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"Incômodo de quem há 500 anos comanda o Brasil", diz Boulos sobre morte de vereadora

16.mar.2018 - Guilherme Boulos (de camiseta verde), pré-candidato do PSOL à Presidência da República, ajuda a carregar o caixão da vereadora Marielle Franco - REUTERS/Pilar Olivares
16.mar.2018 - Guilherme Boulos (de camiseta verde), pré-candidato do PSOL à Presidência da República, ajuda a carregar o caixão da vereadora Marielle Franco Imagem: REUTERS/Pilar Olivares

Lola Ferreira

Colaboração para o UOL, no Rio

16/03/2018 04h00

Guilherme Boulos, pré-candidato do PSOL à Presidência da República, afirmou nesta quinta-feira (15) que a morte de Marielle Franco, vereadora do partido no Rio de Janeiro, é expressão de um problema histórico.

“Existe um incômodo na sociedade com mulheres e negros na política, já há uma barreira para que não ocupem esse lugar. E quando ocupam, há um incômodo de quem há 500 anos manda no país”, disse o presidenciável e coordenador do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto).

Marielle foi morta na madrugada desta quarta-feira (14) na região central do Rio. Ao menos nove tiros foram disparados contra o carro em que a vereadora estava. O motorista do veículo, Anderson Pedro Gomes, também não resistiu.

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Boulos não descartou considerar o crime como um recado para outros membros do partido. “É evidente que isso também é um aviso, uma mensagem. Além de toda a brutalidade e do absurdo [da ação], fizeram sem preocupação de disfarçar. Fizeram uma execução no centro do Rio”, analisou. O crime aconteceu a 700 metros da prefeitura da cidade.

Nesta quinta-feira (15), militantes e filiados fizeram uma vigília em frente à Câmara Municipal do Rio e também um ato em homenagem à vereadora pelas ruas do centro da cidade. Marcelo Freixo, deputado estadual pelo PSOL, apontou Marielle como uma resposta ao pedido da sociedade em 2013. Boulos concordou: “A Marielle é uma expressão de uma nova forma de fazer politica, de quem não se acomodou diante da crise de representação da política, e isso incomoda. Incomodou”, afirma.

Questionado sobre prováveis culpados do crime, o psolista ressaltou a trajetória da vereadora: “Está evidente que os nove tiros disparados contra ela não foram balas perdidas. Esses tiros tinham alvo. E tiveram como alvo uma das lideranças políticas mais combativas do Rio de Janeiro. Uma mulher, negra, vinda da favela. Eu não tenho condições de apontar o dedo, dizer que foi ali e aqui, mas tenho condição de dizer que vamos cobrar justiça.”

Para Boulos, as características “combativas” de Marielle foram a principal motivação dos criminosos para o que ele classifica como “execução”.

“Era uma mulher que enfrentava, que denunciava a crise da polícia, que era contra a intervenção militar e tinha sido designada como relatora da Comissão Municipal da Intervenção. É evidente que foi execução”, afirmou.

Freixo faz despedida emocionada

Parceiro de Marielle no PSOL e amigo da vereadora, o deputado Marcelo Freixo postou uma despedida emocionada em suas redes sociais na noite de quinta. Afirmou que as manifestações pelo Brasil em protesto pela morte de Marielle representaram a luta dela.

"Minha irmã amiga de tantas lutas, de tantos risos, sonhos, choros e abraços. Que saudade vou sentir de você. Corta o peito! Como foi difícil e bonito ver seu nome nos cartazes e vozes de tantos jovens nas ruas do Rio. Nas mesmas ruas que andamos juntos, hoje vi uma multidão chorar e transformar você num símbolo de tudo que você foi. Foi não! É!", escreveu Freixo.

"Seu nome estava em todos os lugares do mundo! Lembrei das inúmeras reuniões que fizemos com o povo da comissão, dos casos que atendemos, das visitas nas prisões e nas conversas nas favelas. Seus olhos sempre brilharam. Hoje, vi que aquilo tudo que você fez virou referência no mundo. Nenhum covarde vai te calar. Seu sorriso, seu abraço e teu amor vou carregar para sempre. Muito obrigado por tudo".

O deputado ainda prometeu ficar próximo da família de Marielle e disse que a vereadora foi "uma das melhores coisas que tive na vida".

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