municipal de Itapajé instaurou inquérito policial e indiciou por homicídio qualificado seis internos por conta do episódio de ontem.

São eles: Alex Pinto Oliveira Rodrigues, 24, que tem passagens por contravenção penal, roubo, dano, direção perigosa, crimes de trânsito e porte ilegal de arma de fogo; Antônio Jonatan de Sousa Rodrigues, 22, com passagens por roubo e corrupção de menor; Artur Vaz Ferreira, 26, com passagens por furto e porte ilegal de arma de fogo; Francisco das Chagas de Sousa, 24, com passagens por lesão corporal dolosa, porte e posse ilegal de arma de fogo; Francisco Idson Lima de Sales19, com passagens por tentativa de homicídio e roubo; e William Alves do Nascimento, 20, com passagens por crime de trânsito e homicídio consumado.

Ainda conforme a secretaria, uma vistoria na unidade prisional apreendeu ontem dois revólveres, 38 munições, duas facas, drogas e aparelhos celulares. “As investigações permanecem no intuito de descobrir a motivação das mortes. As armas foram levadas para realização de exames periciais na sede da Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce)”, disse a nota.

Além dos presos assassinados, outros oito ficaram feridos. Parte deles teve atendimento em um hospital local e voltou ontem mesmo à unidade. Outros três internos tiveram ferimentos mais graves e foram transferidos a outra cidade, não informada.