Bombeiros descartam desmoronamento da fachada do Museu Nacional
O comandante-geral do Corpo de Bombeiros do Rio, coronel Roberto Robadey, descartou, na manhã desta segunda-feira (3), o risco de desmoronamento da fachada do Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, zona norte, atingido por um grande incêndio na noite de domingo (2).
De acordo com Robadey, a estrutura feita em pedra dá certa tranquilidade ao serviço final de controle dos focos de incêndio. O fogo foi controlado por volta das 4h, cerca de seis horas após o início do incêndio.
"As paredes da estrutura original, do fim do século 18, têm quase um metro de espessura. O material utilizado naquela época também é resistente à altas temperaturas. Nesse momento, não acreditamos em danos estruturais e risco imediato no que diz respeito à fachada", disse.
No entanto, o comandante não descarta a possibilidade de risco de desabamento dos andares e pavimentos construídos posteriormente à obra original.
"Existem mezaninos e até paredes feitas em gesso recentemente, mais frágeis. Tudo está sendo avaliado com cuidado", declarou Robadey.
A operação de combate às chamas foi feita pelo batalhão de São Cristóvão com o apoio de mais onze quartéis da região.
Segundo Robadey, hidrantes estavam sem pressão no início da operação, o que prejudicou o combate. Então eles usaram bombas para sugar a água de um lago do entorno do museu.
Funcionários e alunos choram a destruição do museu
Desde o início da manhã, funcionários do museu e alunos choram a destruição do acervo.
Professor de geologia do museu, Renato Cabral Ramos chegou no local por volta das 21h deste domingo. "Soube por uma amiga que mora aqui perto. Vim correndo. Vi a agonia dos bombeiros sem água para trabalhar, enquanto o fogo crescia. Quando eles começaram a trabalhar, de fato, a parte frontal já estava em chamas. Só senti algo parecido quando perdi os meus pais”, disse.
“Esse é o resultado de uma sucessão de omissões desde 1892 (ano em que o museu saiu da antiga sede, na praça da República, e se instalou na antiga residência da família real portuguesa). Os governos republicanos foram omissos. Deu nisso", afirmou Ramos emocionado.
A estudante Júlia Alves, mestranda em antropologia social, lamentou o fim da biblioteca e a incineração de pesquisas.
"Tínhamos uma das melhores bibliotecas da América Latina em antropologia. Agora é pó. O acervo de etnologia era singular. Só quem viu, viu. Não vamos recuperar isso. É lamentável", desabafou.
Acervo tem 20 milhões de itens
O Museu Nacional é vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro, e completou 200 anos em 2018. Seu acervo tem mais de 20 milhões de itens.
Especializado em história natural, é o mais antigo centro de ciência do Brasil e o maior museu desse tipo na América Latina.
A instituição foi criada por Dom João VI, em 06 de junho de 1818, e foi inicialmente sediada no Campo de Sant'Ana. Segundo seu site, "como museu universitário, tem perfil acadêmico e científico".
O maior tesouro do Museu Nacional é o esqueleto mais antigo já encontrado nas Américas, com cerca de 12 mil anos de idade. Achado em Lagoa Santa, em Minas Gerais, em 1974, trata-se de uma mulher que morreu entre os 20 e os 25 anos de idade e foi uma das primeiras habitantes do Brasil.
O crânio de Luzia e a reconstituição de sua face - revelando traços semelhantes aos de negros africanos e aborígines australianos - estão em exibição no museu. A descoberta de Luzia mudou as principais teorias sobre o povoamento das Américas. É considerado o maior tesouro arqueológico do país.
Também exposto no saguão do museu está o maior meteorito já encontrado no Brasil, o Bendegó, com 5,36 toneladas. A rocha é oriunda de uma região do Sistema Solar entre os planetas Marte e Júpiter e tem cerca de 4,56 bilhões de anos. O meteorito foi achado em 1784, em Monte Santo, no Sertão da Bahia. Na época do achado era o segundo maior do mundo. Atualmente, ocupa a 16ª posição. A pedra espacial integra a coleção do Museu Nacional desde 1888.
As múmias também estão entre os grandes destaques do acervo. O corpo mumificado de um índio Aymara, grupo pré-colombiano que vivia junto ao Lago Titicaca, entre o Peru e a Bolívia, abre a série de múmias andinas do Museu Nacional. Trata-se de um homem, de idade entre os 30 e os 40 anos, cuja cabeça foi artificialmente deformada, uma prática comum entre alguns povos daquela região. Os mortos Aymara eram sepultados sentados, com o queixo nos joelhos e amarrados. Uma cesta era tecida em volta do defunto, deixando de fora apenas as pontas dos pés e a cabeça.
O Museu Nacional tem a maior coleção de múmias egípcias da América Latina. A maior parte das peças foi arrematada por D. Pedro I, em 1826. São múmias de adultos, crianças e também de animais, como gatos e crocodilos. A maioria é proveniente da região de Tebas. Lápides com inscrições em hieróglifos também fazem parte da coleção.
Palácio foi residência da família real
O prédio onde hoje funciona o Museu Nacional/UFRJ foi uma doação do comerciante Elias Antônio Lopes ao príncipe regente D. João, em 1808, ano da chegada da família real ao Rio. Após a morte de dona Maria 1ª, em 1816, D. João mudou-se definitivamente para o Paço de São Cristóvão, onde permaneceu até 1821.
D. Pedro 1º e D. Pedro 2º também moraram por lá. Com o fim do Império, em 1889, toda a família se exilou na França. O palácio foi, então, palco da plenária da primeira Assembleia Constituinte da República, entre novembro de 1890 e fevereiro de 1891. O Museu Nacional se mudou para o palácio no ano seguinte, 1892.
* Com informações do Estadão Conteúdo e de agências de notícias
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.