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Carli Filho chora em júri, pede perdão às mães dos mortos e diz lembrar de acidente "todos os dias"

O ex-deputado estadual Fernando Ribas Carli Filho, ao chegar ao tribunal em Curitiba - Theo Marques/Framephoto/Estadão Conteúdo
O ex-deputado estadual Fernando Ribas Carli Filho, ao chegar ao tribunal em Curitiba Imagem: Theo Marques/Framephoto/Estadão Conteúdo

Janaina Garcia

Do UOL, em Curitiba

27/02/2018 21h32Atualizada em 27/02/2018 22h25

O ex-deputado Fernando Ribas Carli Filho, 35, se declarou culpado, nesta terça-feira (27), pelo acidente que causou a morte de dois jovens, de 26 e 20 anos, em Curitiba, em maio de 2009. “Assumo minha parcela de culpa. Eu sou culpado”, disse. “Mas jamais tive a intenção”, completou.

Carli Filho falou nesta terça-feira pela primeira vez em público sobre o caso em um interrogatório que durou 20 minutos. Há dois anos, afirmou, em um vídeo publicado na internet, que não era “um assassino”.

Depois de 33 recursos que tentaram adiar ou evitar o júri popular, o ex-deputado começou a ser julgado hoje pelo acidente ocorrido há nove anos. Carli Filho é acusado pelo Ministério Público de duplo homicídio com dolo eventual por assumir o risco de matar ao dirigir em alta velocidade e sob efeito de bebida alcoólica. Os amigos estavam em um Honda Fit atingido pelo Passat Variant conduzido pelo então deputado.

“Lembro disso todos os dias. Meus pais têm apartamento na região [onde o acidente aconteceu]. Eu errei, foi o maior erro da minha vida e que teve consequências gravíssimas — dois jovens morreram, eu também era jovem”, disse.

O ex-deputado se dirigiu às mães dos jovens mortos e pediu desculpas a elas e às famílias. “Sei que eu nunca tive a oportunidade de pedir desculpas pelo que eu causei. Os filhos de vocês morreram e eu quero, do fundo do meu coração, pedir desculpas”, afirmou.

Indagado pelo Ministério Público sobre as condições em que dirigia no momento do acidente –embriagado e com a carteira de habilitação suspensa, com 130 pontos e 30 multas (23, por excesso de velocidade) --, o ex-deputado disse que o carro que ele utilizava, um Volkswagen Passat, era compartilhado por outros servidores de seu gabinete na Assembleia Legislativa do Paraná. No momento do acidente, ele já tinha cumprido mais da metade de seu primeiro mandato.

De acordo com a denúncia, o ex-deputado ingeriu garrafas de vinho em um restaurante da cidade e saiu cambaleante, conduzindo o próprio veículo, minutos antes de atingir o Honda Fit em que estavam os amigos.

Sobre o excesso de velocidade, resumiu: “Não tenho recordação dos fatos”, disse, mencionando os dias em que permaneceu internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) em decorrência do acidente. “Não lembro da saída do restaurante. Ficaram algumas lacunas na minha memória, por conta de algumas concussões cerebrais”, afirmou.

“Eu não podia prever o que ia acontecer. Eu jamais poderia imaginar que aquele carro passaria à minha frente, em uma via preferencial [para ele]. Eu errei: bebi e dirigi. Mas as pessoas que me conhecem sabem da educação simples que meus pais me deram --aqui não tem ‘Carli Filho’ ou ‘ex-deputado’, eu sou apenas ‘Fernando’ e nunca fiz racha na minha vida”, afirmou.

O réu acompanhou o julgamento sentado de frente para os jurados –cinco mulheres e dois homens. O juiz sugeriu que ele se sentasse ao lado dos advogados, em uma bancada, também de frente, mas a defesa recusou. Com isso, Carli Filho ficou em uma cadeira, sozinho, a cerca de um metro da primeira fila da plateia –fila em que está a mãe de Gilmar Yared, a deputada federal Christiane Yared (PR-PR).

Carli Filho se manteve cabisbaixo e se emocionou quando a mãe de Yared entrou no plenário. Ao longo dos quase nove anos, a defesa do ex-deputado apresentou 33 recursos em todas as instâncias judiciais para adiar ou impedir o júri popular.

Cinco mulheres e dois homens dirão, nesta quarta (28), se ele é culpado ou inocente da acusação. Para o juiz Daniel Avelar, há 10 anos no Tribunal do Júri, a estimativa é que os jurados tenham de analisar 12 perguntas, na reunião do conselho de sentença, para cada uma das vítimas. A previsão, segundo ele, é de que a sentença saia até as 18h desta quarta.