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Tragédia em Brumadinho

Dodge cobra que Vale assuma 'responsabilidades' em reparação por Brumadinho

Eduardo Anizelli/ Folhapress
Imagem: Eduardo Anizelli/ Folhapress

Felipe Amorim

Do UOL, em Brasília

31/01/2019 13h26Atualizada em 31/01/2019 18h56

Após reunião com integrantes do Movimento dos Atingidos por Barragens nesta quinta-feira (31), a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, cobrou que a Vale não espere a atuação da Justiça para reparar os danos ambientais e fornecer assistência aos atingidos pelo rompimento da barragem da mineradora em Brumadinho (MG), na última sexta (25).

Boletim divulgado na noite de quarta-feira (30) pelo Corpo de Bombeiros informava que o número de mortos na tragédia havia subido para 99.

Segundo Dodge, é preciso que as mineradoras assumam "um compromisso" pela segurança nas barragens e para que a reparação dos danos e assistência às vítimas seja feita prontamente, sem que as ações dependam de decisões judiciais. 

"As empresas que exploram essa atividade econômica precisam assumir de forma muito séria o compromisso de zelar diuturnamente pela higidez de cada uma das barragens para que elas não se rompam, para que novas vítimas não sejam atingidas", afirmou.

"E é preciso também cuidar de questões emergenciais, as pessoas estão sem casa, muitas sem condições de pagar um novo aluguel", disse. "É preciso que a vida volte ao normal, e isso não é possível se a empresa não assumir de forma muito clara as suas responsabilidades imediatamente, independentemente de ações judiciais", afirmou Dodge.

A procuradora-geral afirmou que pretende cobrar essa postura da Vale, durante reunião com o presidente da companhia, Fábio Schvartsman, prevista para a tarde desta quinta-feira, na sede da PGR, em Brasília. "Aquele que comete uma infração tem o dever de reparar o dano, e é nessa linha a minha conversa hoje à tarde", disse Dodge.

Também na tarde desta quinta-feira, Dodge deverá se reunir com o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Dias Toffoli. Eles vão assinar uma parceria entre o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e o CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) para acompanhar as ações judiciais relativas à Brumadinho. A ideia é que o CNJ e o CNMP possam ajudar a dar rapidez na atuação da Justiça.

Membro da coordenação nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens, Joceli Andreoli afirmou ser necessária uma maior participação do poder público no licenciamento ambiental e na fiscalização das barragens.

"É preciso ter uma legislação que acabe com essa lógica da privatização do licenciamento ambiental, onde as empresas mineradoras se autolicenciam, onde o Estado não tem instrumentos necessários para fiscalização", disse. "Brumadinho não pode ficar impune", afirmou Andreoli.

Número de desaparecidos pode ser maior, diz coordenador

Joceli Andreoli afirmou após a reunião com Dodge que o número de desaparecidos, hoje estimado em 259, pode ultrapassar 600 pessoas que ainda não fizeram contato com familiares e conhecidos.

"A lista de desaparecidos não está completa, poderemos ultrapassar 600 desaparecidos, como é o caso já levantado em várias comunidades que constatam que o nome das pessoas não está na lista", disse.

Andreoli também criticou o trabalho de identificação de corpos soterrados pela lama, que segundo ele estaria lento.

"Esse processo está muito lento, inclusive se deixou de usar vários profissionais do Corpo de Bombeiros que vieram de outros estados e que não tiveram acesso à lama, a permissão para poder ser mais ágil as buscas dos corpos, que é coisa que causa tanto sofrimento nesse momento", afirmou.

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