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São Paulo: Morador de rua morre em bairro nobre; testemunha fala em descaso

Corpo de homem encontrado morto em bairro nobre é coberto por policiais - Arquivo pessoal
Corpo de homem encontrado morto em bairro nobre é coberto por policiais Imagem: Arquivo pessoal

Beatriz Montesanti

Do UOL, em São Paulo

10/02/2019 18h51Atualizada em 10/02/2019 21h34

Um homem em situação de rua, ainda não identificado, morreu na manhã deste domingo (10) na calçada da rua Apinajés, em Perdizes, bairro nobre da zona oeste de São Paulo, horas após ser visto agonizando por moradores da região. O caso foi registrado no 91º Distrito Policial e encaminhado para o 23º DP para investigação. 

Segundo o boletim de ocorrência divulgado pela Secretaria da Segurança Pública do Estado, um morador do bairro acionou a Polícia Militar às 8h45 após encontrar o corpo. Quando chegou ao local, a PM chamou o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), que constatou a morte.

Ainda segundo o boletim, não havia no corpo sinais de violência. Moradores do bairro disseram aos policiais que viam o homem com frequência e que ele recusou socorro. 

Moradores contestam versão

A versão é contestada por outros moradores do bairro. A empresária Paula Ribeiro e seu marido, o roteirista Adriano Silva, disseram ter acionado o Samu às 12h do sábado (9), a pedido do próprio morador de rua. Segundo eles, a ambulância nunca chegou.

"Meu marido saiu para passear com o cachorro e encontrou o homem passando muito mal na porta do nosso prédio", conta Paula. Adriano subiu para pegar água e frutas, na tentativa de ajudá-lo. Quando voltou, perguntou ao homem, que se identificou como Marcos, segundo o casal, se deveria chamar uma ambulância, ao que ele respondeu que sim.

Paula diz estranhar que o Samu ligou outras duas vezes para o marido dela, às 15h e às 17h de sábado. Nas duas ligações, ainda conforme o relato, um atendente perguntou se o morador de rua ainda estava lá e afirmou que uma ambulância estava a caminho. 

"Nós saímos de casa e na volta vimos que ele tinha saído de frente do meu prédio e ido para o outro lado da rua dormir. Reparamos que ele tinha Coca-Cola e sanduíche. Outras pessoas levaram ajuda. Mas a ambulância não veio", afirmou a empresária. 

Quando acordou neste domingo, o casal viu pela janela de seu apartamento uma viatura da polícia e um corpo coberto no chão. Ao longo da manhã, outras viaturas passaram pelo bairro. "Hoje veio bombeiro, duas ambulâncias, um monte de carro da polícia", diz ela. "É um descaso com a vida e com o ser humano. Muita tristeza." 

Sem identificação

O homem não foi identificado pelo exame de digital no IML (Instituto Médico Legal). Segundo a Secretaria da Segurança Pública, será realizado nos próximos dias um exame de DNA para ver se há algum indício nos bancos de dados da polícia. Se o corpo não for reclamado por alguém nas próximas 72 horas, será enterrado como indigente. 

O que diz a prefeitura?

O UOL perguntou à Secretaria Municipal da Saúde o motivo pelo qual o Samu não realizou o atendimento no sábado, mesmo tendo recebido uma ligação de um morador do bairro. A reportagem também pediu mais informações sobre o procedimento dos profissionais do Samu de retornar a ligação duas vezes, antes de enviar uma ambulância.

Por meio de nota, a assessoria de imprensa da secretaria informou que "a Prefeitura de São Paulo lamenta a morte do munícipe" e que administração "contribuirá com as investigações a respeito do caso". Uma apuração preliminar será feira pela secretaria, segundo a nota. 

Morador de rua - Alberto Rocha/Folhapress - Alberto Rocha/Folhapress
Moradores de bairro de São Paulo passam por barraca montada em calçada
Imagem: Alberto Rocha/Folhapress

Moradores de rua mobilizam bairros nobres

Reportagem da Folha publicada neste domingo mostra que o número de solicitações feitas à prefeitura para atender moradores de rua em bairros nobres aumentou. Grupos de residentes têm se organizado para prestar auxílio às pessoas nessa situação - estimadas, hoje, em 20 mil na cidade de São Paulo.