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"Minha fé ficou mais forte", diz PM que, há 1 ano, salvou 20 pessoas de incêndio

Após resgate, Heitor Theodoro foi promovido por ato de bravura  - Arquivo pessoal
Após resgate, Heitor Theodoro foi promovido por ato de bravura Imagem: Arquivo pessoal

Juliana Carpanez

Do UOL, em São Paulo

10/05/2018 04h00

Na madrugada de 10 de maio de 2017, Heitor Theodoro, 35, salvou 20 pessoas de um incêndio no bairro de Samambaia, em Brasília (DF). Na ocasião, o então cabo do 11° Batalhão da Polícia Militar do Distrito Federal entrou em uma habitação tomada pelo fogo, acordando e resgatando as famílias que dormiam alheias ao incêndio. Nenhum dos moradores ficou ferido, e o policial queimou apenas os pelos do braço e da sobrancelha.

A ação lhe rendeu uma promoção por ato de bravura recomendada pelo governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg (PSB). Agora terceiro-sargento, o policial nascido em Araçatuba (SP) receberá no 25 de maio, no Plenário da Câmara dos Deputados, o título de Cidadão Honorário de Brasília. Em entrevista por telefone ao UOL, o oficial lembrou o resgate e fez um balanço de como essa ação o impactou.

Me sinto honrado [por ter realizado os resgates]: estamos aqui de passagem e precisamos fazer a diferença. Minha fé ficou muito mais forte 
Heitor Theodoro, terceiro-sargento da Polícia Militar

Apesar de citar frequentemente sua religiosidade e dizer que teve “uma experiência com Deus”, Theodoro atribui o sucesso da ação aos treinamentos que recebeu durante sua formação como policial militar. Entre eles, técnicas de respiração para inalar menos fumaça e controle das emoções em situações de emergência.

Veja o resgate de 20 pessoas no incêndio em Brasília

Band News

“Temos de decidir em segundos se devemos ou não agir, assumindo os ônus e bônus dessa decisão. Eu entrei [para o resgate] consciente do que estava fazendo, não agi por impulso. E controlei a emoção: uma das moradoras, trancada atrás de uma grade com a filha pequena, me entregou um molho de chaves. Associei o cadeado pequeno a uma chave pequena e, já na primeira tentativa, consegui abrir o portão”, lembra.

Ele se refere a Nataly Jesus Sousa e a filha Érica, então com três anos. Por causa do portão que as isolava das demais áreas, elas foram as últimas a saírem do prédio composto por apartamentos pequenos, estilo quitinete. 

Heitor Theodoro reencontra vítima resgatada de incêndio em Samambaia  - Arquivo pessoal  - Arquivo pessoal
Heitor Theodoro reencontra vítima resgatada de incêndio em Samambaia
Imagem: Arquivo pessoal

Um estúdio de pilates na fachada dificultou, em um primeiro momento, a identificação daquele como sendo um espaço de moradias --o policial chegou ao local durante um patrulhamento de rotina. Theodoro concluiu que havia pessoas no local, possivelmente dormindo, graças a uma criança (que não era Érica) parada em frente à janela.

“Ela olhava a movimentação das viaturas. Não havia adultos perto dela e ninguém respondia. Não sabíamos em quanto tempo os bombeiros viriam, então avaliei como chegar até a criança e arrebentei a porta de ferro.”

Ele recorda que a fumaça impedia que enxergasse qualquer coisa no local, onde não havia circulação de ar. “Só fui ver o que tinha acontecido pelas filmagens que fizeram da rua.” Essas cenas foram reproduzidas pela imprensa, fazendo com que o salvamento ganhasse repercussão nacional e o policial aparecesse em diversos programas de TV. 

Foi também em vídeo que Theodoro acompanhou a ação do soldado Diego Pereira da Silva Santos, 32, em São Paulo: o oficial tentava resgatar um morador do prédio Wilton Paes de Almeida quando a construção desabou em chamas, em 1º de maio.

Nem sempre as coisas saem como a gente quer. Aquele bombeiro fez o que podia, mas não dá para controlar situações externas. Por aquela atitude [de salvamento], tenho certeza de que ele já salvou e também de que vai salvar muitas vidas
Heitor Theodoro, sobre ação de salvamento em São Paulo

"Heróis usam capas, nós usamos fardas"

Theodoro conta que voltou ao local do incêndio uma vez, mas não manteve contato com as vítimas. “Ver o sorriso da Érica, no dia seguinte, foi algo que não tem preço. Mas nosso trabalho é dinâmico e não há esse vínculo: nosso objetivo é servir, independentemente de quem seja”, explicou.

O terceiro-sargento classifica a visibilidade do resgate como uma “vitória coletiva da Polícia Militar”. “Isso prova que existe reconhecimento pelo trabalho duro, pela abdicação e pela honestidade. Ainda mais em uma profissão tão crucificada”, continua Theodoro, que recusa o título de herói e conclui: “Os heróis usam capas, nós usamos fardas”.