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Racismo, homofobia e apologia ao nazismo se repetem em escolas de Minas Gerais

O muro da escola estadual Milton Campos amanheceu com um muro pichado com uma suástica e o número 17 - Reprodução
O muro da escola estadual Milton Campos amanheceu com um muro pichado com uma suástica e o número 17 Imagem: Reprodução

Carlos Eduardo Cherem

Colaboração para o UOL, em Minas Gerais

18/10/2018 18h45

Casos de racismo e apologia ao nazismo estão se espalhando em escolas de Minas Gerais. Na última semana, aconteceram pelo menos quatro episódios em educandários do estado.

Nesta quarta-feira (17), dezenas de pesquisadores, professores e estudantes que participavam do 10º Congresso Brasileiro de Pesquisadores Negros, na UFU (Universidade Federal de Uberlândia), interromperam os debates do encontro para protestar. Os participantes do encontro estavam indignados. A frase “pretaiada (sic) vai voltar pra senzala” foi pichada em um banheiro da universidade, próximo ao auditório utilizado pelos cientistas negros.

“Aí reitor, quero saber, com o fascista o que vai acontecer?”, gritavam em coro os manifestantes, no saguão de entrada da reitoria da UFU.

Assim que tomou conhecimento da ofensa aos participantes do encontro, a reitoria classificou o caso como “grave ato de racismo” e informou que iria acionar a PF (Polícia Federal) para apurar o caso. A reitoria ainda informou que vai abrir uma sindicância interna para apurar o caso.

O DCE (Diretório Central dos Estudantes) da UFU divulgou nota afirmando que ”reconhecer a influência de nosso passado nas nossas relações atuais é o primeiro passo para que nosso presente e futuro sejam transformados positivamente".

Suástica nazista

Nesta terça-feira (16), a direção da Faculdade de Direito da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora) denunciou que frases homofóbicas e desenhos da suástica (símbolo do nazismo) tinham sido colocadas nas portas de um banheiro: “morte aos gays” e “morte aos viados (sic)”.

A direção da Faculdade de Direito publicou nota “lamentando profundamente as inúmeras manifestações de violência e de discriminação, que vêm ocorrendo no nosso país, em clara ameaça à proteção dos direitos fundamentais e dos valores democráticos, especialmente a liberdade de expressão e a proteção da vida e da dignidade humana”.

“Os 30 anos da Constituição Federal estão sendo celebrados em todo país, mas parece que ainda é preciso (re)aprender seus preceitos mais básicos, a exemplo dos arts. 1º e 5º. Nossa faculdade respeita a diversidade, considerando-a um valor a ser preservado numa sociedade democrática, e não aceitará qualquer forma de discriminação ou de violência”, diz a nota da Faculdade de Direito.

A reitoria da UFJF também se manifestou afirmando “repudiar e lamentar veementemente todas as manifestações de racismo, homofobia, misoginia, sexismo ou quaisquer outras formas de discriminação contra a liberdade, verificadas na UFJF e em todo o país”.

O DCE da UFJF, por sua vez, disse que vai combater a “violência fascista” na escola e traçou estratégias. Nesta sexta-feira (19), os estudantes farão panfletagem no campus da UFJF e nos bairros do entorno alertando as pessoas para a importância da defesa da liberdade democrática. No sábado (20), uma passeata partirá da universidade em direção ao centro da cidade.

Número 17 e morte aos gays

Também nesta terça-feira (16), o muro de um dos colégios mais tradicionais de Belo Horizonte, a escola estadual Milton Campos (antigo Colégio Estadual Central), amanheceu pichado com uma suástica, acompanhada de um número 17 e da frase “morte aos gays”.

Por meio de nota, a Secretaria de Educação de Minas Gerais afirmou que tomou conhecimento do caso e que já havia providenciado a pintura do muro.

“A direção da unidade esclarece que o ato de vandalismo ocorreu durante a madrugada e que não há informações sobre os responsáveis”, disse o comunicado.

A direção da escola informou que criará uma comissão para discutir as ações pedagógicas que podem ser desenvolvidas com a comunidade escolar sobre essa temática. Uma das propostas que está sob análise é a criação de desenhos artísticos com mensagens positivas no muro.

Na sexta-feira (12), em um banheiro na Unifal (Universidade Federal de Alfenas) foi pichada a frase “Bolsonaro 17, lugar do preto é senzala”. O responsável também fez alusão ao candidato Jair Bolsonaro (PSL), colocando seu nome ao lado da frase.

A Unifal informou que solicitou à PF para apurar o caso e publicou nota de repúdio ao episódio.

“A reitoria da Unifal reitera o seu apoio e solidariedade a todos que foram ofendidos pela odiosa manifestação bem como o seu compromisso no combate a toda a forma de discriminação e preconceito”, diz a nota da universidade.