São Paulo passa a cobrar por bicicleta compartilhada; entidades aprovam mudanças
Os moradores de São Paulo vão voltar a ter à disposição o sistema de bicicletas compartilhadas que funciona na capital desde 2012. O novo modelo do Bike Sampa, que começou a ser implantado nesta terça-feira (30), agora é pago, ou seja, o usuário não terá mais direito a uma hora de uso grátis como aconteceu até o último dia 19 -- quando todas as estações foram desativadas.
Agora, para usar o serviço, o interessado vai precisar contratar um dos planos do Bike Sampa e também pagar por hora de uso. Veja abaixo os pacotes disponíveis:
- Diário: R$ 8
- Três dias: R$ 15
- Mensal: R$ 20
- Anual: R$ 160
Na prática, apesar dos nomes, os pacotes não significam que o usuário poderá ficar com a bicicleta por 24 horas, 72 horas, 30 dias ou 365 dias ininterruptos. Qualquer que seja o plano, o usuário retira a bike, usa por uma hora e, depois desse prazo, precisa obrigatoriamente colocá-la de volta em uma estação por 15 minutos. Caso a hora seja extrapolada, ele terá de pagar R$ 5 por hora excedente.
O novo sistema foi inaugurado na terça pelo prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), no Largo da Batata, zona oeste da capital paulista. O bairro foi o primeiro a receber as novas estações -- serão 25 ao todo.
A operadora do sistema, a Tembici, e o patrocinador, o banco Itaú, prometem instalar 260 estações até o final do primeiro semestre, com 2.600 bicicletas. A previsão da prefeitura, no entanto, é que 10 mil bicicletas compartilhadas estejam circulando na cidade até o final no ano, já que outros operadores estão sendo cadastrados para também oferecer o serviço.
O Bike Sampa tem 800 mil usuários cadastrados na cidade. Antes, os usuários podiam retirar a bicicleta por 60 minutos gratuitamente, sem a adesão a planos. O sistema fazia, como caução, um bloqueio de R$ 10 no cartão de crédito fornecido no ato do cadastro.
Com um cartão de crédito em mãos, o ciclista pode contratar um dos quatro planos pelo aplicativo ou pelo site Bike Itaú. Quem se cadastrar pelo site receberá um cartão de usuário, que vai funcionar como uma espécie de chave para retirar a bicicleta da estação. Há também a opção de comprar o plano mensal e anual em uma loja física, com pagamento em dinheiro.
Sem cadastro prévio, será possível comprar apenas os planos diário e de três dias nas próprias estações, por meio de um autoatendimento, com bloqueio de R$ 300 no cartão de crédito. O site diz que o valor será pré-autorizado como “garantia para a correta utilização da bicicleta pelo período contratado” e que ela não é debitada no cartão, mas tem impacto no limite de crédito.
'Lei de mercado' vai regular o preço, diz Doria
Ao ser questionado sobre o motivo para o fim da gratuidade, o secretário municipal de Mobilidade e Transportes, Sérgio Avelleda, disse que essa foi uma opção do operador, a Tembici.
“A prefeitura estabeleceu apenas a tarifa máxima. Aqui vai ser a lógica da concorrência. Nós vamos ter vários operadores, cada qual terá sua lógica de tarifa e isso vai estimular os operadores evidentemente a baratear os seus preços”, disse o secretário durante o lançamento do sistema.
“Eu acredito na lei de mercado. O mercado vai crescer e vai se ampliar. Essa é a primeira iniciativa e será acompanhada por outras empresas que seguirão dentro dessa mesma linha. A lei de mercado vai gerar facilidade para que as pessoas tenham mais acesso ao menor custo, com mais qualidade e mais facilidade”, afirmou o prefeito João Doria.
O presidente da Tembici, Tomás Martins, disse que, apesar do patrocínio do Itaú, a cobrança é necessária para a “sustentabilidade financeira do sistema”. “Não é grátis, nenhum sistema de transporte é grátis”, afirma.
Entidades de ciclistas aprovam as mudanças
As entidades ligadas ao incentivo do uso da bicicleta na cidade presentes no evento comemoraram as mudanças. Elas avaliam que o sistema é mais tecnológico do que o que o anterior, com estações mais próximas, e elogiam a possibilidade de pernoitar com a bicicleta em alguns pontos.
Para Rene Fernandes Rodrigues, diretor do Ciclocidade, a novidade traz mudanças importantes pleiteadas pelas entidades ligadas ao setor desde a implantação do sistema de bicicletas compartilhadas em São Paulo. “É uma continuidade do que existia antes. Há o adensamento das estações e a possibilidade de não usar o cartão de crédito, que era uma barreira econômica para o usuário”, disse.
Rodrigues afirmou que a cobrança não é positiva, mas é “natural”. “Os outros sistemas de bicicleta compartilhada ao redor do mundo já são cobrados”, disse.
Eduardo Magrão, do Bike Zona Leste, comemorou a possibilidade de pernoitar com a bicicleta, por 12 horas, sem custo adicional. O serviço será oferecido em cinco estações da cidade.
“O trabalhador precisa ter um deslocamento do terminal de ônibus ou de metrô até a casa dele. De bicicleta, ele vai deixar de usar o ônibus, a van, vai melhorar a saúde, o orçamento dele também vai melhorar, porque o custo do transporte em São Paulo está cada dia mais caro”, disse Magrão.
Usuárias reclamam de cobrança
Usuária do Bike Sampa, a programadora Cindy Kobayashi, 21, disse que, com o início da cobrança, não pretende mais usar o sistema.
“Eu costumava pegar a bicicleta na hora do almoço, com outros colegas de trabalho, para ir ao [parque] Ibirapuera ou almoçar. Não sabia que ia começar a ser pago. Acho que não vou querer mais usar, a gente já paga uma tarifa [de transporte público] muito cara. Tem essa ciclovia toda [da Faria Lima] linda para quê?”, afirma.
Já a produtora cultural Rosiele Machado, 27, disse que foram as bicicletas laranjas que a influenciaram a comprar a própria bike. “Eu comecei a ver que usava muito a bicicleta nos fins de semana, e resolvi comprar uma. Acho que cobrar pelo serviço vai desestimular as pessoas a andarem de bicicleta.”
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