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Copacabana, Ipanema e Leme: militares ocupam favelas no coração da zona sul do Rio

Luis Kawaguti

Do UOL, no Rio

11/07/2018 05h44

As Forças Armadas e as polícias civil e militar realizam na manhã desta quarta-feira (11) uma série de operações simultâneas em favelas situadas nos bairros de Copacabana, Ipanema e Leme, a poucos quarteirões de algumas das regiões mais badaladas da zona sul do Rio de Janeiro.

Entre os objetivos está enfraquecer facções criminosas que lutam pelo controle de pontos de venda de drogas altamente cobiçados -- por serem frequentados por uma clientela de alto poder aquisitivo, devido à sua localização.

As ações acontecem nas favelas Cantagalo, na divisa entre os bairros de Ipanema e Copacabana, Pavão-Pavãozinho, em Copacabana, e Babilônia e Chapéu Mangueira, no Leme.

O principal foco da operação são os morros do Pavão-Pavãozinho e Cantagalo. Forças especialistas em ambiente de montanha chegaram ao local no início na manhã. Membros do crime organizado fizeram disparos de alerta, mas não houve confronto direto com as tropas.

Ao menos um suspeito foi preso. Foram encontradas armas e drogas escondidas em um matagal na região da favela Pavão-Pavãozinho.

Em paralelo, militares e policiais também ocupam o complexo de favelas do Lins de Vasconcelos, na zona norte da cidade - região conhecida por abrigar ladrões de cargas.

Ao todo, participam das operações 3.700 militares das Forças Armadas, 200 policiais militares e 90 policiais civis. Eles têm o apoio de veículos blindados de transporte de tropas, helicópteros e maquinário pesado usado para a destruição de barricadas.

As forças de segurança tentam cumprir mandados de prisão de criminosos procurados, realizam revistas de pessoas e veículos e tentam localizar armas e drogas.

Diversas ruas da zona sul e da região do Complexo do Lins foram bloqueadas devido às operações.

A presença de militares e policiais no Morro do Cantagalo dividiu as opiniões de moradores locais.
“Para o morador é bom. Quase sempre tem problemas aqui, aliás não só aqui, no Rio de Janeiro inteiro. Me sinto muito mais seguro quando os militares estão nas ruas. Aqui tem tiroteio quase sempre, hoje que o Exército está aqui não teve”, disse um gari, morador do Cantagalo, que pediu para não ter o nome revelado.
“Eu acho ruim porque quando tem essas operações fico com medo de descer do morro porque não sei se vou encontrar tiroteio pela frente. A situação piorou muito no Cantagalo no último ano, toda semana tem ao menos um tiroteio. Mas não acho que essas operações vão resolver toda a situação”, disse uma moradora, que também pediu anonimato.
Militares monitoram acessos em morros da zona sul do Rio nesta quarta (11) - Luis Kawaguti / UOL - Luis Kawaguti / UOL
Militares monitoram acessos em morros da zona sul do Rio nesta quarta (11)
Imagem: Luis Kawaguti / UOL

Controle de facções

As favelas em Copacabana, Ipanema e no Lins são controladas pela facção criminosa CV (Comando Vermelho). As do Leme vivem um conflito de facões entre o CV e o TCP (Terceiro Comando Puro).

Segundo o Comando Conjunto da intervenção federal, a Polícia Militar está verificando denúncias de que membros do crime organizado estariam portando armas e traficando drogas de forma ostensiva nessas favelas.

A intervenção federal calcula que, juntas, as operações devem causar impacto direto em áreas habitadas por cerca de 29 mil pessoas. Segundo o Comando Conjunto, elas devem influenciar indiretamente regiões que abrigam 645 mil pessoas.

As grandes operações ostensivas das Forças Armadas em favelas são consideradas pelos interventores como ações emergenciais. Elas ocorrem em paralelo a ações de bastidores que visam reestruturar e reequipar as polícias cariocas.

Críticos das ações ostensivas dizem que, sozinhas, elas não resolvem o problema da criminalidade -- pois as facções têm grandes chances de retomar o controle das áreas após a saída dos militares.

Já defensores da medida dizem que as ações são necessárias para enfraquecer o crime organizado e impedir que se consolide em determinadas regiões.