Campo de Marte deve fechar após nova queda de avião? Analistas são contra

O acidente com a aeronave Cessna C210 de prefixo PR-JEE, na tarde desta sexta-feira (30), levantou novamente a polêmica sobre a segurança de ter um aeroporto no meio da cidade de São Paulo. Logo após a decolagem do Campo de Marte, o avião monomotor caiu sobre ao menos três casas, espalhou fogo pela rua Antonio Nascimento Moura, em Santana, atingindo carros e caminhões. Duas pessoas morreram (o piloto do avião, Guilherme Murback, 26, e o copiloto, Leonardo Imamura, 43) e 13 ficaram feridas, segundo o Corpo de Bombeiros.

Situado na zona norte da capital paulista, o aeroporto Campo de Marte está em uma região bastante populosa. Desde a década de 1980, houve pelo menos outros quatro acidentes na região com aviões que decolavam ou se aproximavam para pouso no Campo de Marte.

Inaugurado em 1929, foi o primeiro aeroporto da capital paulista. Naquela época, não havia residências no entorno da pista de pouso e decolagem. Com o crescimento de São Paulo, a cidade abraçou o Campo de Marte. Nos últimos anos, prefeitos de São Paulo já tentaram fechar o aeroporto, que atualmente é voltado à chamada aviação geral, que envolve aviões de pequeno porte, helicópteros e táxi aéreo.

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O engenheiro aeroespacial e ex-tenente da Força Aérea Brasileira Shailon Ian discorda da possibilidade de fechamento do aeroporto Campo de Marte. Para ele, o mais importante é entender o perfil das operações e adequá-las para garantir a segurança.

"Não temos de fechar um aeroporto, mas sim fazer uma adequação ao perfil das operações. Dentro da aviação geral, é preciso avaliar quais podem ficar. Os que representam maior risco podem ser impedidos de operar no Campo de Marte, porque a cidade abraçou o aeroporto e a população não aceita mais esse risco. Mas há outras operações que são seguras", afirmou.

O diretor de segurança operacional da Aopa Brasil (Associação de Pilotos e Proprietários de Aeronaves), comandante Miguel Ângelo, ressalta que diversas grandes cidades também têm aeroporto próximo ao centro e em áreas populosas. "Sou contra o fechamento porque a aviação tem um papel econômico muito importante. Todo mundo quer um aeroporto perto porque é um polo de desenvolvimento, mas quando há um acidente querem tirar de lá", afirmou.

Para o comandante, mais importante do que discutir a localização dos aeroportos é avaliar a segurança da aviação brasileira. "Precisamos sempre aumentar a segurança para evitar que isso aconteça", disse.

No entanto, o comandante avalia que a segurança da aviação geral brasileira está dentro dos padrões internacionais. "Se compararmos com os Estados Unidos, que é o maior mercado para a aviação geral, somos iguais, com os mesmos índices de segurança", afirmou.

Por outro lado, o comandante e o engenheiro aeroespacial concordam que os índices de segurança operacional da aviação geral ainda são piores que os da aviação comercial das companhias aéreas. "Ainda há muita diferença em relação ao nível de certificação, de treinamento e manutenção e é de se esperar que a aviação geral tenha mais acidentes mesmo", afirmou Shailon Ian.