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Padre sucessor de Dorothy Stang é preso por extorsão, assédio e ocupação violenta; Pastoral vê "armação"

Padre José Amaro Lopes de Souza em entrevista à Folha. Ele trabalhava com a missionária Dorothy Stang, assassinada em 2005 - Jefferson Coppola/Folha Imagem
Padre José Amaro Lopes de Souza em entrevista à Folha. Ele trabalhava com a missionária Dorothy Stang, assassinada em 2005 Imagem: Jefferson Coppola/Folha Imagem

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

27/03/2018 22h00

A Polícia Civil do Pará prendeu, na manhã desta quinta-feira (27), o padre José Amaro. Ele foi detido em Anapu, interior paraense, após mandado judicial expedido para investigação de crimes de extorsão, ameaça, assédio sexual e ocupação violenta de terras.

O padre é uma das lideranças da CPT (Comissão Pastoral da Terra) em Anapu, município onde vivia a missionária Dorothy Stang, assassinada em 2005. Ele é apontado como o líder social mais influente da região e sucessor da missionária contra desmatadores e fazendeiros na região. O padre sofria ameaças pela luta fundiária na floresta.

Segundo o advogado da CPT, José Batista, há um inquérito que investiga o padre pelos crimes, mas ele acredita que não há provas contra o pároco.

"Nós não tivemos acesso ainda ao inquérito, mas pelo conteúdo da decisão da juíza, a gente suspeita que as acusações fazem parte do sumário de uma armação contra o padre", afirma.

Batista cita que o padre sempre foi visado na região por ser uma voz em defesa de trabalhadores rurais na região.

"A CPT era a única entidade que dava apoio de fato pela conquista das terras públicas. Por se colocar ao lado dos sem terra, ele sempre atraiu o ódio dos ruralistas. Uma das acusações contra ele é justamente ocupação de terra. Outra é crime de ameaça que uma dúzia de fazendeiros falaram. Estranho [seria] se algum fazendeiro falasse bem dele. Eles são suspeitos para produzir prova", diz.

Batista também questiona as outras duas acusações por falta de provas. "As acusações são muito fracas, e as provas na decisão são muito subjetivas", afirma.

O advogado ainda alega que a estratégia de atacar lideranças que lutam pelo direito fundiário na Amazônia é bem conhecida.

"A Dorothy, o mecanismo que eles adotaram para afastar ela de lá foi assassinando, mas teve uma repercussão muito grande. Certamente não fariam a mesma coisa, procurariam motivos para tentar criminalizá-lo, provocando a desmoralização e o seu afastamento", opina.