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PMs se unem e compram ar-condicionado para menino que sofre com calor do RJ

Policiais militares compram ar-condicionado para menino que sofre de paralisia cerebral - Arquivo pessoal
Policiais militares compram ar-condicionado para menino que sofre de paralisia cerebral Imagem: Arquivo pessoal

Rafael Pezzo

Colaboração para o UOL, em São Paulo

11/01/2019 16h16

O que começou com uma conversa sobre amenidades terminou em uma história de ajuda a um garoto que tem paralisia cerebral. Dois policiais militares do Rio de Janeiro se uniram para ajudar a comprar um ar-condicionado para a família do segurança Marcos Viana, cujo enteado Carlos André Vieira, de 12 anos, vem enfrentando dificuldades para dormir em virtude das temperaturas acima dos 40ºC, que foram registradas nesta semana em São Gonçalo, região metropolitana do Rio de Janeiro.

Tudo começou na última terça-feira (8), quando o Sargento França Junior e o Cabo W. Coutinho faziam a patrulha de rotina no calçadão do Alcântara, no centro da cidade, e se aproximaram de uma loja de bijuteria. Segurança do local, Viana questionou-os sobre como lidavam com o calor, usando a farda. Bem humorado, França Junior respondeu: "Cara, de verdade, eu passo mal até dentro da piscina num calor desse. Odeio isso". Viana, cabisbaixo, confessou: "É, eu também não gosto. Ainda mais porque eu tenho um filho com paralisia cerebral que não consegue dormir com esse calor. Ele fica se debatendo, não consegue descansar. Eu tenho que ficar abanando a noite inteira, para ver se alivio o calor". 

Marcos se referia ao enteado, conhecido como André, que possui paralisia cerebral. A família até tinha um ar-condicionado, mas o aparelho quebrou e, desde então, não conseguiu dinheiro para consertá-lo ou comprar um novo. Os dois ainda dividem a casa com Aline, mãe de André e mulher de Marcos, e outra filha de Aline, que tem oito anos. O segurança ainda tem outros dois filhos, frutos do seu primeiro casamento, mas que moram com a avó.

"Quando eu ouvi ele falar aquilo, foi como uma facada no coração", disse França Junior ao UOL. "Na hora eu já pensei: 'Preciso ajudar esse menino de algum jeito'. Mas eu não poderia fazer isso sem pensar na consequência. Logo perguntei, caso ele tivesse um ar-condicionado, se ele conseguiria arcar com a conta de luz". Viana aceitou a oferta, mas o policial ainda não estava satisfeito. "Vou me empenhar para dar um ar-condicionado para o seu menino", prometeu a si mesmo.  

França Junior conversou com Coutinho, que logo embarcou na ideia. No mesmo dia, a dupla foi a uma loja de eletrodomésticos e comprou o aparelho. "Saí da loja e já mandei mensagem para o Marcos: 'Se prepara, que amanhã levamos o ar-condicionado para o seu filho'", contou o sargento. Viana recebeu o aparelho na quarta-feira (9) e não escondeu a euforia com o presente, mas o mais contente mesmo era o garoto de 12 anos. 

Foi um ato maravilhoso e nós ficamos muito felizes. Hoje meu filho consegue dormir tranquilo, sem incômodos e está em uma paz danada. Pude perceber a felicidade pelo olhar dele. Eu faço tudo por esse menino, levo no médico, compro fraldas, remédios. Eu trabalho para ele, e Deus me sustenta com forças para ajudá-lo

Marcos Viana, que ganhou um ar-condicionado para ajudar o enteado André

Assim que soube do presente, Viana enviou uma mensagem para França Junior. "Ele me mandou uma foto com a reação do menino ao saber que ia ganhar um ar-condicionado. Foi muito emocionante", lembrou o sargento, que se disse muito surpreso com a repercussão da história. "Colocaram em uma página no Facebook daqui da região e isso bombou muito rápido. Penso que não fiz o bem só para o menino, mas também para as outras pessoas, que souberam do que eu e o Coutinho fizemos e ficaram muito felizes; ou além, que se inspiraram em nós", disse. 

Motivado por essa primeira ação, França Junior já pensa em formar um grupo em um aplicativo para providenciar, de maneira permanente, itens básicos a pessoas com necessidade. "(Na infância) Éramos muito pobres, e raros eram os dias nos quais eu almoçava. Aos 20 anos, vim para o Sudeste, morei em São Paulo, mas me fixei no Rio. Hoje tenho 47 anos, sendo 23 deles dedicados à Polícia Militar. É muito gratificante poder ajudar o próximo. Isso me deixa muito orgulhoso", explicou. 

Companheiro de França Junior na ação, Coutinho acredita que o ato também pode ajudar a melhorar a imagem da PM junto à população. "Se as pessoas não confiarem mais na polícia, será impossível combater o crime organizado. Sei que a imagem da corporação está muito denegrida, que isso aconteceu durante os últimos anos, mas pudemos mostrar que, debaixo de cada farda, há um ser humano", comentou.